Reajuste dos petroleiros: INPC fecha em 10,42% em agosto, maior inflação anual desde 2004

Por Eric Gil Dantas, economista do Ibeps

Por Eric Gil Dantas, economista do Ibeps e doutor em Ciência Política

O IBGE divulgou hoje o resultado da inflação para agosto de 2021. Enquanto o INPC fechou em 10,42%, o IPCA ficou em 9,68%. Este é o maior INPC para o mês de agosto desde 2001, e o maior acumulado nos 12 meses, fechados em agosto, desde 2004, ou seja, em 18 anos.

É importante lembrar que para os petroleiros o reajuste acordado no último ACT ficou vinculado ao INPC.

Como podemos ver no gráfico 1, a inflação está totalmente descontrolada atualmente. Só em 2003 que o INPC acumulado para este mês foi superior aos 10,42% deste ano, ficando em 17,53%. A média do INPC para o período que vai de 2004 a 2020 foi de 5,38%, ou seja, metade da inflação que tivemos agora.

Gráfico 1 – INPC acumulado de 12 meses encerrados no mês de agosto (entre 2003 e 2021)

 

Fonte: IBGE

A maior explicação para a inflação brasileira continua sendo alimentação, energia elétrica e os combustíveis derivados de petróleo, este último gerado pela política de preços da direção da Petrobrás e a grande desvalorização do Real desde 2019 – de janeiro de 2019 até hoje o Dólar já se valorizou 38% diante do Real. O primeiro se refere principalmente ao ciclo de aumento do preço das commodities e o câmbio desvalorizado, e o segundo à crise hídrica (64,9% da matriz energética brasileira é hidráulica).

Se alimentar no Brasil ficou 13,94% mais caro, com o aumento de óleo e gorduras em 47,78%, carne em 30,77% e cereais, leguminosas e oleaginosas em 25,39%. Os combustíveis para transporte (gasolina, diesel, etanol e GNV) subiram 41,33% nos últimos 12 meses. Já os combustíveis domésticos (o qual o GLP tem o maior peso) subiram 30,22% em 12 meses. Para complicar, a energia elétrica também teve grande subida, de 21,08%. Sabemos que estes componentes continuarão encarecendo (nova bandeira vermelha para a energia elétrica e preço dos combustíveis em ascensão – como nos mostram os dados da ANP), o que continuará fazendo a inflação estourar. Para o fim do ano, o Boletim Focus do Banco Central prevê o IPCA em 7,76% - uma previsão ainda bastante otimista.

Brasil com uma das maiores inflações do mundo
Recentemente, o ministro da Economia minimizou o problema da inflação brasileira, afirmando que “A inflação está subindo no mundo inteiro” e que uma taxa de 7% ou 8% deixa o país “dentro do jogo”. Para isto citou o caso americano, onde a inflação para o acumulado de 12 meses encerrados em julho ficou em 5,4% (no Brasil para este mesmo período o IPCA foi de 8,99%). No entanto, são casos incomparáveis, pois enquanto o PIB dos EUA cresceu 6,5% no 2º trimestre deste ano, com a retomada pós-Covid e ainda sob efeito dos planos do Biden, o PIB brasileiro retrocedeu 0,1%. Em um levantamento feito pela Austin Rating, dentre 50 economias, o Brasil ficou em 38º em desempenho econômico. Neste mesmo ranking, no primeiro trimestre, o Brasil havia ficado em 19º. Em síntese, estamos rumando para uma estagflação, o pior dos mundos, muito diferente dos EUA.

Além disto, se comparado a outras economias a inflação brasileira também está muito superior. Segundo levantamento realizado pelas Armor Capital/Ceic, dentre 48 economias, o Brasil teve em julho a 4ª maior inflação ao produtor (43,9%), atrás apenas de Argentina, Cazaquistão e Turquia; 9ª inflação ao consumidor (atrás de economias como Irã, Zâmbia e Nigéria); e a 5ª maior inflação se considerarmos apenas o núcleo inflacionário (método que ameniza as grandes variações da inflação). Por fim, em termos de estouro da meta inflacionária, o Brasil só perdeu para a Turquia, Nigéria e Ucrânia, ultrapassando 3,7 pontos percentuais.

A inflação brasileira está sim muito superior ao do restante do mundo, não está “seguindo” a tendência como o ministro quer nos convencer.

Inflação deteriora poder de compra
É importante lembrar que a inflação deteriora o poder de compra do petroleiro ao longo do tempo, como abordamos no artigo “A alta da inflação e o reajuste dos petroleiros”[1]. É um direito do trabalhador manter seu poder de compra, pois caso contrário a empresa estará impondo uma redução salarial por via inflacionária. Em um contexto de alta inflação, como se vive hoje, esta é uma luta que não podemos dar trégua.

[1] http://www.sindipetrolp.org.br/imprensa/artigos/91/a-alta-da-inflacao-e-o-reajuste-dos-petroleiros