Estadão: a promíscua relação entre a mídia e o poder

Resposta ao editorial

Editorial sobre a Petrobrás, equivocadamente, desqualifica os petroleiros e a companhia. Um dramático exemplo da parcialidade e mistificação com que os grandes veículos de comunicação tratam a conjuntura nacional

“O fim da farra na Petrobrás”, editorial do jornal Estadão de terça-feira (20/9), nos faz pensar sobre o futuro da democracia do Brasil, dado o poder que os veículos de comunicação adquiriram no mundo contemporâneo. Nunca tantos jornalistas traíram o seu dever em dizer a verdade como na atual conjuntura.

O jornal Estadão, que afirma que os petroleiros vivem de privilégios trabalhistas às custas dos contribuintes, pratica um jornalismo que serve a um governo despótico e que impõe crescentes restrições às liberdades de imprensa de seus profissionais. Um veículo de comunicação que se sustenta num discurso de mercado e na hostilidade aos que representam ameaça para os planos de um governo ilegítimo, envolvido até ao pescoço em escândalos de corrupção, abafados pela mídia aliada.

Um jornal beneficiado pela isenção de impostos na compra de papel para a impressão de jornais, concedido pela Constituição Federal. Além de ter tido representação relevante durante o golpe de 1964 ao endossar a ideia de setores minoritários, mas poderosos, para influenciar a sociedade brasileira. Na época, o jornaleco cevou o golpe e o aplaudiu. Em outras palavras, Estadão do passado foi golpista tanto quanto é hoje.

A narrativa é antiga, pois sataniza a classe trabalhadora e empresas estatais como um antro de corrupção para atender aos interesses do mercado externo. Mas, se olharmos para o passado vamos entender que não há novidade nessa prática. Historicamente, a classe dominante tenta preservar o seu domínio na sociedade.  Portanto, ela não tenta apenas dominar os meios e as formas de produção, mas também os meios e as formas de produção de ideias, os quais são necessários para que ela mantenha o controle social.

Assim, a capacidade de manipulação das notícias pela mídia é, sem dúvida, uma tentativa de ataque aos movimentos sociais e, sobretudo, aos sindicais, a fim de colocar a população contra a categoria. Os barões da mídia captaram essa realidade. Eles dependem de seus leitores e produzem, exaustivamente, mentiras para defender os seus interesses.

O Estadão, uma mídia ultra conservadora, não tem moral para insultar os petroleiros tampouco insinuar que a categoria é responsável pelo mito criado de que a Petrobrás está falida, como muitos querem que a sociedade acredite. O veículo de comunicação em questão mantem seus profissionais em regime de pessoa jurídica (PJ), em que o empregado é obrigado a arcar com boa parte dos custos que antes ficavam a cargo do empregador – isso para não falar na perda de muitos benefícios como décimo terceiro e férias. Querem fazer o mesmo com os petroleiros.

Toda essa trama explica a afirmação do teólogo Leonardo Boff de que o projeto do PMDB, que tem apoio do Estadão e da grande mídia, intitulado “Uma ponte para o futuro”, é um deslavado neoliberalismo de enrubescer e revela o propósito do golpe:  “reduzir o Estado, arrochar salários, liquidar com a política de valorização do salário, cortar gastos com os programas sociais, privatizar empresas estatais, especialmente o Pré-Sal, desvincular despesas obrigatórias da saúde e da educação, reduzir ao mínimo tudo o que tem a ver com a cultura, direitos humanos, mulheres e minorias. O ministério é constituído por brancos e em grande parte acusados de corrupção. Não há mulheres nem negros e representantes das minorias”, afirma. O que, sem dúvida, não é o projeto defendido pelos petroleiros.

Os petroleiros são alvo da mídia porque atrapalham o plano de retrocesso político-social da classe dominante, ao lutar e defender uma empresa brasileira que investe no país e faz ele crescer. A Petrobrás é uma empresa lucrativa, hoje, mesmo sendo uma empresa de capital misto, grande parte da sua arrecadação vai para os cofres públicos e financia muitos projetos importantes. Portanto, diferente do que foi escrito no editorial, o salário dos petroleiros e direitos trabalhistas devem ser justos sim, pois são eles que sujam suas mãos com petróleo para fazer o Brasil crescer.

Como empresa estatal, investe milhões em pesquisas, nos esportes, na cultura, etc. Se for privatizada, todo esse investimento acabaria sendo destinado apenas para atividades que atendem ao interesse privado e não, necessariamente, as áreas importantes para o povo.

Desde a descoberta do pré-sal, as reservas de petróleo são suficientes para abastecer o país pelo menos nos próximos 50 anos. Há muita especulação no debate sobre fontes geradoras de energia, mas é fato que o petróleo continuará sendo, por muito tempo, a principal fonte da matriz energética mundial.

Diferente do informado no editorial do Estadão, no governo Lula, para esse enorme pré-sal, começou um novo regime de partilha, em que a Petrobrás passou a ser a operadora única do pré-sal. Agora, uma pressão enorme chega para mudar a regra da exploração. O Estadão proclama em seu editorial que a farra dos petroleiros tem que acabar e incentiva o desmonte da Petrobrás.

A Petrobrás tem um quadro técnico altamente qualificado, é detentora de tecnologia de explorar petróleo no mar e possui a quarta reserva de petróleo do mundo. Só isso já credenciaria o país para manter o monopólio. Mas, o autor do editorial citado chega a outra conclusão e, como um receituário neoliberal, exalta as leis de mercado.

Os petroleiros não vão admitir tamanha mentira e desrespeito. A categoria vai buscar os seus direitos e seguirá lutando.

Fonte: FNP