Segundo o IBGE, petroleiros têm a maior produtividade da indústria brasileira

Por Eric Gil Dantas, economista do Ibeps

Por Eric Gil Dantas, economista do Ibeps e doutor em Ciência Política

O IBGE publicou nesta semana a Pesquisa Industrial Anual (PIA) 2019, documento publicado anualmente desde 1996 e que retrata de forma profunda a situação da indústria nacional.

Sabemos que há anos a indústria brasileira definha, em um processo de desindustrialização. Segundo dados do IBRE/FGV, a indústria de transformação foi responsável por 11,3% do PIB no 1º trimestre deste ano – meio ponto percentual a menos do que o mesmo período de 2019. Em meados da década de 1980, este número era próximo a 25%. Se considerarmos toda a indústria (transformação + extrativista), temos uma participação do PIB de 20,4%, consideravelmente menor do que os 25,6% de 1996 – mesmo com a força das commodities, inclusa nesta conta como indústria extrativista.

Não alarmamos a desindustrialização como um problema econômico por algum fetiche ou qualquer outra subjetividade. A indústria é responsável por pagar salários mais elevados. Segundo a PNAD Contínua do IBGE, o rendimento médio real habitualmente recebido em todos os trabalhos entre fevereiro e abril deste ano foi de R$ 2.532. Já o salário médio da indústria, segundo o PIA 2019 do IBGE, foi de 3,2 salários mínimos (R$ 3.520 em valores de 2021), 39% a mais do que a média geral brasileira. Além disto, a indústria é o polo mais dinâmico em investimentos e inovação. Isto é, quanto menos indústria em um país, pior para a economia.

Como consequência de uma política ultraliberal, continuamos com a destruição da indústria nacional. O número de empresas industriais reduziu em 8,5% de 2013 a 2019. No mesmo período, a quantidade de pessoas ocupadas na indústria diminuiu 15,6%, isto é, 7,6 milhões a menos de empregos.

Mas em meio a tudo isto, um setor ganhou ainda mais protagonismo, amenizando as perdas da indústria brasileira em geral, a de petróleo e gás. A extração de petróleo e gás, que faz parte da indústria extrativa, atingiu 15,2% de participação no valor de transformação da indústria, a maior fatia em dez anos. Já em relação à mão de obra empregada, apenas oito das 24 atividades da indústria de transformação no período de 2010 a 2019 tiveram crescimento, e o maior deles foi a fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (51,3%). A Petrobrás é diretamente responsável por isto, como a maior empresa do setor e a que investiu para que isto fosse possível, descobrindo o Pré-sal e aumentando enormemente a produção de petróleo e gás no país.

Além disto, o petroleiro brasileiro é responsável pela maior produtividade de toda a indústria brasileira. Produtividade aqui é a razão entre o valor da transformação industrial e a quantidade de pessoal ocupado na empresa, isto é, quanto cada trabalhador é responsável por geração de novo valor na economia. Como podemos ver no Gráfico 1, cada petroleiro adicionou, em média, R$ 8,58 milhões em 2019, 4.561% a mais do que a média da indústria em geral, e 4.945% a mais do que a média da indústria de transformação. Este é o setor que, em todos os anos, tem a maior produtividade da indústria, e provavelmente de toda a economia. Já o petroleiro que está na produção de produtos derivados de petróleo e biocombustível, adicionou em novo valor o montante de R$ 952 mil em 2019, 417% a mais do que a média da indústria em geral, e 460% a mais do que a indústria de transformação (o qual a produção de derivados está incluso).

Gráfico 1 – Produtividade do trabalhador por setor da indústria brasileira em milhões de R$

 

Fonte: PIA-IBGE

Por isto este é um setor fundamental para a economia brasileira, é de altíssima produtividade. Em 2019, o setor mais produtivo da indústria foi o de petróleo e gás e o segundo setor foi o de produtos derivados de petróleo! Tudo isto com a Petrobrás a frente. Isto possibilita a geração dos empregos que pagam alguns dos melhores salários da indústria. Por que entregar este patrimônio para empresas estrangeiras e empresários brasileiros bilionários – como o fundo Mubadala dos Emirados Árabes ou os Moreira Salles e o BTG Pactual –, que rebaixarão salários e enfiarão nos seus bolsos os dividendos, ao invés de ir para o Tesouro Nacional financiando educação, saúde e pesquisa? É um setor que pode de gerar investimentos muito elevados, como quando a Petrobrás em 2013 investiu sozinha o equivalente a R$ 150 bilhões em valores atuais, o que permite maior dinamismo à uma economia que está em frangalhos.