O assédio sexual não cabe entre petroleiras e petroleiros

Denuncie!

É com muito pesar e revolta que o Sindipetro-LP ainda recebe denúncias de assédio sexual vindas de petroleiras próprias e terceirizadas. E sabemos que a situação nos ambientes industriais é pior do que os dados mostram, devido à subnotificação. Esse pode ser um ambiente muito opressor e agressivo, dificultando que as vítimas se sintam acolhidas e fortalecidas para fazerem as denúncias. Pesam sobre as mulheres a vergonha e o machismo, mas em primeiro lugar, é preciso saber: a culpa nunca é da vítima. Toda mulher deve ter garantido o direito ao próprio corpo e a se sentir segura.

É fato também que a falta de diálogo e conscientização sobre o assunto fazem com que muitas mulheres fiquem em dúvida sobre a situação ser ou não um caso de assédio. Legalmente, o assédio é “investida de conotação sexual, não aceitável e não solicitada, ofertas de favores sexuais, busca de contatos físicos ou verbais que estão envolvidos em uma atmosfera hostil e ofensiva”. Mas devido a humilhação e intimidação, muitas vezes é difícil perceber.  Exigir ou sugerir favores sexuais em troca de trabalho, de promoção ou de aumento salarial, situações de rua, que pode ser desde um som ou assovio, passando por palavras ofensivas ou até violação sexual, ou até mesmo fazer perguntas de cunho sexual ou insistir em piadas de baixo calão pode ser considerado assédio. Por isso, registre a situação sempre que possível, busque apoio com amiga e colegas de trabalho, denuncie nos canais apropriados.

O Sindipetro-LP reforça seu posicionamento contra o machismo e o assédio sexual e incentiva que todas as trabalhadoras que sofrerem algum tipo de assédio denunciem. Saibam que o Sindicato estará ao seu lado e oferecerá todo suporte jurídico para denúncias dentro e fora da Petrobrás. E principalmente, estaremos juntos na luta por uma Petrobrás livre da opressão.

Uma luta de todas e todos
Nos últimos anos, a classe trabalhadora tem dado demonstrações impressionantes de luta e resistência por todos os cantos do mundo. Depois da crise de 2008, os ricos e poderosos retiram direitos e atacam as condições de vida dos trabalhadores com uma voracidade maior do que já faziam, para manter suas taxas de lucro. Contra isso, grandes levantes sacudiram Chile, Equador, Honduras, Nicarágua, Haiti, Argélia, Sudão, Hong Kong, Líbano, França, Estados Unidos... em todos eles o protagonismo das mulheres foi inquestionável.

Não é à toa que as mulheres e outros setores oprimidos vêm enfrentando cada vez mais o estado de coisas que aí está, questões específicas como delegacias da mulher, Lei Maria da Penha, campanhas contra o assédio, direito ao aborto, direito à maternidade e à gravidez seguras estão entre os primeiros alvos dos governos que querem economizar com os direitos das mulheres para pagar as dívidas públicas aos banqueiros. Mas além disso, as mulheres também são mais afetadas por ataques mais gerais, como a tentativa de igualar as idades de aposentadoria na reforma da previdência e a retirada dos direitos na reforma trabalhista, visto que estão nos setores mais precarizados na indústria, serviços e comércio.

Pesquisa da Catho mostra que as mulheres recebem menos que os homens em todos os cargos, principalmente nos cargos de maior remuneração, em que a diferença pode passar dos 60%, para as mulheres negras, a situação é ainda pior. No Brasil, estudos do Instituto Patrícia Galvão e IBGE apontam que a cada quatro minutos uma mulher é agredida por um homem, a cada duas horas uma mulher é morta pela violência de gênero e cada 11 minutos uma mulher sofre violência sexual. Mais de 70% das mulheres afirma que uma amiga já sofreu assédio em espaços públicos, e o tempo para chegar ao trabalho influencia na decisão de aceitar ou ficar em um emprego. Entre 20% e 25% das mulheres relatam ter sofrido algum tipo de assédio sexual no ambiente de trabalho. Infelizmente, na Petrobrás não é diferente.

É preciso cobrar da Petrobrás que promova campanhas de conscientização para os trabalhadores homens, bem como que divulgue entre as trabalhadoras os canais de denúncia e garanta que elas não sofrerão perseguição dentro do ambiente de trabalho por denunciar, principalmente nas empresas contratadas. Deve-se garantir às trabalhadoras que esse tipo de prática é inaceitável dentro da Petrobras e que elas podem trabalhar em segurança, inclusive com a punição do trabalhador que comete um ato de assédio. O próprio movimento sindical tem muito que avançar nesse quesito, em campanhas concretas para os trabalhadores, na defesa intransigente dos setores oprimidos e na construção de um ambiente em que as mulheres se sintam confortáveis para ocupar e dirigir

Na grande greve petroleira de fevereiro de 2020, assim como na longa trajetória de luta da categoria, a presença das lutadoras foi constante e fundamental. Se queremos defender a Petrobrás, um patrimônio daquelas e daqueles que constroem a riqueza do nosso país, precisamos de cada petroleiro e petroleira empenhados nessa luta, não podemos aceitar que o machismo afaste as mulheres de nossas trincheiras. E mais, sabemos que só conseguiremos evitar a privatização da Petrobras com uma campanha envolvendo toda a sociedade, portanto, precisamos de todas as trabalhadoras do país ao nosso lado.

Os homens são evidentemente favorecidos pelo machismo de forma imediata, seja com salários maiores, não dividindo as tarefas domésticas ou se aproveitando de forma sexual. Mas temos que saber que o governo privatista de Bolsonaro, os acionistas e as grandes multinacionais são os maiores beneficiados pelo machismo, pois se aproveitam dele para pagar salários mais baixos, retirar direitos, dividir e enfraquecer a nossa luta. Lutar por uma Petrobrás 100% estatal e por uma sociedade justa, sem machismo e exploração é dever de todas e todos nós.