Com um dos menores custos para produzir derivados das últimas décadas, preços praticados pela Petrobrás batem recordes

Por Eric Gil Dantas, economista do Ibeps

Por Eric Gil Dantas, economista do Ibeps é doutor em Ciência Política

Vivemos um momento delicado na Petrobrás, afinal de contas está difícil convencer a população de que os preços praticados nas bombas e nas revendas fazem sentido. A mando do deus Mercado, a estatal adota uma política de preços que não tem lastro na economia real, aquela praticada no plano terreno, sem sabores e dessabores de especuladores que vivem como parasitas em bolsas de valores e de futuros. Falo daquela economia em que preços são formados por uma operação simples: custos mais um lucro (“normal”), com uma variação dentre o quanto as pessoas demandam e ofertam produtos dentro de um mercado, estabelecido no tempo e no espaço (mas não numa ficção global).

Já tratamos em diversos textos sobre a subida de preços da gasolina, do diesel e do GLP. Neste abordaremos um outro aspecto, os custos da estatal para extrair e refinar seus derivados, e como isto vem totalmente na contramão da subida absurda dos preços dos derivados de petróleo.

O primeiro custo que chamamos atenção é o da extração do petróleo. A descoberta do pré-sal e a sua atual exploração comercial está permitindo uma queda nos custos de extração da Petrobrás, o chamado “lifting cost”. Os custos de produção no pré-sal são 65% menores do que a extração em terra, águas rasas, águas profundas e ultra profundas. Como o volume de óleo do pré-sal vem aumentando exponencialmente, o custo total de extração vem caindo no país. Como nos últimos anos a Petrobrás não publica mais seu custo de extração em reais, multiplicamos o seu custo pelo dólar médio de venda, todos estes dados apresentados nos resultados financeiros da empresa. No ano de 2020, a Petrobrás teve um custo de extração de R$17,94 menor do que a média dos últimos 16 anos, e só em 2009 a estatal teve um custo de extração inferior ao atual.

Gráfico 1 – Custo de extração de petróleo por barril em reais de dezembro de 2020

 Fonte: Petrobras; IBGE [Elaboração própria]

Outro custo importante a ser analisado é o de refino. Publicado trimestralmente pela Petrobrás, o “custo de refino” em 2020 também ficou muito abaixo da média história, também tendo apenas um ano (2014) com um custo mais baixo do que o de 2020. Com o custo 15% abaixo da série histórica, também tivemos o aumento da participação de óleo nacional na carga processada pelas refinarias da estatal, o que faz com que os efeitos do câmbio diminuam.

Gráfico 2 – Custo de refino por barril em reais de dezembro de 2020

Fonte: Petrobras; IBGE [Elaboração própria]

Agora façamos um último exercício, somemos o custo de extrair petróleo e de refinar esse óleo gerando gasolina, diesel, gás de cozinha, dentro outros. Como podemos ver, 2020 é o ano com o segundo menor custo para produzir combustíveis e gás de cozinha na Petrobrás, ao menos desde 2005. Ou ainda, um custo 20% inferior ao à média destes últimos 16 anos.

Gráfico 3 – Custos de extração mais os custos de refino por barril da Petrobrás em reais de dezembro de 2020

Fonte: Petrobras; IBGE [Elaboração própria]

Se produzir gasolina, diesel e GLP no Brasil está mais barato, por que temos que pagar mais caro por estes produtos? Por que na maior crise econômica da história deste país, temos que pagar o preço da gasolina que não víamos desde a primeira metade da década de 2000? Vejamos se o deus Mercado, através de seus vários “empregados”, nos convencerão.