Pressionado por todos os lados, Bolsonaro articula para o autogolpe após 57 anos do golpe militar de 1964

Chega de golpe!

O Brasil vive nos últimos dias uma movimentação atípica envolvendo o alto escalão das Forças Armadas Brasileira.  Pela primeira vez na história, os três comandos das Forças Armadas, Edson Pujol (Exército), Ilques Barbosa (Marinha) e Antônio Carlos Moretti Bermudez (Aeronáutica) pediram renúncia conjunta de seus postos. Isso no mesmo dia em que o ministro da Defesa, o general da reserva, Fernando Azevedo e Silva havia também pedido demissão. 

As demissões acontecem às vésperas da fatídica data 31 de março, marco do golpe militar de 1964, comemorada pelo governo Bolsonaro como movimento de 31 de março de 1964. 
Oficialmente, a narrativa do governo é de que o presidente mudou os comandos estrategicamente. “Extraoficialmente”, as saídas teriam acontecido por não aceitarem endurecer contra ordens dos governadores e prefeitos que declararam o lockdown para conter a pandemia por coronavírus. Segundo essa narrativa, seria uma sinalização de que as Forças Armadas não estão alinhadas aos rompantes ditadores de Bolsonaro. 

Ao mesmo tempo em que o alto comando das Forças Armadas sinaliza estar saltando do governo, o primeiro ato do novo ministro da Defesa, general Walter Braga Netto é publicar como ordem do dia uma saudação ao que chama de movimento de 31 de março de 1964, em alusão aos 57 anos do golpe militar, demonstrando com isso subserviência ao presidente Bolsonaro, entusiasta do golpe.

Ardiloso, desde sua campanha e após sua eleição, Bolsonaro se cercou de militares e aparelhou as principais pastas do governo, colocando no comando mais de quatro mil militares da ativa e outros dois mil da reserva em cargos civis, numa clara tentativa de tentar atrelar a seu governo o apoio das Forças Armadas. 

Agora com a entrega dos cargos dos comandantes, a cúpula da FAB demonstra finalmente insatisfação com o governo Bolsonaro, mas será preciso mais do que isso para impedir o avanço do autoritarismo no Brasil. O golpe tem sido aclamado por membros do próprio governo, incitando motim de militares contra às ordens de governadores, usando o caso do policial militar da Bahia que após um surto psicótico atirou contra seus colegas. A deputada Bia Kicis, presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), é uma dessas vozes no governo, e tem usado o discurso de que o policial foi morto por se recusar a "prender trabalhadores", tentando torna-lo mártir de um levante contra a ordem pública.

Chega de golpe!
Não podemos esquecer do que foi o golpe militar de 1964. Diferente da história que querem reescrever, os 21 anos de ditadura foram marcados por mortes, perseguição política e controle da imprensa, que noticiava apenas o que era de interesse do governo.  

Temos o relato do exato dia do golpe, contado pelo petroleiro Ubirajara Franco, que pode ser visto aqui, que demitido e preso pela ditadura, explica o que houve naquele dia e após, quando oito petroleiros do Litoral Paulista foram perseguidos por anos, impedidos de trabalhar em qualquer empresa pública ou privada, por estarem na “lista negra” da ditadura e posteriormente condenados de três a quatro anos de prisão.

Para os petroleiros, um novo golpe está em pleno curso e começou com a operação Lava Jato, que levou à prisão diretores da Petrobrás, executivos e políticos que usaram a empresa para seus projetos particulares de poder. A operação foi responsável pela paralisação das obras de ampliação do refino e de imediato fechamento de mais de 500 mil empregos gerados direta e indiretamente pela Petrobrás em todo o Brasil. 

A operação também gerou instabilidade política que culminou com o impeachment da presidenta Dilma. Como vice de Dilma, Michel Temer chegou à presidência, e em um grande esquema “com o Supremo, com tudo”, estancou a sangria da Lava Jato e aprovou a reforma Trabalhista, o Teto dos Gastos Públicos, mudou a política de preços da Petrobrás pareado com valores internacionais e aprovou medidas que permitiram maior importação de combustíveis. A Lava Jato abriu espaço para que Jair Bolsonaro acendesse politicamente, beneficiado pela prisão do ex presidente Lula, cotado como favorito para um terceiro mandato, quinto consecutivo no comando do PT.

Desde o início de seu mandato, Bolsonaro tenta emplacar a privatização de empresas públicas, como Correios, Eletrobrás, Banco do Brasil e tem colocado em prática a venda de ativos da Petrobrás. Nessa empreitada, Bolsonaro entregou a BR Distribuidora, Liquigás, TABG, campos do pré-sal e tantos outros, e agora as refinarias, começando pela RLAM, na Bahia. No entanto, o governo não está satisfeito com o ritmo das privatizações e quer passar a boiada também para outras pautas. 

Por dentro das instituições Bolsonaro também colocou pessoas capazes de obedecerem sem questionar os seus desmandos. No comando da Petrobrás, dois nomes indicados por Paulo Guedes, o incompetente ministro da Economia que só acerta as projeções dos desastres, dão cabo ao desmonte da Petrobrás: Roberto Castello Branco, que preside a empresa e Claudio Costa, juntos reduziram a pouco mais de 40 mil o número de petroleiros, promovendo PIDVS que tornaram os trabalhos mais cansativos, mais perigosos, no entanto mais baratos como custos para a empresa. São por suas mãos que a privatização da empresa está saindo do papel.

Apesar do empenho desses “mestres da economia” em destruir a maior empresa do Brasil, Bolsonaro usa mais uma vez a tática da cortina de fumaça, e direciona a eles o foco dos problemas ligados à Petrobrás, pivô do aumento dos combustíveis e responsável pelo aumento dos produtos nos supermercados. 

Castello Branco está sendo retirado da empresa pela porta dos fundos, depois do presidente tê-lo exposto como medroso por estar há mais de um ano trabalhando em home office e por receber mais de R$ 50 mil por semana no comando da empresa. Já Cláudio Costa, gerente executivo de Recursos Humanos, que há poucos meses assediava trabalhadores no Edisp com ameaças de demissão em massa, foi demitido, sem justa causa, por vender ações durante o "período de silêncio" da empresa antes da divulgação dos resultados no final de fevereiro, o que é uma violação regulatória no Brasil.

Apesar de caírem, Costa e Castello Branco saem por cima e recebem tratamento diferente do dado aos petroleiros que ousam se manifestar na internet contra o comando da empresa ou que participam de greves e mobilizações. Para esses, a demissão é por justa causa, para o alto escalão ainda haverá abono por produtividade e dividendos.

Para os incautos, dizer que tudo isso foi somente para tomar o petróleo do pré-sal soa como mania de grandeza dos petroleiros, mas basta lembrar que por reservas muito menores governos imperialistas geraram guerras, derrubaram governos e sacrificaram seus próprios compatriotas.  

Chegamos neste 31 de março de 2021 a 318 mil mortos por coronavírus no Brasil. Enquanto as Forças Armadas remanejavam seus generais, 3668 brasileiros perdiam a vida para o covid-19. Somente em São Paulo, enquanto você lê esse texto, a cada cinco minutos uma pessoa morre vítima do vírus.

Bolsonaro não tem planos para combater a pandemia e os sinais das Forças Armadas não estão claros quanto ao lado que irão tomar em um eventual autogolpe. Contamos com o bom senso das autoridades e esperamos que os demais poderes, pressionados pelas mobilizações da sociedade, estejam conosco para o fortalecimento e reestabelecimento democracia, sem o uso de “atalhos anticonstitucionais”.

Apesar de lento, o cerco finalmente parece estar se fechando contra o governo. Para darmos cabo a esse desfecho, caberá a nós, como sociedade, mobilização e como petroleiros e trabalhadores resistência contra o avanço da privatização na Petrobrás. Para isso devemos fortalecer o sindicato e unir a categoria em torno de uma mobilização forte e articulada, denunciando o ataque a soberania do país, utilizando todos os meios possíveis, inclusive com uma grande greve nacional petroleira!

Chega de golpe!