Sobre os resultados financeiros do 1º trimestre de 2021 da Petrobrás

Por Eric Gil Dantas, economista do Ibeps

Por Eric Gil Dantas, economista do Ibeps é doutor em Ciência Política

A Petrobrás publicou nesta quinta-feira (13) o seu resultado financeiro do 1º trimestre de 2021. Nele, a empresa reportou um lucro líquido de R$ 1,167 bilhão para os três primeiros meses do ano. Os números foram aquém das principais previsões do mercado, que estimavam o lucro líquido de cerca de R$ 4,3 bilhões.

O otimismo vinha do aumento do preço do brent e dos altos preços dos derivados no mercado interno. A média do preço do barril neste trimestre foi de US$ 60,90 a um dólar médio de R$ 5,47. Isto é, um barril em reais 39% superior ao trimestre imediatamente anterior, e 48% superior ao mesmo trimestre do ano passado.  Aliado a isto, os Preços derivados básicos - Mercado interno (R$/bbl) subiram 30% em apenas três meses. Estes melhores preços fizeram as receitas líquidas da estatal subirem 14,9% se comparado ao trimestre imediatamente anterior e 14,2% se comparado ao 1º trimestre de 2020.

A subida menos do que proporcional das receitas da estatal relativamente à subida dos preços, decorre das menores vendas totais. Como nos mostra o relatório de produção e venda, a Petrobrás exportou 13,5% a menos e vendeu 7,2% a menos de derivados no mercado interno – se comparado ao trimestre anterior. O último mostrando que o grande aumento de preços arrefeceu a demanda brasileira por derivados a preços tão elevados.

Se a receita subiu menos do que o previsto, a despesa subiu muito mais do que os analistas esperavam. Subida esta explicada principalmente pela despesa decorrente das variações cambiais. Como lembramos anteriormente, o Real perdeu ainda mais força nesse último ano, com desvalorização de 9,6% se comparado ao trimestre anterior. Isto impactou na dívida em dólar. As perdas cambiais somaram R$ 18,727 bilhões, além de perdas de R$ 6 bilhões com hedges.

Mesmo com o consequente avanço do EBITDA Ajustado recorrente (Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização desconsiderando fatores excepcionais, como impairments) – que mostra um cenário mais favorável para a Petrobrás em termos operacionais –, as variações monetárias e cambiais, líquidas diminuíram drasticamente o lucro líquido da empresa.

A Petrobrás chama a atenção para a continuação da diminuição do endividamento, obviamente que às custas de novas privatizações. Neste trimestre tendo assinado a venda de mais US$ 2,53 bilhões em privatizações, como a da RLAM – vendida a preço muito abaixo do mercado, tal como mostraram várias consultorias (inclusive consultorias de instituições financeiras). Mas não anuncia que continua subtraindo ano após ano os seus investimentos. A queda nos investimentos totais em relação ao mesmo trimestre do ano passado é de 21,3%. Uma vergonha.

Por fim, é importante chamar a atenção para a permanente diminuição dos custos de extração para o pré-sal. Se desconsiderarmos o afretamento (que subiram provavelmente por conta do dólar) e as participações governamentais (que subiram devido ao aumento do brent), os custos para extrair óleo no pré-sal estão 0,5% mais baixos do que o trimestre anterior e 3,2% mais baixos do que o 1º trimestre do ano passado. Este óleo, que já representa 69% de todo o petróleo extraído pela Petrobrás, é a verdadeira resposta para mostrar o porquê que a estatal está dando melhores resultados do que antes, mesmo com todas as políticas para entregar a maior empresa do país à amigos e clientes dos seus presidentes e do ministro da Economia.