"Acidente da Reduc era totalmente evitável. Nós, como estrutura, falhamos”

reunião com rh

“Esse acidente foi inaceitável, constava em relatório a precariedade de acesso aos tanques da Reduc para medição. A espessura do teto não era adequada. O acidente da Reduc era totalmente evitável. Nós, como estrutura, falhamos”. Perdemos a confiança nesses tanques que são antigos. Por isso, neste momento, fechamos os acessos a eles. Reconheço cada morte na Petrobrás como falha minha. Em alguns casos ficamos constrangidos”. Essas foram algumas respostas do Gerente Executivo de SMS da Petrobrás, Luiz Eduardo Valente, ao ser cobrado pelos representantes da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), na última sexta-feira (26), segundo dia de reuniões de acompanhamento do ACT 2015. A pauta da reunião envolvia uma longa discussão sobre Segurança, Meio ambiente e Saúde (SMS),  Terceirização e Precarização do Trabalho.

Os diretores da Petrobrás foram enfáticos ao lembrar, tanto o caso do Técnico de Operações, Luis Cabral, morto ao cair em um tanque na Reduc no dia 31 de janeiro de 2016, como o caso do  supervisor de operações elétricas, Rodrigo Antônio de Oliveira, morto em consequência do acidente na Termoelétrica Barbosa Lima Sobrinho, em Seropédica na Baixada Fluminense, no dia 22 de fevereiro de 2015. No caso deste último, por falta de ambulância, o petroleiro foi conduzido ao hospital no carro do gerente da termoelétrica. Ao ser cobrado, mais uma vez, pela ausência de ambulâncias nas unidades da empresa, Valente, de novo, assumiu seu constrangimento.  “Na última vez em que nos reunimos, vocês cobraram as ambulâncias. Fico envergonhado ao escutar a demanda outra vez porque dissemos que faríamos um estudo a respeito e não fizemos”, afirmou o executivo. No caso de Cabral, o gerente reconheceu que o teto do tanque era praticamente uma arapuca, que o acesso pelo teto era a única opção do operador e que se ele tivesse ido acompanhado seriam duas famílias a chorar agora.

O gerente de SMS afirmou, ainda, que a Petrobrás já concluiu o relatório sobre o acidente da REDUC. Os representantes da FNP pediram uma cópia do documento. “Não vejo qualquer problema em que vocês conheçam esse documento”, garantiu o representante da empresa.

FNP faz série de denúncias sobre não cumprimento de cláusulas do SMS
A FNP continuou expondo inúmeras preocupação dos petroleiros com os diversos acidentes seguidos de morte nas unidades da Petrobrás em todos os estados. Luiz Valente reconheceu que o número de acidentes é absurdo. “Nos últimos 11 anos tivemos 1 morte por mês. Nosso melhor ano, se é que podemos dizer isso, foi 2013, com 4 mortes. Abrindo o coração sabemos que sim 85% das fatalidades atinge os terceirizados, isso é claro e precisamos resolver isso. Nós aumentamos o investimento em SMS e, se aumentamos e os acidentes continuam, talvez tenhamos que perguntar se estamos investindo bem. Isso não devia ser um dilema”, afirmou o executivo.

Os representantes da Federação também cobraram providências e soluções para: o negligenciamento da empresa em questões que envolvem segurança do trabalho; treinamento ineficaz, ausência de equipes, sucateamento de instalações, falta de equipamentos (ambulâncias e helicóptero), falta de profissionais especializados para situações de socorro; falta de corpo médico e enfermeiros primeirizados; precarização de equipes; brigadas terceirizadas de baixa qualificação e mal treinados; boicotes às Comissões Internas de Prevenção de Acidentes – CIPA; fim do exame periódico e precariedade no serviço e atendimentos dos novos laboratórios de análises clinicas conveniados.

Como de costume, a comissão de gerentes do sistema Petrobrás anotou e buscou responder algumas questões. Mais uma vez prometeu realizar mapeamentos, consultas internas e tomar providências futuras. Contudo, a FNP e seus sindicatos sabem que só a insistência da luta cotidiana conseguirá que a vida dos petroleiros e petroleiras seja respeitada.

Fonte: FNP

Texto: André Lobão e Stela Guedes