O resultado financeiro do 2º trimestre da Petrobrás: custos menores, mas preços maiores

Por Eric Gil Dantas, economista do Ibeps

Eric Gil Dantas, economista do Ibeps e doutor em Ciência Política

A Petrobrás publicou ontem o seu resultado financeiro para o 2º trimestre de 2021: um lucro líquido de R$ 42,855 bilhões, se somando ao R$ 1,167 bilhão do 1º trimestre. O valor é bastante próximo ao lucro líquido recorrente (quando se retira os resultados não recorrentes, como baixas contábeis, ganhos fiscais, ágios, etc.), de R$ 40,7 bilhões.

O resultado se deve em sua maior parte ao aumento dos preços do barril de petróleo e dos produtos derivados no mercado internacional, elevando as receitas de venda da companhia. No 2º trimestre, a Petrobrás teve uma receita de vendas de R$ 110 bilhões, um aumento de 28,5% em relação ao 1º trimestre e de 117,5% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Em um trimestre o Ebitda ajustado da E&P subiu 20% e o do Refino 108%. Se convertermos o brent à taxa de câmbio média do trimestre (publicada também no relatório da Petrobrás), teremos que o barril ficou em Reais 10% mais caro do que no 1º trimestre e 132% mais caro do que o mesmo trimestre do ano passado. Já o preço dos derivados no mercado interno subiu 14,6% em um trimestre e 102% em um ano.

Outra coisa que chama a atenção é que o volume de vendas da Petrobrás não aumentou significativamente. Como podemos ver no Gráfico 1, a estatal manteve mais ou menos constante tanto a sua venda de petróleo e gás, quanto a de produtos derivados. Isto reforça a tese de que o aumento do lucro se deve aos preços praticados pela Petrobrás.

Gráfico 1 – Total de petróleo e gás comercializado e volume de vendas de derivados no mercado interno – Petrobrás (em Mpbd)

Fonte: Relatório de Produção e Vendas; Apresentação da Teleconferência da Petrobrás

Além disto, o custo de extração e de refino se mantiveram baixos. O custo de extração se manteve estável, apenas com o aumento de um dólar por barril causado pelo crescimento da participação governamental, pois quanto maior o preço do barril maior o pagamento de royalties. Se compararmos com o 2º trimestre de 2019, o custo de extração é 42% inferior. Já o custo do refino do barril em Reais, está 11% mais barato do que no mesmo trimestre do ano passado. Tudo isto, enquanto a utilização das refinarias volta a diminuir, sendo utilizado apenas 75% da capacidade instalada das refinarias da estatal.

Isto contrasta drasticamente com os elevadíssimos preços da gasolina, diesel e GLP impostos à população brasileira. Custos menores, mas preços maiores.

A direção da companhia comemorou a diminuição do endividamento. Em três anos a dívida bruta caiu quase pela metade. Obviamente que isto às custas da venda bilionária de ativos preciosíssimos da Petrobrás. Vendendo TAG, NTS, Liquigás, BR, Gaspetro e tantos outros ativos, não é muito difícil diminuir dívidas. Só não me parece algo a se comemorar.

Mas o que realmente deixa o “mercado” feliz com a diminuição do endividamento da Petrobrás é o fato que isto libera o pagamento de dividendos da estatal. Atingindo a meta de dívida bruta de US$ 60 bilhões (o qual espera atingir até o final do ano), a empresa poderá distribuir aos seus acionistas 60% da diferença entre o fluxo de caixa operacional e os investimentos. Tendo em vista que conseguirá atingir a meta, a direção da empesa já anunciou que vai antecipar R$ 31,6 bilhões em dividendos – o valor é quase o triplo da média dos últimos três anos.

Obviamente que isto diminui os recursos para investimento. Mas a última coisa que a Petrobrás fala hoje é em novos investimentos. Nem parece que estamos passando por uma grande transição energética e que é urgente o investimento em novas tecnologias.

Bem, este parece ser o triste retrato da Petrobrás que o “mercado” sempre quis. Não há correspondência entre custo e preço, mesmo o Brasil produzindo petróleo e derivados de forma cada vez mais barata, temos que pagar preços exorbitantes. Mesmo tendo cofres abarrotados de dinheiro, não iremos mais investir no Brasil, tendo que entregar todo o lucro para os seus acionistas.

Temos que correr para salvar a Petrobrás – enquanto ainda há tempo.