Parente: “Não acredito em solução para a Petrobrás sem venda de ativos”

Reunião da FNP com o presidente da Petrobrás

Como sempre faz após as trocas de comando na Petrobrás, a direção da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) solicitou uma reunião com o novo presidente, Pedro Parente, que recebeu os dirigentes sindicais na tarde desta terça-feira (12/7) no Edifício Senado (Edisen), prédio no qual dá expediente no Centro do Rio de Janeiro. A reunião, como não poderia deixar de ser, teve como assuntos as demandas da categoria petroleira e também da sociedade brasileira e contou com a participação dos dirigentes da FNP Emanuel Cancella, Adaedson Costa, Clarckson Messias, Lourival Junior, Rafael Prado e João Gilberto. Pela Petrobrás, além de Parente, participaram os diretores Solange Guedes, João Elek, Jorge Celestino, Roberto Moro, e os gerentes executivos Regina Valle, Luiz Eduardo Valente e Mário Jorge da Silva.

O principal assunto da reunião foi a própria sobrevivência da Petrobrás, da qual dependem todas as demandas da categoria e do país. A FNP criticou o processo avançado de privatização da Petrobrás, iniciado nos governos anteriores e agora aprofundados pela gestão “Temer/Parente”, com venda de ativos e terceirização de serviços e unidades, e também o desinvestimento que vem causando milhares de demissões, retração econômica em diversos estados e municípios e enormes prejuízos para o desenvolvimento e a soberania do Brasil. Em contrapartida, os dirigentes da FNP defenderam a manutenção e ampliação da Petrobrás como empresa integrada de energia, a retomada imediata das refinarias, fábricas de fertilizantes e outras obras paralisadas, a primeirização da força de trabalho e a suspensão de qualquer tipo de privatização e venda de ativos.

Integrada, mas nem tanto
O presidente da Petrobrás reconheceu que há divergências entre as posições da diretoria e dos trabalhadores, apontando como a principal delas o diagnóstico sobre a situação financeira da empresa e as ações a serem implementadas para revertê-la. Na visão da gestão “Temer/Parente”, a Petrobrás está afundada em dívidas quase impagáveis e precisa frear investimentos e vender ativos para conseguir se recuperar. Parente disse ser contra privatização e a favor da Petrobrás ser uma empresa integrada de energia, mas defendeu com entusiasmo a venda das fábricas de fertilizantes, dos poços menores e de parte da BR Distribuidora, além do PL 4567/16, que retira da Petrobrás a operação e a participação mínima de 30% na exploração do pré-sal, pois segundo ele a Petrobrás não pode ser obrigada a investir se não tiver dinheiro para isso.

A direção da FNP discorda dessa posição. Temos conhecimento sobre a dívida da Petrobrás, mas entendemos que vender ativos em um período de crise econômica não é o caminho correto para solucionar este problema, já que a captação prevista é relativamente baixa. A dívida da Petrobrás em reais já caiu mais de 50 bilhões com uma pequena valorização do real frente ao dólar. Quando a diretoria da empresa divulgou interesse em vender ativos no valor de 14 bilhões de dólares isso representava cerca de 47 bilhões de reais. Ou seja, só com a variação cambial desse período já tivemos o mesmo patamar de desalavancagem do desmonte proposto com a venda de ativos.

A FNP entende que a Petrobrás tem um papel estratégico no desenvolvimento socioeconômico do Brasil e precisa investir e crescer mais, com mão de obra primeirizada e cada vez mais qualificada e atuação em toda a cadeia produtiva da energia, “do poço ao posto e ao poste”, como dizem com orgulho os petroleiros.

Petrobrás culpa “crescimento vertiginoso”
A apregoada situação financeira da Petrobrás foi explicada pelo gerente executivo de SMS, Luiz Eduardo Valente, que representou o diretor de RH, SMS e Serviços da Petrobrás, Hugo Repsold Junior. Segundo ele, a culpa do endividamento seria do que classificou como “crescimento vertiginoso” da empresa. Ao longo de sua história, cresceram vertiginosamente na Petrobrás o assédio aos trabalhadores, a terceirização (inclusive de atividades fins) e as denúncias de corrupção, entre outros graves problemas. Mas o crescimento da empresa, da sua abrangência e da contratação de trabalhadores efetivos nunca será vertiginoso. Pelo contrário, a sociedade brasileira quer uma Petrobrás cada vez maior e mais forte.
 

Vale lembrar que o atual presidente Pedro Parente foi conselheiro e presidente do Conselho de Administração da Petrobrás no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o mesmo que acabou com o monopólio estatal do petróleo, criou os leilões e deixou a empresa com cerca de 40 mil empregados próprios, número duplicado nos três governos seguintes. Será que a gestão “Temer/Parente” será a da ponte para o futuro ou para o passado?

Quem está sendo enganado?
A reunião foi marcada por várias contradições por parte dos diretores da Petrobrás. A mais gritante veio do presidente. Parente afirmou que quer uma empresa “grandiosa”, mas durante todo o tempo defendeu sua diminuição com desinvestimento e venda de ativos. Ao ser questionado sobre a inclusão dos novos empregados no PIDV, o representante da diretoria de RH, SMS e Serviços, Luiz Eduardo Valente, afirmou que a Petrobrás está tentando convencê-los a permanecer na empresa, mas defendeu o PIDV sem restrições de tempo de serviço.

Outra contradição que impressionou os dirigentes da FNP foi a declaração da diretora de Exploração e Produção, Solange Guedes, de que a Petrobrás planeja passar para a iniciativa privada os poços que não são lucrativos para a empresa. A quem a Petrobrás quer enganar? Os possíveis investidores que pagarão por um negócio sem potencial de lucro ou os trabalhadores com uma explicação absurda como esta?

Demandas
O secretário geral da FNP, Adaedson Costa, entregou ao presidente da Petrobrás um documento da FNP com propostas dos trabalhadores para a superação da crise da Petrobrás, que foi recebido pela gerente executiva de RH, Regina Valle. A FNP também apresentou uma série de outras demandas e solicitou que fossem respondidas antes do 10º Congresso Nacional da entidade, que acontecerá entre 21 e 24 de julho em Macaé-RJ, mas Parente pediu um prazo maior e se comprometeu a responder a todas as questões em até 30 dias. Além do que já foi citado, o presidente da Petrobrás foi questionado sobre o déficit da Petros, as punições pela greve de 2015, a isonomia no pagamento dos níveis de 2004, 2005 e 2006, a anistia de acordo com a Lei 8878/94, os problemas com o Benefício Farmácia, o não pagamento da PLR neste ano, a retomada das obras paralisadas, o fim da terceirização já determinado pelo TCU e o reconhecimento da FNP como uma das entidades representativas da categoria.

Fotos: Nando Neves
Fonte: Federação Nacional dos Petroleiros (FNP)

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