Petroleiro morre após tempestade arrancar navio do Porto de São Sebastião

Sindicato lista erros e cobra apuração

O trabalhador próprio, Marcelo Bezerra do Nascimento, marinheiro de convés do Sistema Petrobrás morreu no último domingo (28), depois de passar mal durante manobra de reposicionamento de embarcações (ship to ship) do Navio Milton Santos, que estava à deriva no porto de São Sebastião.  No início da operação, Marcelo informou aos colegas dificuldade de respirar e foi conduzido à enfermaria do navio. Depois do primeiro atendimento, foi levado por uma embarcação até o píer de rebocadores e uma ambulância da SAMU o conduziu ao hospital, onde faleceu.

Risco e consequência
A manobra estava sendo feita em meio à tempestade, que atingiu as cidades do Litoral Paulista no domingo e que causou destruição e morte no Litoral Norte. O mar agitado pelo vendaval que se formou provocou o rompimento da amarração, arrancando o navio do píer, o que obrigou a manobra de reposicionamento da embarcação.

De acordo com o que foi apurado pelo sindicato, as embarcações estavam conectadas entre si por quatro mangotes, sem o sistema de válvula de segurança (safety break-away valve).
 
Os navios desatracaram não somente devido a condições de tempo adversas, mas por estarem as duas embarcações na mesma amarração no píer, o que é uma irresponsabilidade, pois mudanças abruptas do tempo são recorrentes.
 
Houve uma sequência de eventos que potencializaram os riscos e que podem ter contribuído com o mal súbito do trabalhador. Destacamos alguns:

  • Ao desatracar romperam os cabos que poderiam atingir pessoas, equipamentos e a própria Casa de Controle do Píer Sul, onde ficam operadores e os Giaonts.
  • O navio ao desatracar estava completamente à deriva, sem rebocadores, máquina, ou prático e colidiu de raspão com o Dolphin 2 e no costado do navio, como foi possível constatar no dia seguinte ao acidente.
  • Desgovernado dirigiu- em direção ao Pier Norte-berço3, sob o risco de colidir com outro navio e Dolphin 1 do Píer Norte. A sorte ajudou direcionando-o para o canal, varrido em direção a Ilhabela.
  • Tudo indica que houve demora no socorro devido a burocracia do terminal, amparado por procedimentos de ISPS-Code, que tiveram que prestar atendimento via carga seca do porto.
  • Foi determina retracação dos navios, mesmo com ventos maiores de 100km/h, demonstrando total despreparo para esse tipo de eventualidade.
  • Falta de preparo de chefes que, sem saber o que fazer, ficaram gritando com todos, não sabendo lidar com situação.
  • Sem o safety break-away valve havia o risco de rompimento do mangote de conexão e transbordo que estava cheio com aproximadamente 7000 litros de petróleo.

 Para o sindicato, o incidente com a embarcação poderia ter sido evitado se a empresa ouvisse os operadores, que são os especialistas na operação de navios, que não concordam com a forma que as coisas são feitas no terminal.

Embora não seja possível ainda relacionar a causa da morte com a série de erros que se sucedeu - e que será investigado - é fato que as más condições de trabalho no Sistema Petrobrás, causadas pela precarização das instalações, redução de custos operacionais e do efetivo têm cada vez mais provocado acidentes e sobrecarga nos trabalhadores. Os problemas, não raras vezes, são somatizadas em mals súbitos, estresse e outros problemas físicos e psicológicos. O Sindipetro-LP irá acompanhar e cobrar os desdobramentos e desfecho da investigação de mais uma morte no Sistema Petrobrás.

Homenagem da categoria
Durante a mobilização na RPBC ontem (29), contra venda de refinarias, os trabalhadores fizeram um minuto de silêncio em homenagem ao petroleiro. A homenagem será repetida durante os atos que o sindicato irá promover nos próximos dias.

O Sindipetro-LP lamenta a morte do trabalhador e se solidariza com a dor da família de Marcelo e presta aqui sua homenagem.

Marcelo Bezerra do Nascimento, presente!