Petrobrás larga trabalhadores das plataformas à própria sorte e impõe escala perversa

A vida vale mais que o lucro!

Sem qualquer negociação com os sindicatos e diálogo com a categoria, de forma unilateral a direção da Petrobrás resolveu impor uma nova escala de trabalho para os petroleiros e petroleiras que trabalham em alto mar, nas plataformas, como resposta ao coronavírus.

Nesta semana, quem trabalha no regime offshore foi surpreendido com a notícia de que passaria a ficar 28 dias à disposição da empresa, sendo 21 dias embarcado e sete em quarentena em hotel, restando 14 dias de folga. Atualmente, para se ter dimensão da alteração na vida desses trabalhadores, a escala é de 14 dias trabalhados e 21 de folga.

Apesar de ter sido anunciada como uma ação contra o avanço do Covid-19, o que parcialmente pode ser considerado correto, a forma como a empresa vem conduzindo esse processo, assim como os resultados obtidos, demonstra que a preocupação principal tem sido outra: garantir as metas de lucro da empresa com a produtividade das plataformas a todo vapor.

Os desdobramentos nocivos à força de trabalho parecem ser aos gestores efeitos colaterais menores, mas para os trabalhadores não são. Um dos resultados desta escala é, num momento grave e delicado como o atual, impor uma jornada de trabalho ainda mais estressante e penosa a quem já convive com situações adversas em alto mar. E o pior, tendo como principal consequência uma perversidade: o afastamento desses petroleiros de seus filhos, esposas, maridos e pais.

Além disso, se por um lado a nova escala de fato diminui o risco de contagio dentro das plataformas, por outro não oferece nenhum respaldo logístico e financeiro para evitar a contaminação dos trabalhadores durante os processos de embarque e desembarque em terra. Um exemplo disso é o fato de que os petroleiros estão sendo obrigados, por conta própria, a superar as dificuldades impostas pela pandemia para viabilizar o transporte até as bases de terra da empresa, seja o Aeroporto de Jacarepaguá (Rio de Janeiro), seja o Edisa Valongo (Santos, SP).

Sabemos que em tempos de normalidade tem recaído sobre os trabalhadores a responsabilidade para sair de suas casas até essas bases, mas no atual momento se exige outra postura. É inadmissível que a força de trabalho seja abandonada à própria sorte, tendo de se virar sozinha com o estado de calamidade que se encontra o país. Para se ter uma ideia, não há pela empresa nenhum suporte aos trabalhadores em processo de desembarque que já tinham suas passagens de retorno compradas, mas que precisam ser adiadas devido à alteração da escala ou até mesmo ao fechamento de rodovias, aeroportos e rodoviárias.

Cabe ainda dizer que não há, em relação aos embarcados que não passaram por quarentena, nenhuma medida efetiva para impedir que eventualmente levem o vírus às suas famílias. O inverso também é dramático: sem garantir transporte seguro e adequado aos que irão embarcar nos próximos dias não há garantia de proteção ao contágio.

A vida vale mais que o lucro!
A escala imposta pela empresa está distribuída em quatro grupos. Para nós, é plenamente possível mitigar o sofrimento e sacrifício desses trabalhadores aumentando para cinco e até mais grupos, medida que elevaria os dias de folga e convívio junto à família. Evidentemente, tal medida exige responsabilidade social da direção da Petrobrás e sensibilidade para entender que a empresa não gerencia apenas metas de produção e lucro, mas vidas.

Em outras palavras, repetindo o que já exigimos às gerências de outras áreas, como o refino, terminais, termelétricas e unidades de gás, a empresa deve reduzir as atividades de suas unidades operacionais, garantindo o mínimo necessário para sua segurança e atendimento das necessidades essenciais da população. No caso das plataformas, inclusive com o país inteiro em isolamento social, seria possível reduzir a produção e ter um número menor de unidades em alto mar operando.

É essa a saída e não uma escala desumana, imposta inclusive paralelamente a punições e demissões ilegais e arbitrárias aos grevistas das plataformas. Infelizmente, as ações tomadas até aqui pela direção da empresa expressam a lamentável sintonia entre o governo Bolsonaro e a direção que o presidente do país escolheu a dedo para comandar a Petrobrás.

Nenhum deles se preocupa com as vidas, mas sim com o lucro, nenhum deles têm simpatia pelos trabalhadores e mais necessitados, mas sim pela elite que explora nossas riquezas e nosso povo. Mais uma prova disso, na última segunda-feira (23) a imprensa noticiou que em plena crise do coronavírus a direção da companhia propôs aos seus acionistas triplicar o teto para pagamento de bônus aos seus diretores, um aumento de 26,6% na projeção de gastos com salários e benefícios dos executivos. Uma jogada entre amigos, na qual a direção presenteia os acionistas com dividendos generosos à custa da dilapidação da empresa e exploração dos trabalhadores, e os acionistas agradecem aprovando uma mesada vultuosa.

Por isso, também na última segunda-feira (23), a categoria petroleira divulgou uma Carta Aberta à população, denunciando que os gestores da empresa estão se negando a reduzir as atividades da empresa ao essencial (para manter ambulâncias, hospitais, alimentos, por exemplo).

Dentre outros alertas, destacamos o fato de que "com a quantidade de pessoas que ainda circulam sem necessidade pela empresa podemos ser vetores de transmissão, além da hipótese de provocar um adoecimento generalizado que inviabilizaria a continuidade operacional.

Por fim, lembramos que "a Petrobras, como empresa estatal, nesse cenário de crise humanitária, deve cumprir com sua responsabilidade social. O lucro da empresa até agora foi gigantesco e agora o país precisa da empresa para enfrentar essa crise. A importância de ter uma empresa estatal com produção nacional é justamente essa: poder resistir a um cenário de crise global garantindo as necessidades básicas da população. Uma medida importante que pode ser feita pela empresa é subsidiar o botijão de gás. A Petrobras tem que ser do povo brasileiro permitindo um país soberano respeitando quem faz tudo acontecer, quem produz: o trabalhador".

O Sindipetro Litoral Paulista, assim como a FNP e demais sindicatos, seguirão buscando todos os meios políticos e jurídicos para garantir a saúde e a dignidade da categoria petroleira.