Venda da Liquigás aumentará o oligopólio privado do setor

Monopólio quebrado

Por Eric Gil Dantas[1], pelo IBEPS

Inúmeras vezes Paulo Guedes já disse atuar contra os monopólios na economia. Segundo o próprio, o preço do gás natural no Brasil é alto por conta do peso da Petrobrás no setor, e que o preço da energia poderá cair 40% (sic!), caso este monopólio seja quebrado. Além disto, já falou também de quebrar “monopólios” no refino e mesmo no FGTS (!). Curioso que Guedes só se incomode com “monopólios” estatais, geridos pelos governos, que ao menos em tese devem servir à população. Quando aparecem monopólios privados, Paulo Guedes não abre a matraca.

Um preocupante aumento de oligopólio privado ocorrere agora mesmo com mais uma privatização de ativos da Petrobrás, a Liquigás. Empresa de distribuição de gás liquefeito de petróleo (GLP), o gás de cozinha, até então pertencente à Petrobrás, acaba de ser vendida para o grupo formado por Copagaz, Itaúsa e Nacional Gás Butano, pelo valor de R$ 3,7 bilhões.

Como pode ser visto no boletim da ANP “Abastecimento em números”, hoje existem basicamente 5 empresas relevantes no setor: Ultra, Liquigás, Supergasbras, Nacional e Copagaz que, juntas, controlam mais de 93% do mercado. A venda da Liquigás, que possui uma parcela de 21,32% do mercado, para estas duas empresas fará com que a Copagaz chegue a 27% do mercado e a Nacional Gás chegue a 23%, ambas somando mais de 50% do mercado e fechando agora um oligopólio privado formado por quatro grandes empresas.

Nos últimos dez anos, o preço do botijão de gás dobrou de preço no Brasil, fazendo com que pessoas voltassem até mesmo a cozinhar com lenha em várias partes do país. Com a saída da Petrobrás do setor e a entrega de quase toda a venda de gás de cozinha para as mãos de quatro empresas privadas, que têm como objetivo exclusivo a maximização dos seus lucros, o único efeito econômico que podemos esperar – para além da entrega de patrimônio público lucrativo – é o de aumento de preços e a consequente deterioração da vida do trabalhador que depende do GLP para se alimentar.

É importante lembrar que o ex-presidente da Petrobrás, Pedro Parente, já havia tentado vender, no ano passado, a mesma Liquigás para a líder deste mercado, a Ultra, e teve o processo reprovado pelo Conselho Administração de Defesa Econômica (Cade), que tem como função impedir a criação de monopólios. Ou seja, um movimento igual a este já foi julgado como lesivo aos consumidores.

A hipocrisia da política econômica do governo de Bolsonaro se escancaram mais uma vez. Monopólio só se for para seus clientes.

[1] Economista do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (IBEPS), é doutor em Ciência Política.