O encolhimento do Brasil no mundo industrial

Unido

O relatório anual da UNIDO (United Nations Industrial Development Organization) sobre a produção mundial da indústria de transformação estimou os dados de desempenho industrial no mundo para 2019. O crescimento da indústria mundial apontou a segunda queda consecutiva, passando de 4% em 2017, para 3,6% em 2018 e então para 2,6% em 2019, em dólares constantes de 2015.

Dentre os motivos apontados para esta queda, que antecedem a crise da Covid-19, destacam-se os conflitos comerciais entre as duas maiores potências industriais, China e os Estados Unidos. Em 2019, o Valor Adicionado da Indústria de Transformação (VAT) na China cresceu 5,5% e nos Estados Unidos 2,0%, tendo sido 6,2% e 3,2% em 2018, respectivamente.

Esta desaceleração da indústria dos EUA influenciou a perda de ritmo do VAT do grupo das economias industrializadas como um todo, refluindo de +2,4% em 2018 para apenas +1,2% em 2019. O mesmo movimento, embora menos intenso, foi seguido pelo grupo das economias em desenvolvimento e emergentes, cujo VAT saiu de +3,2% em 2018 para +2,0% em 2019. Na origem disto está a desacelaração chinesa e o reshoring, que voltou a ser ressaltado nas agendas políticas de diversos países desenvolvidos.

Segundo os dados da UNIDO, o ranking mundial dos maiores produtores de manufaturas, em 2019, continuou sendo liderado pela China, seguida por EUA, Japão, Alemanha, Índia, Coréia do Sul, Itália, França, Reino Unido e Indonésia. Nesta edição do ranking, o ano de referência passou a ser 2015 e não mais 2010, levando a algumas importantes alterações no ranking em comparação com edições anteriores, como no caso brasileiro.

Com esta mudança, devido principalmente a níveis diferentes de taxas de câmbio, o Brasil deixou de figurar entre os dez maiores parques da indústria mundial. Em 2018, na base anterior estava em 9ª posição e na nova base passou para a 15ª colocação do ranking.

O ano de 2019 não trouxe nenhuma melhora. O Brasil caiu para a 16º posição, dando continuidade ao processo de encolhimento do país no VAT mundial que já vem de longo tempo. Em 2010, quando o país ocupava a 10ª posição do ranking, a indústria brasileira respondia por 2,05% do VAT mundial, retraindo para 1,24% em 2018 e 1,19% em 2019.

A título de comparação, nesta última década, emergentes com economias mais dinâmicas e em processo continuado de modernização seguiram trajetória oposta ao do Brasil e ampliaram sua participação na indústria mundial. É este o caso da China (21,1% em 2010 e 29,7% em 2019) e da Índia (2,3% e 3,1%), mas também de Indonédia (1,4% e 1,6%) e Turquia (0,9% e 1,2%). Na América Latina, o México também se saiu melhor que o Brasil e não perdeu tanto peso:1,7% em 2010 e 1,5% em 2019.

Isso ocorre porque o desempenho da indústria de transformação brasileira tem se mostrado descolado das tendências mundiais na última década, ao contrário dos anos 1990 e 2000. A partir de 2009, a taxa de variação anual do VAT brasileiro se mostrou sistematicamente inferior à mundial. Pior ainda, foi negativa na maior parte do período, exceto nos anos de 2010, 2011 e 2013.

Na última década, segundo os dados de VAT da UNIDO, os anos mais adversos para a indústria brasileira foram 2009 (-9,5%), 2015 (-8,4%) e 2017 (-6,3%). Em 2019, a queda do VAT do Brasil foi de -1,4%, em dólares constantes de 2015. O retrocesso é patente, como o IEDI vem mostrando há muito tempo: há recuo da indústria no PIB brasileiro, recuo do Brasil na indústria mundial e recuo de nossas exportações de manufaturados.

As consequências disso é o que estamos testemunhando nos últimos anos: crescimento medíocre do PIB, falta de empregos de qualidade, baixa integração no comércio internacional e dificuldades de reequilíbrio das contas públicas, já que, devido s distorções de nosso atual sistema tributário, a indústria é uma destacada fonte de arrecadação de impostos do país.

Ademais, o Brasil também vem perdendo posições em muitos setores da indústria, em alguns dos quais se encontrava melhor posicionado do que na indústria de transformação como um todo. Setorialmente, os dados mais recentes da UNIDO são os de 2018. Dos 22 setores identificados, o Brasil foi rebaixado no ranking de 9 deles (41% do total) entre 2015 e 2018 e passou a estar fora do grupo dos 15 maiores produtores em 10 setores contra 4 em 2015.

Apesar disso, conseguimos defender nossa posição de destaque em algumas atividades industriais, como em produtos de couro, em que somos o 4º maior produtor mundial; papel e produtos de papel, em que ocupamos a 5º colocação; bebidas em 7º; metais básicos em 8º e produtos químicos e coque e derivados do petróleo em 9º.

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Fonte: Aepet