EM PLENA EXPANSÃO DA COVID-19, DORIA E PREFEITOS FLEXIBILIZAM ISOLAMENTO SOCIAL

Lucro acima da vida

Frente ao descaso explícito de Jair Bolsonaro diante da Covid-19, o país supera 34 mil mortes (oficiais), tornando-se o terceiro no ranking de óbitos resultantes da doença no mundo. Nas últimas 24 horas, pelos dados do governo, foram 1.473 mortes, uma por minuto em função do novo coronavírus.

Uma tragédia que só não é pior porque a maior parte da população segue se opondo ao que prega e pratica o presidente, que promove aglomeracões, participa de atos golpistas e chama o novo coronavírus de resfriadinho. Diante da perda de vidas inocentes e da maior crise civilizatória do século 21, o presidente diz “e daí””.

Se prefeitos e governadores adotassem a mesma postura a tragédia seria, sem dúvidas, ainda maior. Mas o relaxamento do isolamento social no estado por João Doria (PSDB) indica que o discurso pró-vida da direita "civilizada” não passa da página 2. Diante da pressão dos seus semelhantes (o grande empresariado paulista), Doria coloca em marcha um plano de reabertura mesmo com a epidemia em plena expansão.

Por sua vez, os nove prefeitos da região, descontentes com a classificação da Baixada Santista na faixa vermelha, a pior possível, exigiram a reclassificação para a faixa laranja, que permite a reabertura de algumas atividades. Diante da negativa do governo estadual, também resolveram guardar no armário a vestimenta "humanitária". Indignados, na quarta-feira (3) anunciaram que ignorariam Doria e flexibilizariam o isolamento social. As máscaras caem.

O site Observatório Covid-19 BR, criado por pesquisadores para fornecer análises cientificas sobre a pandemia, divulgou relatório sobre o plano de reabertura em São Paulo, classificando como "temerário qualquer relaxamento de intervenções sem que a epidemia esteja em fase decrescente". A nota aponta também que "as medidas de abrandamento do distanciamento social trazem o risco potencial de um aumento do número de casos, pois quanto maior o número de contatos, mais contágios são possíveis”.

Ou seja, a decisão de João Doria e dos prefeitos da região resultará em mais mortes. E eles sabem disso. Por isso, embora não reproduzam os métodos medievais e as declarações fascistas de Bolsonaro, igualmente sacrificam vidas para defender o lucro. Lembramos também que mesmo quando defendiam a quarentena, foram incapazes de garantir a taxa necessária de isolamento social, que era estipulada em pelo menos 70% e sempre oscilou na casa dos 50%. Além disso, não forneceram testes em massa à população, medida fundamental no combate à Covid-19.

Sabemos que a maior parte da população, abandonada pelo poder público, não tem condições de cumprir a necessária quarentena. O trabalhador informal precisa sair às ruas para sobreviver, mesmo sob risco de contágio, e o que tem registro em carteira não têm outra opção senão seguir batendo ponto para não ser demitido. Na Refinaria de Cubatão, essa obrigação de seguir a “normalidade" já custou a vida de três operários.

A Frente Sindical Classista, em suas últimas lives, demonstrou ser falso o dilema “salvar vidas x economia”. Há alternativas para combater a Covid-19, investindo em saúde, testes massivos e leitos de UTI, e ao mesmo tempo combater os impactos sociais e econômicos da crise. Há alternativas para salvar vidas, empregos e direitos, garantindo também ajuda econômica para que pequenas e médias empresas não fechem as portas. Mas isso não se faz protegendo a elite econômica do país e nem transformando a pandemia em oportunidade de negócios. Paulo Guedes, ministro da economia, foi taxativo: ajudando as grandes empresas, ganhamos. Ajudando o pequeno empresário, perdemos. Tudo se resume a números, cifras, lucro.

A auditoria da dívida pública, assim como a taxação das grandes fortunas são alternativas reais para salvar vidas e ao mesmo tempo impedir o aprofundamento da crise social do país. Mas essas medidas só são possíveis enfrentando os interesses dos grandes capitalistas, do sistema financeiro, daqueles que lucram com a exploração e sofrimento alheio. Se há algo que Bolsonaro, Doria e prefeitos não se dispõem a fazer é sacrificar o lucro do 1% para preservar nossas vidas. A mobilização popular, nossa indignação transformada em ação, é o que pode impor uma outra lógica, a lógica da vida acima do lucro!

Fontes: Frente Sindical Classista