Já é oficial: privatização da Petrobrás dá prejuízo para o Brasil

Gastos bilionários

Por Eric Gil Dantas, economista do IBEPS
Fonte: Sindipetro São José dos Campos

O resultado da Petrobrás para o 2º trimestre foi marcado por um aumento de 356,4% no lucro líquido da empresa se comparado com o resultado do trimestre imediatamente anterior – um lucro líquido de R$ 19,352 bilhões.

Este resultado pode ser explicado em sua maior parte por conta do valor recebido pela venda da Transportadora Associada de Gás (TAG), que ocorreu neste segundo trimestre, injetando R$ 21,4 bilhões no caixa da empresa. No entanto, a Petrobras obteve sim um resultado melhor neste trimestre do que no início do ano, o que podemos ver na conta “Lucro líquido Recorrente” (que desconsidera entradas excepcionais, como as que são fruto de venda de ativos ou ganhos judiciais), com um crescimento de 10,6%, e no aumento do EBITDA (Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) que subiu 15,5% em relação ao primeiro trimestre. Segundo a estatal, esta melhora se deveu ao aumento do preço do petróleo (Brent) e à desvalorização do real.

É importante destacar que já são visíveis efeitos das privatizações nas finanças da Petrobrás. Para isto trataremos de duas questões: (i) o aumento de custos e a (ii) perda de ativos lucrativos.

A primeira pode ser vista em dois momentos no documento “Desempenho da Petrobras no 2T19”, publicado nesta quinta-feira, 01. A primeira passagem diz o seguinte: “No 2T19, as despesas com vendas e gerais e administrativas foram de R$ 5,9 bilhões, um aumento de 6,0% em relação ao 1T19, principalmente devido ao aumento dos gastos logísticos para a utilização dos gasodutos da TAG (R$ 248 milhões), tendo em vista que a Petrobras passou a pagar pela utilização dos gasodutos após a venda de 90% de sua participação, em junho, e maiores gastos com pessoal em virtude de remuneração variável e concentração de férias no 1T19” (p. 9). Junho foi o último mês do segundo trimestre, ou seja, para utilizar por alguns dias o que a pertencia à própria Petrobrás até o início de junho, a empresa teve que desembolsar R$ 248 milhões! Será que a privatização valeu mesmo à pena, como o governo tanto tenta propagar?

Vejamos uma segunda passagem deste mesmo documento: “A perspectiva de desembolso para o resto do ano de 2019 referente a utilização dos gasodutos da TAG é de R$ 2,9 bilhões e da NTS R$ 2,4 bilhões”. (p. 23). Ou seja, para a outra metade do ano a Petrobrás terá que desembolsar mais R$ 2,9 bilhões para utilizar seus antigos ativos. Recapitulemos: a Petrobrás recebeu R$ 21,4 bilhões com a privatização de 90% da TAG. No entanto, como ela ainda tem que utilizar os gasodutos agora privatizados, ela terá que pagar por seis meses e alguns dias de uso o valor de R$ 3,148 bilhões, ou 14,7% do total que recebeu com a privatização. Neste ritmo, em menos de 3 anos e meio os franceses e canadenses que compraram a TAG já terão recebido em receitas o equivalente ao valor pago à Petrobrás. Obviamente receita não é igual ao lucro, pois há as despesas operacionais. Mas não deixa de ser um indicador de que os estrangeiros fizeram um ótimo negócio. Já a Petrobrás...

Como também pode ser visto na citação acima, o mesmo já ocorre com a NTS, privatizada em 2017. Comprada pela Brookfield, outro fundo canadense, e posteriormente repassada parte para a Itaúsa (Holding do Itaú-Unibanco), os gasodutos da NTS agora representam um custo semestral de R$ 2,4 bilhões para a Petrobrás. Isto impacta nas contas da empresa, aumentando o gasto e diminuindo o lucro.

Já sobre a lucratividade dos ativos privatizados, exemplificaremos a questão com a alienação da BR Distribuidora (mas também poderíamos utilizar os próprios exemplos da NTS  e da TAG). Como já demonstrei em artigo publicado pelo Sindipetro-SJC[1], a BR é uma empresa lucrativa, que teve um aumento extraordinário de sua lucratividade em 2018, chegando a um lucro líquido de R$ 3,19 bilhões, 177% de aumento em relação ao ano anterior. Nesta quarta-feira foi publicado um novo balanço da empresa – o primeiro no pós-privatização – que reafirma o quão lucrativa é a ex-estatal. O lucro do 2º trimestre subiu 14,8% em relação ao mesmo trimestre do ano passado, e seu EBITDA subiu 6,5% se comparado o 1º semestre deste ano com o mesmo período do ano anterior.

Os resultados da Petrobrás e da BR Distribuidora são um soco no estômago de quem realmente se importa com o nosso país. Demos de presente aos estrangeiros e bilionários empresas extremamente lucrativas e fundamentais para a economia e para a democracia brasileira. Mas Paulo Guedes não vai parar, pois já anunicou, em palestra no interior do Rio Grande do Sul, que depois da BR Distribuidora seu foco será a privatização dos Correios, pois segundo fala do próprio ministro nesta palestra: “Quem aqui ainda escreve carta?”.