Comissão de investigação da RPBC legitima impunidade e assédio moral

De um lado, todo um grupo de trabalhadores alvo de assédio moral, perseguição, truculência e desmandos. De outro, um supervisor que se considera intocável, dono do pedaço, protegido por Deus e o Diabo e, em um plano mais terreno, pelo gerente de produção da RPBC e, por que não, por toda a gerência da unidade.

"Acima" deste cenário, uma comissão de investigação formada após a deflagração de um amplo sentimento de revolta, materializado na existência de um abaixo-assinado com a assinatura de todos - repetimos - todos os petroleiros do Grupo 5 que operam a unidade PR/HDT. Uma comissão, vejam só, formada por gerentes e amigos "isentos" e "neutros", sendo um deles amigo pessoal e pra lá de íntimo do denunciado. Este fato foi relatado à comissão, porém sem efeito.

É claro, o resultado não poderia ser outro: impunidade. Esta é a história de um supervisor que desde meados de 2000 tem causado um transtorno coletivo a diversos empregados da Petrobrás - a quarta maior empresa de energia do mundo, aquela mesma que em seu 60º aniversário gasta milhões em propaganda para convencer os brasileiros que "gente é o que inspira a gente".

Este lema, infelizmente uma grande falácia, está espalhado em todos os canais de tevê do país, em 300 jornais impressos e 200 rádios. A impressão é de que a companhia segue à risca o ditado segundo o qual "uma mentira contada muitas vezes se torna uma verdade". Nos resta apenas essa opção. Afinal, a mesma empresa que se mostra humana e sensível nos comerciais é a empresa que fecha os olhos para casos gritantes de assédio moral, é a mesma empresa que permite a manutenção de um chefe responsável por destruir a ambiência de um grupo de empregados qualificado, de um grupo (assim como todos os empregados da empresa) responsável por produzir a riqueza que move o país.

O casoApós seguidos abusos do supervisor aqui citado, em fevereiro deste ano todos os trabalhadores do setor PR/HDT do Grupo 5 de operação da refinaria (exceto, é claro, os operadores eventuais de supervisão) encaminharam, através do Sindicato, um abaixo-assinado ao gerente-geral relatando de maneira minuciosa os diversos casos de mandos e desmandos cometidos pelo chefe contra o grupo.

Autoritarismo, coação psicológica, desrespeito aos trabalhadores, assédio moral, humilhação, desrespeito ao ACT e ao Código de Ética da companhia (usado apenas para punir os trabalhadores chão-de-fábrica) foram apenas algumas das muitas denúncias feitas por todo o grupo. Diante disso, e da pressão exercida pelos trabalhadores e pelo Sindicato, a gerência foi obrigada a dar uma resposta, mesmo que ainda parcial e limitada: a formação de uma comissão de investigação para analisar o caso.

Esta comissão foi formada e na própria formação já apresentou "vícios", para ficar em um eufemismo, que de antemão acabaram com qualquer possibilidade de uma análise imparcial dos fatos: além de ser composta por gerentes, em uma composição claramente corporativista, que dá total margem para mecanismos de autoproteção e "camaradagem", esta comissão tinha como um dos integrantes um amigo íntimo do acusado. Um completo absurdo!

Eis que quase seis meses depois, após ouvir todos os envolvidos, a empresa comunicou ao sindicato - de maneira informal e sem qualquer documento oficial - que as queixas dos trabalhadores não procediam e que não houve assédio moral ou qualquer abuso por parte do chefe denunciado.

O Sindipetro-LP considera a decisão da empresa, mais do que um erro, uma ofensa a todos os trabalhadores que - mesmo sujeitos a represálias e assediados - resolveram se expor e lutar pelo direito de ter um ambiente de trabalho saudável e sem coações.

Com esta medida, a gerência da RPBC joga no lixo todo o discurso bonito, toda a conversa manjada de que estimula e valoriza a construção de uma boa ambiência. Mais ainda, premia os gerentes que têm como modus operandi assediar e humilhar os empregados.

No pacote de absurdos desta decisão está ainda o fato de que a empresa não se deu ao trabalho nem mesmo de comunicar a decisão aos trabalhadores envolvidos - obrigação, diga-se, regulamentada no Código de Ética da empresa. A mesma gerência responsável por escalar um amigo íntimo do acusado na comissão é aquela que, após longos meses, sequer teve a coragem de dizer aos trabalhadores que não irá fazer nada por eles.

O Sindicato exigiu da empresa um documento oficial com a decisão, inclusive por meio de ofício, mas até agora a empresa se recusa a fornecer este material alegando que o resultado dos trabalhos da comissão é "sigiloso". Ora, mas que contradição! O Sindicato, responsável por encaminhar a denúncia, e os trabalhadores, também responsáveis pela denúncia e alvos da truculência deste supervisor, não podem ter acesso à decisão da comissão!

Com isso, a empresa passa o seguinte recado aos trabalhadores: nós decidimos o que fazer, nós monopolizamos a informação e nos reservamos o direito de fechar os olhos para a realidade e sequer justificar o porquê de nossa decisão. Diante disso, fazemos a seguinte pergunta: é dessa forma que a gerência da refinaria espera construir uma relação de confiança e respeito com os trabalhadores?

Perseguição continua e aumenta... Após o resultado da comissão, o supervisor não esperou muito tempo para iniciar as retaliações. Somado ao sacarmos e ironia, fruto do sentimento de impunidade, este supervisor avaliou de maneira negativa os trabalhadores que assinaram o abaixo-assinado, prejudicando o avanço de nível de todos eles.

Não entendemos como um supervisor, no mínimo sob suspeita, foi autorizado a realizar a avaliação dos empregados que se sentem perseguidos e humilhados por ele. Não entendemos como a gerência da refinaria permite que esta situação não apenas aconteça, mas seja encarada com naturalidade.

Evidentemente, outros chefes e supervisores comemoraram a decisão da gerência e esperam que este caso se transforme em um grande exemplo de impunidade. Na cabeça desses senhores, foi aberta a avenida para mais assédio, mais perseguição e mais autoritarismo.

A eles, à gerência e a todos os trabalhadores honestos que estão indignados com esta situação, o Sindicato dá um mesmo recado: não iremos permitir que chefetes autoritários criem um clima de medo entre os petroleiros.

A categoria tem tradição de luta, a categoria petroleira é forte e se enfrentou com inimigos muito maiores. Não será meia dúzia de supervisores, avalizados por uma gerência conivente e omissa, que irá mudar esta realidade.

Fora, assédio moral! Fora, assediadores!O Sindipetro-LP exige a retirada imediata deste assediador do cargo de supervisor. Mais ainda, exige que não seja feito com ele o que sempre é feito pela companhia com outros chefes. Ele não deve "cair pra cima", desafiando a lei da gravidade, como a empresa gosta de fazer. Deve servir de exemplo, sendo transferido para outro setor sem qualquer privilégio, sem qualquer mordomia. O mesmo rigor que a empresa usa para realizar demissões políticas de lutadores, para punir cipeiros que denunciam irregularidades, a Petrobrás deve usar para punir seus "empregados de confiança". Chega de dois pesos, duas medidas.

Não aceitaremos nenhum abuso, nenhuma impunidade. Este caso, longe de ser uma história isolada, tem se repetido e se espalhado com rapidez cada vez mais perigosa em todo o Sistema Petrobrás. Por isso, é importante que todos os trabalhadores se sintam parte desta luta, que todos os trabalhadores se solidarizem com estes companheiros.

Com união e solidariedade teremos força para derrubar qualquer caso de assédio, qualquer chefe, qualquer plano de privatização, qualquer imposição de rebaixamento salarial. As lutas são muitas, mas a receita para arrancar vitórias é uma só: união e solidariedade. Não por acaso, insistimos em dizer que as ruas nos mostraram o caminho, que as jornadas de Junho nos deram uma grande lição: é possível lutar, é possível vencer!