Chefia autoritária e insegurança crônica andam de mãos dadas

UTGCA

Rio de Janeiro, 28 de janeiro. Com direito a coletiva de imprensa, o presidente da Petrobrás Aldemir Bendine anuncia ao mercado financeiro uma “reestruturação revolucionária” na companhia. Dentre as razões, duas se destacam: a promessa de colocar em prática uma redução significativa dos cargos gerenciais e maior preservação da capacidade técnica da empresa.

Caraguatatuba, litoral norte de São Paulo, 10 de março. Na UTGCA, um supervisor de operação invade a reunião de SMS sem ser chamado. Pouco importa o claro desrespeito ao Sindicato, uma vez que este fórum está previsto em ACT e dele participam a representação dos trabalhadores e a gerência da unidade. Visivelmente transtornado, quer saber quem está falando mal dele.

O motivo de tanta revolta foi o pedido de um representante dos empregados na CIPA para que a empresa retirasse um armário que estava obstruindo uma porta projetada para ser a saída de emergência. Uma decisão coerente, alinhada com os padrões de segurança da companhia, mas que tinha um “defeito”: colocava em xeque a autoridade e os desejos do “pai da criança”, justamente o supervisor descontrolado, que sem mais nem menos decidiu que ninguém poderia passar por aquela porta. Indignado, chegou a dizer que mandaria embora qualquer um que passasse por aquela porta. A Petrobrás está assim: repleta de chefetes que se sentem os donos do mundo.

Portanto, se para a imprensa ficou a impressão de uma decisão promissora, para os trabalhadores em nada ajudou a iniciativa de “reestruturar” a empresa. Pelo contrário, parte da política de desinvestimentos, a reestruturação se reflete nas áreas operacionais com precarização.

A UTGCA vive em constantes mudanças – infelizmente, não para melhor. Uma das mais recentes anunciadas pela gerência de operação da UTGCA é que não existe número mínimo nas unidades de processo. Isso mesmo. Se algum dia faltar 50% do efetivo, por exemplo, mesmo assim a unidade operará normalmente. É uma forma, sem dúvidas, de avisar indiretamente que as horas extras acabaram. Sabemos que hora extra não é bom, queremos que a empresa não precise e que os trabalhadores sejam valorizados no salário base.

Entretanto, a unidade entra em parada de manutenção nos meses de março e abril e mesmo com o número maior de operadores que dispomos, devido às últimas transferências, aos supervisores sobrará hora extra. Ou seja, está longe de ser eliminada a política de privilégios dentro da Petrobrás e a UTGCA é um reflexo disso.

Prova de que tais privilégios, infelizmente, não são pontuais está no aumento de cargos de confiança na unidade. Pouco se importando com o enxugamento defendido por Bendine, que anunciou corte de 40% no número de cargos comissionados na companhia, incluindo aí de supervisor a diretor, a UTGCA sai de 10 supervisores para 15 e de 3 coordenadores para 5. Se fizermos a conta, um acréscimo de mais de 50% nos cargos comissionados numa unidade que, além de pequena, ainda tem a possibilidade de ficar vários meses com quatro de suas seis unidades paradas por falta de oferta de gás. Isso porque o gás do pré-sal que hoje a UTGCA recebe será desviado para outra planta da Petrobrás, em Cabiúnas-RJ.

Ainda sobre o aumento dos supervisores, se para a operação as condições de trabalho são penosas, para os chefes não. Logo após colocar um supervisor a mais por grupo, a sala da supervisão foi devidamente ampliada e montada toda a estrutura para o recebimento do novo “chefe”. Enquanto isso, a operação trabalha em containers que não suportam o número de operadores com cadeiras quebradas. Não é de hoje o estado precário das habitações na UTGCA, a unidade é conhecida por prédios mal-acabados e vestiários improvisados.

Hipóteses e conclusões
Se a UTGCA for consequente com a política oficial da empresa, podemos desenhar o seguinte cenário: os empregados convidados para assumirem cargos de chefia estão sendo enganados e não serão promovidos.

Mas existe outro cenário, que admitimos como bem provável também: a invenção desses cargos tem como função formar um grupo de contingência maior. Afinal, durante a greve na UTGCA houve adesão total da operação (exceto os supervisores). Diante disso, a planta teve de ser operada por engenheiros e técnicos de manutenção. Neste caso, estaríamos falando de estelionato trabalhista, se é que existe a expressão, porque se confira a seguinte situação: o gerente abusa de um pseudo-poder e alicia pessoas para o seu grupo em troca de promessas que não poderá cumprir.

A despeito de todas as medidas anunciadas para agradar ao mercado, e das hipóteses colocadas aqui, o fato é que a UTGCA (e este problema se estende às outras bases do Sindipetro-LP) continua com graves problemas de automação nas unidades, sem um sistema de gerenciamento de alarmes adequado e, não menos grave, a mercê de uma gerência truculenta e assediadora que quer a qualquer custo submeter a categoria a suas exigências e caprichos. Chefia autoritária e insegurança crônica andam de mãos dadas!

Não admitiremos que chefetes desqualificados soltem frases do tipo: ”se essa empresa fosse privada uma meia-dúzia eu mandava embora”, como já ocorreu na UTGCA. É inadmissível! Não é essa empresa que ajudamos a construir, não é essa empresa que defendemos. Por isso, a luta que os trabalhadores da UTGCA devem travar é parte de uma batalha muito maior, que envolve a luta contra o desinvestimento e a luta contra a entrega do pré-sal. Os desafios são gigantes, mas nós podemos vencer.