No banco dos réus, Parente é alvo de escracho de petroleiros e movimentos sociais

Corrupção

Protesto, organizado pelos sindipetros Litoral Paulista, São José dos Campos e Unificado SP, aconteceu na tarde desta quinta (13), no centro nervoso da capital (SP), a Avenida Paulista

Quem passou na tarde desta quinta-feira (13) em frente ao prédio da Justiça Federal, na Avenida Paulista, na capital de São Paulo, se deparou com um movimento diferente. No lugar dos já habituais homens de terno e mulheres com vestidos sociais, se concentravam em frente ao Fórum Ministro Pedro Lessa dezenas de petroleiros com seus tradicionais uniformes laranjas, além de mulheres e homens de diversos movimentos sociais.

Nem mesmo a forte e rápida chuva que se abateu sobre a cidade desanimou o grupo, que se reuniu para denunciar os escândalos de corrupção envolvendo Pedro Parente e Ivan Monteiro. Ex-presidente da Petrobras e atual presidente da companhia, respectivamente, ambos são réus em três ações populares movidas por Raquel Sousa, advogada da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP).



Do lado de fora, o protesto acontecia com cartazes e intervenções enquanto Pedro Parente, com um total de oito advogados à sua disposição, era questionado sobre negociações extremamente suspeitas. No dia 6 de fevereiro de 2019, será a vez de Ivan Monteiro ser ouvido, no Rio de Janeiro (RJ).

A denúncia
Por meio das ações populares, a FNP busca impedir a venda, sem licitação, da Termobahia (localizada no Município de São Francisco do Conde - BA); do campo de Lapa e da área de Iara (ambos localizados no pré-sal da Bacia de Santos); e da Transportadora Associada de Gás (TAG) – subsidiária integral da Petrobrás – proprietária de gasodutos de cerca de 4,5 mil quilômetros de extensão, localizado principalmente nas regiões Norte e Nordeste do Brasil.

Entretanto, é importante ressaltar o caso mais escandaloso e embaraçoso para Pedro Parente: o Total Gate brasileiro. O ex-presidente da empresa terá trabalho para elucidar a “parceria” firmada com a empresa francesa TOTAL S.A, mundialmente consagrada por corrupção de agentes políticos. Conhecido nacional e internacionalmente por sua suposta expertise nos mundos dos negócios, sobretudo da indústria petrolífera, Parente vem tentando sustentar a inverossímil posição de que não conhecia o passado sujo da multinacional.

Nos Estados Unidos, o que é fato público exaustivamente divulgado, a TOTAL assinou Acordo de Leniência após reconhecer a prática de suborno e corrupção ativa, resultando no pagamento de US$ 245 Milhões como multa. Na ocasião, a petrolífera francesa havia pagado propina a políticos iranianos para obter a concessão do campo de Sirri e South Pars, o maior campo de gás do mundo. Na Itália, altos executivos da TOTAL foram presos por subornar políticos italianos, de olho no maior campo de petróleo terrestre da Europa, e no próprio território francês, foi condenada ao pagamento de multa de US$ 825.000 por corromper funcionários do governo iraquiano.

Ignorando todo esse histórico, o que fizeram Pedro Parente e Ivan Monteiro? Entregara para a Total, a preço de banana, a Termobahia – dona das Termoelétricas de Celso Furtado e Romulo Almeida –, 35% da concessão de petróleo de Lapa e 22,5% da concessão de petróleo de Iara, sendo esta última negociada porUS$ 2,225 bilhões.

A área de concessão de Iara, para ficar apenas neste exemplo trágico, possui volumes recuperáveis que superam 5 bilhões de barris de óleo de excelente qualidade, segundo estimativas da própria Petrobrás. É a segunda maior reserva de petróleo do pré-sal. Levando em consideração o valor do barril de petróleo atual, estimado em quase US$ 60,00, a capacidade de retorno à TOTAL é de US$ 90 bilhões – um negócio da China.

“É preciso que a população saiba que esses desvios comprometem seriamente o país e que a Lava Jato, que prometeu combater esses crimes, nada fez. Simplesmente se recusou a investigar essas denúncias graves. Nós, do movimento sindical petroleiro, seguiremos cumprindo o nosso papel de alertar o povo brasileiro e defender nosso patrimônio. Estão entregando nossas riquezas em negociações fraudulentas e se depender de nós isso não ficará impune”, explicou Adaedson Costa, secretário-geral da FNP e coordenador-geral do Sindipetro-LP.

O protesto foi organizado pelos sindipetros Litoral Paulista, São José dos Campos e Unificado São Paulo, sendo uma continuidade dos esforços de unidade na luta entre as entidades sindicais de petroleiros da região paulista. Também estiveram presentes, reforçando o caráter amplo da defesa da Petrobras e do pré-sal, o Movimento Sem Terra (MST), Frente Brasil Popular e Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB).