Sobre o resultado da Petros em 2019

Por Ronaldo Tedesco

A Diretoria Executiva da Petros está divulgando o resultado da Fundação e, em especial, dos seus principais planos em 2019. O Valor Econômico, no dia 6 de março, publicou matéria com o título “Petros fecha 2019 com maior rentabilidade em 12 anos”, que reproduzimos abaixo:

“A Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, encerrou 2019 com rentabilidade de 20%, a maior em 12 anos. Todos os planos administrados pelo fundo de pensão bateram as metas atuariais. Segundo a fundação, o resultado rentabilidade reflete a maturação dos ajustes feitos na área de investimentos.

Os planos de benefício definido da Petros - PPSP-R e PPSP-NR - tiveram ganhos de 23,06% e 22,32%, respectivamente, ante objetivo de 9,8%. No PP-2, de contribuição variável, o resultado foi de 14,63%, acima da meta de 9,89%.

Nos PPSPs, a renda fixa avançou cerca de 24%, quatro vezes mais do que o CDI (5,96%). O desempenho é atribuído à gestão ativa dos ativos. De acordo com a Petros, foi feito trabalho de alongamento dos prazos das NTN-Bs, que se beneficiaram com a melhora da economia.

A renda variável teve alta de 31,24% no PPSP-R e 29,37% no PPSP-NR, ante valorização de 31,58% do Ibovespa no período. Os fundos de investimentos em participações (FIPs) tiveram queda de 17,15% nos dois planos.
Já no PP2, a renda variável subiu 34,81% e a renda fixa, 10,82%. Grande parte da carteira de títulos públicos está marcada na curva.”


Bastou moralizar? Não é bem assim!

Os resultados dos planos de benefícios PPSP-NR, PPSP-R e PP-2 foram, de fato, excepcionais. Ainda não temos dados de outras fundações, mas em breve teremos a condição de fazer uma comparação com outros planos de outras Fundações, assim que estas divulgarem os resultados de 2019. Essa comparação já foi solicitada por nós no Conselho Deliberativo da Petros.

Alguns participantes e assistidos, justificadamente muito irritados com toda a história recente da Fundação, não têm saboreado inteiramente esses resultados, preferindo comentar que “basta moralizar ou colocar pessoas do mercado que os resultados aparecem...”.
Se fosse assim, teria sido muito fácil resolver. Mas não é assim.

Em primeiro lugar, é importante entender que profissionais do mercado vão embora quando aparecem outras oportunidades. Foi assim com todos os que a Petros contratou nos últimos anos. Foi preciso gerar atratividade para que profissionais gabaritados permaneçam na Fundação.

A discussão é mais profunda que somente colocar “gente do mercado”. Esses profissionais também cometem erros técnicos ou morais.

Os gestores e técnicos contratados precisam trabalhar com afinco para Fundação. E a Petros precisa ter processos e controles capazes de criar um ambiente de trabalho seguro, que possa prevenir riscos desnecessários e enfrentar com eficácia os riscos inevitáveis, com possibilidade de manter-se atrativa para esses profissionais.

Precisamos, portanto, procurar pessoas com capacidade técnica, mas também que mantenham o compromisso de levar o barco adiante. Ao mesmo tempo, a organização como um todo precisou ser aperfeiçoada, em seus processos e mecanismos de controle de modo a não depender de tal e qual profissional. A “máquina” precisa rodar, independente de quem esteja no comando.

Nossa expectativa é que os procedimentos de contratação, através de avaliação curricular e entrevistas seletivas, que temos implementado, sejam mantidos e aperfeiçoados, permitindo que a escolha dos diretores e dos profissionais técnicos seja a partir da qualificação e do compromisso que possamos despertar nos mesmos. Esse trabalho é permanente e estamos somente no seu início.

Importante entender que, esse processo seletivo pode ser utilizado independentemente de ser um processo somente de contratação ou um processo eleitoral em que os candidatos sejam pré-qualificados para serem escolhidos.

Precificação e Auditorias

Como o Conselho Fiscal da Petros veio alertando durante os últimos anos, havia uma sobre precificação dos ativos. O valor registrado na contabilidade não era o valor “justo” (se bem que o conceito de valor “justo” é muito impreciso).

Foi muito importante que a Petros tenha promovido uma mudança substancial na metodologia de precificação de seus ativos. Muitos destes sofreram impairment (depreciação ou redução do valor contábil), quando adotamos uma metodologia de depreciação consolidada dos ativos.

Para encontrar o tal valor “justo”, a metodologia adotou a precificação a mercado. E, ainda, para mitigar erros, quando o ativo não possui preço à mercado, a Petros tem adotado um critério mais seguro de realizar o seu valuation (sua análise interna), comparando a mesma com o valuation adotado pelos gestores e administradores desses ativos e, caso haja uma diferença expressiva entre as duas análises, buscar uma terceira opinião externa.

Tudo isso tem sido feito e submetido ao crivo de auditorias independentes e validação externa de números, tanto dos ativos como do passivo. Inclusive, no final do ano passado foi encerrada a auditoria do contingente judicial e dos depósitos judiciais que foram objeto de ressalvas por parte da KPMG, a empresa que faz a auditoria independente das contas da Petros.

Melhorias dos Processos e Controles Internos

Ao longo dos últimos anos em que estamos renovando toda a equipe de investimentos, buscando os melhores profissionais e valorizando os mesmos, temos empreendido uma significativa modificação de todos os processos e controles internos de forma a impedir que os erros que foram detectados nos últimos anos fossem repetidos. Realizamos um planejamento de investimentos baseado em riscos, valorizando a Política de Investimentos da Fundação como um instrumento de determinação do “apetite a risco” dos planos de benefício de acordo com a maturidade de cada um.

O Vento soprou a favor e as apostas foram corretas

Em quarto lugar, e decisivo: o vento soprou a favor, cinco anos depois, favorecendo nossa posição e a correção de nossas previsões. Sem isso, tudo de correto que foi feito não teria dado em nada. A Petros poderia ter os melhores processos, mas sem acertar a previsão o resultado não apareceria.

Com os resultados de 2019, conseguimos, nesse PED alternativo recentemente aprovado, a redução dos percentuais das contribuições extraordinárias em quase um porcento (uma redução de 8 a 10% dos valores que serão cobrados). Portanto, a contribuição extraordinária já foi menor em função dos resultados 2019. A medida em que os resultados forem aparecendo, poderemos reduzir esse esforço extraordinário dos participantes e assistidos.

Nunca é demais lembrar que a Petros já está realizando diversas ações de cobranças de dívidas, além de estar apurando os motivos para as perdas registradas em seus ativos de forma a poder buscar o ressarcimento dos responsáveis. São duas atividades estratégicas que precisamos estar atentos e acompanhando o tempo todo.

As entidades representativas dos participantes e assistidos da Petros tem também ajuizado ações que buscam a reparação ou ainda a cobrança de possíveis dívidas das patrocinadoras com os planos de benefício. Temos muito trabalho pela frente na Petros. E as entidades podem ajudar também nesse processo.

Redução da Taxa de Juros Atuarial é decisiva

Por outro lado, uma coisa muito importante aconteceu: as taxas de juros atuarial dos planos PPSP-NR e PPSP-R foram reduzidas.

A taxa de juros atuarial é a previsão da rentabilidade dos ativos da nossa carteira que é necessária para conseguirmos pagar todos os benefícios a conceder e concedidos compromissados. Essa previsão tem que estar convergente e aderente à rentabilidade dos ativos, idealmente com uma margem de erro pequena, determinada por lei. Se não conseguirmos atingir essa rentabilidade necessária, o resultado é um déficit técnico que, se atingir determinados patamares legais, precisa ser equacionado.

Hoje o PPSP-R e PPSP-NR estão entre os planos com menor taxa atuarial no mercado (4,37% e 4,43%, respectivamente). Com isso, a Petros não evita, mas reduz a possibilidade de novos déficits.

O ano de 2020 está muito difícil. A crise mundial se somou ao pânico com o COVID-19 (corona vírus) e as bolsas despencaram nesse primeiro bimestre, que ainda está analisando a queda dos juros promovida pelo FED (EUA) e que poderá trazer uma nova redução da taxa SELIC no Brasil.

Temos todas as condições para acreditar que o trabalho na Petros está sendo bem conduzido nesse momento. Essa excelente condição do PPSP, e do próprio PP-2, com a redução das taxas de juros atuarial e o olhar atento dos profissionais e gestores da Fundação ainda nos permitem sonhar (embora seja difícil) em atingir a meta de 2020.

O resultado passado não nos garante resultados no futuro. Mas, como vimos, o resultado não aconteceu por acaso, por sorte, ou por que “foi só moralizar!”. Nada disso! Há muito trabalho duro e dedicação profissional de todos os envolvidos para que esses resultados se apresentassem em 2019 e para que se apresentem também em 2020 e nos próximos anos. Vamos acompanhar.