Uma carta para você, petroleira (o) de nível superior

Viver significa lutar

Quantas vezes você já escutou ou disse a seguinte frase: "você precisa sair da sua zona de conforto"?

A maioria das pessoas procura seguir sua vida pelo caminho mais conhecido, mais estável, menos cheio de incertezas ou surpresas. Viver na zona de conforto é muito mais natural. O nosso cérebro nos impulsiona a ser assim,  a gente se sente bem seguindo hábitos e rotinas.

Mas, sob as inquietações existenciais da modernidade, as pessoas têm sido levadas a refletir cada vez mais sobre seu papel na sociedade ao longo do decorrer da vida.

Desde o Iluminismo, quando a democracia representativa e a noção de fraternidade social foram reforçadas e aprimoradas, não basta mais existir, é preciso também pertencer. E nos dias de hoje, é ainda mais forte a vontade de sentir-se parte de um projeto maior do que nossas ambições individuais, desafio a que o processo civilizatório nos obriga.

Para todas as pessoas que sonham com um Brasil desenvolvido, democrático e solidário, tem sido um desafio diário atravessar a onda de ataques nesse mar revolto da política nacional.

Para nós, petroleiras e petroleiros de nível superior, é fundamental refletir sobre como estamos nos portando diante de questões muito sérias neste momento de discussão de ACT. Uma reflexão sobre nossa responsabilidade individual na construção do país que almejamos. Caso não façamos esse exercício, nossa isenção vai nos cobrar um preço alto, provavelmente difícil de ser pago no futuro.

Não se faz revolução na comodidade. Em outras palavras, não se muda nada significativo sem sairmos de nossas zonas de conforto. Quando nos colocamos à margem da discussão dos nossos direitos, permitimos que pessoas sem escrúpulo e compromisso público direcionem nossas vidas. Como diz uma velha máxima, "quem não gosta de política vai ser governado por quem gosta". E política aqui tem um sentido muito mais amplo do que a partidária. É a política como participação no traçado do futuro.

Nós temos que  reatar o compromisso com a esperança porque quando normalizamos o caos social perdemos a perspectiva de futuro. Sob o aplauso de uns e a impotência de outros, estamos caminhando em direção a uma catástrofe anunciada.

Não podemos achar normal o assédio da alta direção de nossa empresa sobre os detentores de cargo de confiança, obrigando-os a votar em favor de um projeto que, no limite, visa destruir a empresa onde eles e nós trabalhamos. Muitos que tentam naturalizar essa prática autoritária fizeram, num passado não muito distante, discursos indignados a respeito do voto de cabresto nos grotões do país.

Definir o outro pela corrupção e a si próprio pela honestidade, como mostrou a Pesquisa Nacional de Valores de 2017, é uma postura escapista e inútil. Precisamos parar de falar do brasileiro na terceira pessoa e pensar a transformação do Brasil a partir da nós mesmos, assumindo responsabilidade e protagonismo sobre nossas decisões individuais e refletindo sobre o impacto delas no funcionamento de toda uma sociedade.

Sabemos do poder da inteligência humana, mas se ela nos permitiu construir uma empresa do tamanho e da complexidade da Petrobras, ela também pode levar à destruição dessa mesma empresa.

Por mais paradoxal que seja, hoje vemos parte da humanidade agindo em prol de sua própria destruição, tanto por decisões econômicas quanto por práticas industriais e ambientais irresponsáveis. Para evitar a catástrofe, precisamos fazer da empatia uma ferramenta de transformação das relações humanas. Precisamos avançar no desenvolvimento da inteligência coletiva, reconhecendo no outro um semelhante digno dos mesmos direitos que você goza.

Um trabalhador detentor de um cargo de nível superior é, antes de tudo, um trabalhador.

A soberania energética e a geração de riquezas no país que pode garantir um futuro melhor para você, seus familiares, seus amigos e os filhos e familiares dos outros, passa pela suas decisões e seu comprometimento com as discussões do acordo COLETIVO.

A sua liberdade e seu bem-estar são indissociáveis da responsabilidade coletiva. Sem ação organizada, caminharemos para o nosso fracasso como civilização.

O individualismo é o caminho mais curto para tal fracasso.

Não há futuro para uma sociedade que busca equilíbrio emocional por meio (por exemplo) da yoga, da meditação ou da psicoterapia, e ao mesmo tempo nega a existência plena do outro. Não há sentido em "curtir" as falas dos pensadores populares da internet e depois agir negando tais ensinamentos. A vida nos exige coerência entre o que pregamos e o que fazemos.

A inteligência nos permite construir uma solução harmônica a partir dos  objetivos que temos, dos valores que cultivamos, da visão que temos de mundo e do modelo de sociedade que almejamos.

No trabalho vale a mesma busca pela harmonia. Se prezamos nossa vida profissional na Petrobras, o momento nos exige estar juntos com todos que aqui trabalham. Se há abuso de um dos lados na relação empregado-empregador, é preciso combatê-lo.

Vivemos uma realidade crítica para a sobrevivência desta empresa que é um patrimônio do povo brasileiro.

Inegavelmente, viver é deixar marcas. Qual a marca que você quer deixar para a empresa e para o país, que apesar de todos os problemas e deficiências, te ajudou a concretizar os teus sonhos?

Podemos e devemos ser muito mais do que um bípede egoísta em breve e descompromissada passagem por esse planeta.

Com nosso comprometimento e com nossa união podemos levantar diques de coragem para conter a correnteza do medo.

Viver significa lutar.
Você vem?

*Para que não haja represálias ou qualquer outra prática antissindical dos gestores da empresa, optamos por não revelar a autoria do texto
*Foto que acompanha o texto é meramente ilustrativa, registrada durante Ato da FNP no Edisen-RJ, em 2016