Trabalhadores da P-69 enfrentam incêndio a bordo e garantem a segurança na planta

Lucro acima de vidas

No dia 18 de setembro (sexta-feira), ocorreu na plataforma P-69 um incêndio de médias proporções. Mais uma vez, os trabalhadores da plataforma mostraram quem garante a segurança do processo e das instalações e constrói a riqueza da Petrobrás. Sem que ninguém se ferisse, os trabalhadores engajados na brigada de incêndio combateram com bravura e resguardaram a segurança dos demais trabalhadores.

O combate às chamas durou cerca de uma hora e meia e terminou por volta de 4h40, quando as chamas foram debeladas. Até esse momento, desde o início das chamas, os demais trabalhadores aguardaram nos pontos de reunião. Os brigadistas ainda permaneceram na área até as 5h30. A empresa descreve o ocorrido como “princípio de incêndio”, o que certamente minimiza a gravidade da situação.

O módulo 13, onde ocorreu o incêndio, é uma edificação de três patamares, onde se encontram basicamente salas de painéis elétricos, uma sala com grandes aparelhos de ar-condicionado que refrigeram os painéis e uma sala de transformadores, e uma cobertura onde ficam as baterias de cilindros de CO2, para extinção remota de incêndio.

Segundo os relatos dos trabalhadores, a distribuição das baterias de CO2 atende apenas as salas de painéis, não cobrindo as salas de HVAC nem a de transformadores. Há que se investigar se essa provável falha de projeto não se repetirá nas demais plataformas “replicantes” do litoral paulista.

De acordo com o que foi levantado pelo Sindipetro-LP, na noite do dia 17, os Turbo-Geradores apresentaram duas quedas na geração principal. O tempo para restabelecimento da geração e restabelecimento da energização de cada equipamento foi trabalhoso e demorado, como costuma ser em situações como essa. A primeira queda foi entre 19h30 e 20h, com restabelecimento total próximo das 23h. A segunda queda foi às 23h e seu restabelecimento estava se finalizando quando ocorreu o sinistro, às 2h54 do dia 18. O transformador TF-5143001 B, apresentou problemas durante a manobra de energização. Ao fechar o disjuntor 4B do PN-5143001 B, o operador da área ouviu um barulho incomum. Em seguida, o alarme de emergência soou, indicando o início do incêndio. 

Munida de conjuntos autônomos, a brigada adentrou a sala do transformador depois que todos os equipamentos foram desenergizados, a qual estava totalmente tomada por fumaça negra e sem visibilidade, optou-se por tentar combater primeiro com extintores de CO2 e pó químico, para só depois usar as mangueiras de água. Para o sindicato, certamente, as quedas de energia do dia anterior devem ser tratadas como possivelmente relacionadas à causa do acidente.

Às 7h, ocorreu a troca de turno normalmente, não sendo dado nenhum horário de descanso a mais para ninguém, nem mesmo aos trabalhadores que combateram o fogo. A maioria não teve tempo nem conseguiu dormir depois do incêndio. O Sindipetro-LP cobrará a compensação financeira aos trabalhadores na forma de horas extras, incluindo a compensação pelo interstício não cumprido.

A produção segue parada por tempo indeterminado. O segundo transformador da sala, que atendeu a planta de produção precisará ser limpo e inspecionado para atestar confiabilidade para operar e retomar a produção, o que levará alguns dias.

Cobraremos também que os cipistas da P69 participem da Comissão de Análise do Acidente. Graças aos trabalhadores, não houve vítimas, mas um acidente desse porte coloca em risco a vida dos trabalhadores.

Resposta rápida dos brigadistas garantiu a segurança de todos
Algumas questões veem a tona quando vemos um acidente desse tipo: será que os trabalhadores teriam a mesma condição de combater um incêndio como esse se estivessem embarcados há vinte dias? Certamente a escala de 21 dias imposta pela empresa gera um desgaste físico e psicológico que tornaria muito mais difícil a atuação; será que um treinamento à distância seria suficiente para que os trabalhadores tivessem conhecimento da planta para um combate eficiente? Muitos trabalhadores vêm denunciando que estão em home office forçado, sem fazer parte do grupo de risco, o que parece um castigo principalmente aos grevistas, recebendo "treinamentos". 

Não dá para negar que o treinamento presencial com trabalhadores mais experientes é a base para um conhecimento mais completo da planta e dos equipamentos. Será que um incêndio como esse vai ser combatido com a mesma eficiência depois do enxugamento que a gestão da Petrobrás está promovendo nas unidades operacionais? A experiência daqueles que estão se aposentando não deveria ser repassada aos mais jovens? Não é papel da gestão fazer esse tipo de planejamento? Produzir garantindo a saúde e segurança dos trabalhadores e do meio ambiente é papel de uma petroleira estatal? Ou seu papel é apenas gerar lucro para os acionistas?

Infelizmente, a mesma gestão que investe menos em saúde, segurança e manutenção é a gestão que retira direitos e ataca o plano de saúde dos trabalhadores no meio de uma pandemia. É a mesma gestão que visa apenas o lucro, enquanto vende e entrega o patrimônio nacional.

Em momentos como esse, também é importante lembrar que foram os trabalhadores que construíram essa grande empresa e que apagam diariamente os incêndios criados pela alta gestão. 

Não podemos recuar na luta do ACT, não podemos entregar nosso plano de saúde e de maneira alguma podemos permitir a privatização da Petrobrás.

Basta de perdas!