Matéria tendenciosa retrata trabalhadores preguiçosos e rotina fácil nas plataformas da Petrobrás

Resposta ao Estadão

Na mira dos interesses estrangeiros, o pré-sal vem cada dia mais sendo noticiado como foco de rentabilidade na produção de petróleo nacional. A própria Petrobrás vem utilizando de estratégias de comunicação para colocar seu carro-chefe em destaque.

No domingo (6), o Estadão publicou uma notícia intitulada: ''Pré-sal: a máquina de fazer dinheiro da Petrobrás''. Nela, o jornal destaca a alta rentabilidade dos ativos da área, indicada há muito tempo pela FNP, Sindicatos e AEPET. Porém, chama atenção o menosprezo da matéria pela operação das Plataformas, no caso a P-66, como se dela pouca importância tivesse o trabalho dos cerca de 160 petroleiros que, isolados no meio do oceano, passam 14 dias por mês trabalhando duro para extrair petróleo a quilômetros de profundidade.

Segundo a matéria “nos corredores da área de produção da maior plataforma do pré-sal, ninguém transita ou manuseia os equipamentos. Ninguém faz força para tirar o petróleo a 9 km de profundidade. Vez ou outra até passa um petroleiro”.

Mais adiante a matéria descreve: “os operadores da plataforma, meia dúzia de pessoas, ficam numa sala de controle, de onde, sentados, no ar-condicionado, monitoram por grandes telas e computadores o funcionamento da embarcação e unidades produtivas. Assim, como acontece com os 150 profissionais que compõem a tripulação, essa equipe se reveza entre o turno da manhã e da noite”.

A verdade é que o Estadão descreve de forma bastante caricatural a atividade apenas dos operadores de Sala de Controle, que são três, de 11 operadores por turno (22 embarcados no total), e não de “150 profissionais”. Todos os demais trabalhadores, completamente ignorados pela reportagem, passam a maior parte do dia fazendo grandes esforços, realizando manobras de válvulas/operacionais, manobras de marinharia ou carregando materiais pelos cerca de 300 metros que tem em média um navio-plataforma (FPSO). São operadores, além de mantenedores, equipe de movimentação de carga, escaladores industriais, taifeiros, etc. Mas para o Estadão não era interessante abordar a rotina desses trabalhadores, afinal enfraqueceria a narrativa preconceituosa. 

A responsabilidade da direção da empresa
É provável que esta noção refletida na reportagem não seja fruto apenas do preconceito do jornal. A própria direção da empresa contribue para a divulgação de reportagens alheias à realidade ao promover um grande teatro durante a visita de veículos de imprensa às suas unidades. É muito comum que apenas gerentes sejam entrevistados, que trabalhos programados para o dia de gravação e/ou reportagem sejam transferidos para o dia seguinte e, por fim, preservando apenas trabalhos essenciais na continuidade operacional.

A tática da empresa talvez seja impedir que os petroleiros, que trabalham sob a pressão do confinamento, das metas e do assédio nas plataformas, demonstrem a realidade aos jornalistas, manchando assim a imagem esterilizada que os dirigentes da companhia querem passar.

A realidade dos trabalhadores que dedicam parte de suas vidas para produção de petróleo na camada pré-sal está longe de não transitar pela plataforma ou manusear equipamentos. Além de todo esforço, os petroleiros ainda estão expostos cotidianamente a possibilidade de vazamentos de gás e óleo, como já aconteceram diversas vezes nas unidades acompanhadas pelo Sindipetro-LP.

Os petroleiros ainda participam de equipes de brigada de incêndio, resgate e primeiros socorros, sendo muitas vezes convocados, estando no período de descanso ou não, a agirem imediatamente em caso de acidentes e incidentes na unidade.

A grande imprensa, muitas vezes inflamada pelos próprios gestores da companhia, costuma colocar o trabalhador petroleiro como marajá, por receberem salários acima da média nacional da classe trabalhadora. A narrativa maliciosa sobre a vida laboral dos petroleiros embarcados deixa de fora o estresse do trabalho confinado em alto mar durante 14 dias, afastado do convívio social e familiar, sob riscos dos mais variados e com grande exposição a agentes nocivos à saúde.

A vida dos embarcados está longe do paraíso pintado pelo Estadão e muito mais próximo da realidade dos milhões de trabalhadores brasileiros que passam seus dias a construir a riqueza do país, mas recebem apenas as migalhas que caem do banquete dos grandes empresários.

Narrar o trabalho na plataforma de petróleo, resumindo a homens protegidos do sol, no ar condicionado, olhando para painéis de comando, além de desonesto, reforça o estigma de que petroleiros são privilegiados, que estão sobrecarregando o estado com seus altos salários e pouco esforço.

A realidade é que estão tentando vender para a sociedade que os ricos campos do pré-sal renderiam mais ao país se fossem distribuídos à iniciativa privada, mesmo que entregando reservas de bilhões de barris de petróleo por R$ 0,01 (um centavo) o litro, como o que foi arrecadado em leilão no governo Temer pelas principais petrolíferas BP, Shell, Repsol, Qatar Petroleum, Statoil e Total em 2017.

A política de preços dos combustíveis adotada pela Petrobrás nos últimos dois anos tem garantido geração de empregos em países como China, EUA, Noruega e França, enquanto nossas refinarias estão sendo fechadas, vendidas ou diminuindo produção para manter os preços altos e tornar a importação de combustível mais barata do que comprar da própria Petrobrás.

Enquanto atacam nossas conquistas, continuamos com mais de 13 milhões de desempregados no Brasil, formando filas quilométricas por vagas em subempregos, em nome de melhores condições para o empresariado lucrar.