Merluza é alvo de descaso e força de trabalho corre risco de morte

Plataforma à deriva

A Petrobrás decidiu que irá hibernar a plataforma de Merluza, localizada em águas rasas da Bacia de Santos, após 27 de anos de produção. A conduta da atual gestão da Petrobrás tem primado por orquestrar absurdos como este.  A unidade tem uma importante parcela na produção de gás natural na região Sudeste do país. O gás natural é o principal combustível das termoelétricas que são responsáveis por 7,75% da capacidade de geração de energia elétrica no Brasil. Atualmente o país que atravessa uma crise hídrica, intensificada pelo desmatamento da Amazônia, e as termoelétricas irão desempenhar um papel de suma importância na economia do país.  

Para piorar o quadro, que já é terrível, a plataforma de Merluza vem sendo alvo do descaso da gestão da Unidade de Negócio de Exploração e Produção da Bacia de Santos (UN-BS). Tudo isso por que a plataforma está em processo de hibernação e a produção já foi parada. A situação é tão delicada que até a segurança da força de trabalho vem sendo negligenciada.

Há cerca de um mês a baleeira 2 da unidade está amarrada pelo meio.  O problema da embarcação é que os dois pontos de ancoragem, de proa e de popa, apresentam corrosão avançada e também trincas visíveis no costado de fibra. A embarcação mesmo sendo ancorada pelos cabos de aço e pelo turco pode despencar a qualquer momento caso a estrutura do costado ou do ponto de ancoragem entrem em colapso. Para tentar "minimizar" os riscos, os gestores de Merluza utilizaram uma cinta de ancoragem e amarraram a baleeira no turco. A solução apresentada nada mais é que o “bom e velho jeitinho brasileiro”.

Para se ter uma ideia, da gravidade da situação há alguns meses dois técnicos da empresa fabricante da baleeira se negaram a entrar no barco para realizar inspeção. Os trabalhadores ficaram assustados quando viram o estado dos pontos de ancoragem. Depois disso, os gestores de Merluza decidiram fazer a “gambiarra” com a cinta e interditaram a embarcação.

Os trabalhadores da plataforma estavam correndo risco de morte toda vez que entravam na baleeira, seja para treinamentos ou manutenções, mas alguns petroleiros como o mestre de cabotagem e os técnicos de manutenção elétrica, eram obrigados, por força do cargo, a entrar na embarcação diariamente para rotinas operacionais e de manutenção. Uma tremenda roleta russa e um claro exemplo e descaso com a vida!

A diretoria do Sindicato dos Petroleiros do Litoral Paulista, até o momento, não conseguiu apurar se a Marinha Brasileira tem ciência desse absurdo. As baleeiras foram desenhadas e testadas para fornecer um meio seguro e protegido de escape para pessoas a bordo ou em plataformas, mas em Merluza ela faz o contrário e coloca a vida da força de trabalho em risco iminente.

Os problemas se multiplicam
Como se não bastasse o abandono da baleeira, a unidade caminha para um cenário de extremo perigo. Os cabos de aço que fazem a descida do bote de resgate também estão vencidos e não passaram por nova certificação. Isso significa que o cabo pode estar com sua segurança comprometida expondo assim a vida seus tripulantes já que podem romper na descida ou na subida do bote. A mesma embarcação já foi objeto de inúmeras denúncias.  O descaso e irresponsabilidade que os gestores da UN-BS lidam com a plataforma fica evidente através de problemas como esses. O bote é muito antigo e obsoleto e já ficou à deriva diversas vezes. Inclusive já foi socorrido por pescadores que o rebocaram de volta até a plataforma.

A plataforma de Merluza está em rota de hibernação e logo será desativada. A produção está paralisada desde o ano passado quando um gerente da unidade deu ordens para burlar os sistemas de segurança de um gerador de baixa potência. O equipamento operou dias a fio até fundir o motor. A unidade ficou literalmente à deriva e sem o mínimo de habitabilidade.

Desde então, esse mesmo gerente atua em total desrespeito às leis ignorando todas as normas de segurança inclusive, os protocolos da própria Petrobrás e da Marinha do Brasil. Em Merluza, o direito de recusa não existe. O gerente rasga diariamente o Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) da categoria.

A plataforma segue com produção paralisada, mas com o POB nas alturas. Atualmente 45 trabalhadores ficam no local.  Um tremendo contrassenso já que a ideia é manter o POB baixo e manter apenas serviços essenciais para conter a propagação da Covid-19 nas unidades offshore.

As práticas de segurança impostas pelas leis, ACT e normas de segurança da Petrobrás devem ser seguidas à risca para que os trabalhadores desenvolvam suas tarefas em segurança. Isso não é novidade para ninguém, mas para o gestor da unidade o que vale é a palavra dele. O problema é tão grande que a “rádio peão” ventila que cada plataforma é uma ilha com leis próprias.

O Sindipetro-LP, através da sua Diretoria, vem denunciando sistematicamente a situação da plataforma de Merluza. As situações de assédio, insegurança e negligência foram levadas à ANP e a Marinha sob o intuito de acabar com o estado de abandono pelo qual passam os trabalhadores a bordo da plataforma.

O descaso para com as vidas dos trabalhadores, vulgarmente chamados de colaboradores tem nome e sobrenome, tem responsáveis que ousam colocar em risco a vida dos embarcados. O lucro jamais deve estar acima da vida!

O Sindicato dos Petroleiros do Litoral Paulista, através da sua diretoria, exige que a gestão da UN-BS mantenha um nível elevado de segurança na unidade e com os petroleiros. A força de trabalho passou juntamente com os gestores por diversos treinamentos e o mais recente deles tratava sobre Fatores de Risco onde todos aprenderam a resumidamente e incansavelmente o “PPP” – parar, processar e se estiver seguro PROSSEGUIR. A pergunta que fica é que toda esta situação denunciada é SEGURA? É seguro prosseguir? Onde iremos PARAR?