Com plano de atuar só no Sudeste, Petrobrás extingue dois mil postos terceirizados na Bahia

Desmonte

A desocupação do edifício Torre Pituba (Ediba), em Salvador (BA), confirmada na última sexta-feira (6) pela direção da Petrobrás, irá gerar mais de duas mil demissões de petroleiros terceirizados até o final do ano. Com isso, se aprofunda a destruição da companhia através da redução da força de trabalho, cujo objetivo é tornar a empresa mais atrativa ao mercado e facilitar a venda de ativos.

Para se ter ideia do tamanho da devastação, em 2018 a Petrobrás fechou o ano com 116.065 empregados terceirizados (no Brasil e no exterior). Em 2014, a mão de obra terceirizada era de aproximadamente 360 mil trabalhadores. Os números atuais são inferiores até mesmo ao do fim do período neoliberal de FHC, em 2002, quando havia 121.225 terceirizados.

Além das mais de duas mil demissões de terceirizados, os trabalhadores concursados do edifício em Salvador serão transferidos para outros unidades até novembro. Ainda no caso do efetivo próprio, cabe lembrar que a empresa já estuda a implantação de um novo programa de demissão voluntária.

Em nota, a empresa afirmou que a desocupação “não é pontual em uma região específica e faz parte de uma gestão responsável de recursos”, em mais uma medida prática do que o presidente da empresa, Roberto Castello Branco, já havia sinalizado um mês atrás, em palestra na Associação comercial do Rio de Janeiro (ACRJ).

Na ocasião, Roberto Castello Branco disse que a Petrobrás vai se transformar, até 2022, numa empresa do Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo. Outra grave medida que confirma este plano é a venda de metade do parque de refino, sendo colocadas à venda oito das 13 refinarias da empresa.  Todas elas fora da região Sudeste: Abreu e Lima (Rnest); Landulpho Alves (Rlam); Gabriel Passos (Regap); Presidente Getúlio Vargas (Repar); Alberto Pasqualini (Refap); Isaac Sabbá (Reman), a Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste (Lubnor) e a Unidade de Industrialização do Xisto (SIX).

Concentração no Sudeste favorecerá monopólios regionais privados
Se para os possíveis compradores trata-se de um negócio vantajoso, afinal comprarão a preço de banana ativos valiosos e com equipamentos de alta tecnologia, sendo a Petrobrás reconhecida internacionalmente por sua excelência, para os brasileiros trata-se de um crime de lesa pátria ao facilitar a formação de monopólios privados regionais.

Ao vender refinarias que atendem praticamente sozinhas seus mercados regionais, como é o caso das unidades localizadas no Nordeste, o caminho estará aberto para os grupos privados compradores estabelecerem, sem dificuldade, preço elevados. Não é de se esperar que haja por parte dessas multinacionais “responsabilidade social”, com a preocupação em praticar preços justos. O objetivo é maximizar os lucros.

Em estudo recente sobre os possíveis impactos da privatização sobre os preços dos combustíveis (leia aqui), o ex-engenheiro da Petrobrás e atual consultor legislativo, Paulo César Ribeiro Lima.  lembra que só o estado de São Paulo possui uma relativa concentração de refinarias, sendo onde poderia haver alguma concorrência. “A estatal incluiu em seu programa de desinvestimentos justamente refinarias espalhadas pelo País que atendem à situação de monopólios regionais. Isso consolida a convicção de que as privatizações não trarão redução dos preços do óleo diesel no Brasil”.

Vale lembrar também que mesmo sob a direção de uma gestão entreguista, que vem prometendo publicamente a entrega de nossas riquezas aos EUA, ainda é possível a população e os trabalhadores pressionarem a Petrobrás e o governo federal a adotarem uma política de combustíveis favorável à população. Foi o que aconteceu, recentemente, com a ameaça de greve pelos caminhoneiros. Mesmo que por apenas alguns dias, Bolsonaro se viu forçado a segurar o reajuste do diesel, suspendendo por algumas horas a criminosa política de paridade com os preços internacionais.

“Se as refinarias forem privatizadas, as decisões sobre preços não serão de uma empresa estatal, mas de particulares. Nessa situação, seria difícil uma intervenção em caso de aumento de preços ao consumidor, ficando a população sujeita aos valores estipulados pelas empresas petrolíferas multinacionais”, lembra Paulo.