A alta da inflação e o reajuste dos petroleiros

Por Eric Gil Dantas, economista do Ibeps

A inflação é um fenômeno econômico que bagunça o sistema de preços de uma economia. Isto não acontece apenas no sentido macro, mas também no micro. Os indivíduos confundem muitas vezes um reajuste inflacionário com um ganho salarial, achando que recebendo um aumento de 5% (quando, por exemplo, isto é simplesmente o mesmo número da inflação) poderão comprar mais bens e serviços.

A definição mais simples de inflação é a subida geral de preços. Várias instituições de pesquisa – como IBGE, FGV, FIPE e DIEESE – tentam mensurar quanto que foi a inflação em um determinado momento e em um determinado local. No entanto, nenhuma delas consegue contar quanto que cada produto vendido em todo um território (municipal, estadual, regional ou nacional) subiu, e partir disto fazer uma média geral. Sequer esta seria a melhor metodologia possível, já que não compramos a mesma quantidade de bananas do que compramos de calçados, nem colocamos a mesma quantidade de gasolina no carro do que tomamos de leite. Cada índice é calculado tentando resolver melhor um problema do que outro. Por exemplo, o IPCA (principal índice de inflação do país, calculado pelo IBGE) abarca uma cesta de produtos que seria típica de uma família que tem uma renda entre 1 a 40 salários mínimos (uma enorme amplitude). Estes dados são coletados apenas em algumas cidades: regiões metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, além do Distrito Federal e dos municípios de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís e Aracaju (não contabiliza cidades como Santos, Cubatão ou São José dos Campos, mas consegue uma boa amostra do país). Já o INPC, índice que geralmente é utilizado para negociações salariais, inclusive pela Petrobras, se diferencia do IPCA por calcular uma cesta de produtos para famílias com rendimentos de 1 a 5 salários mínimos.

Neste mês de maio, o IPCA-IBGE indicou a maior inflação para o mês em 25 anos, com 0,83%. No acumulado dos 12 meses, o índice ficou em 8,06%. O que mais encareceu neste período foi Transporte (+14,94%), puxado principalmente pelo aumento dos combustíveis em 47,49%, Artigos de Residência (+12,59%) e Alimentação (+12,54%), com Óleos e Gorduras – como soja – subindo 56,49% e a Carne subindo 38%. Já o INPC ficou em 8,9% para o mesmo período.

Estamos em um processo de aceleração da inflação. Na semana passada o Banco Central voltou a subir a taxa de juros (SELIC), e deverá seguir com esta alta nos próximos meses a fim de conter a inflação.

Esta maior inflação fará com que as negociações salariais ganhem ainda mais importância, pois não receber reajustes implicará em grandes perdas de poder de compra para as famílias em curto espaço de tempo. Não é uma perda de 3,89% como em setembro do ano passado, e sim algo próximo a 10%.

A inflação corrói dia após dia o poder de compra das pessoas. Se comprávamos uma quantidade de carne em maio de 2020 por 100 reais, hoje para comprar esta mesma quantidade (aplicando o índice do IPCA para carnes) teremos que desembolsar R$ 138. Mesmo com o reajuste sendo aplicado em um mês específico (digamos que setembro, como é o caso dos petroleiros), há perdas ao longo desse período. Mesmo tendo um reajuste repondo a inflação (isto é, tendo uma reposição real – quando descontada a inflação – de 0%), há o acúmulo de perdas ao longo dos 12 meses, o que não chega a ser compensado com o reajuste zero.

No Gráfico 1 temos o quanto que já houve de inflação acumulada segundo o INPC entre os meses de setembro de 2020 e maio de 2021, e completamos os meses que faltam para fechar o índice em setembro com os dados de previsão de inflação do Boletim Focus (Banco Central do Brasil).

Gráfico 1 – INPC Acumulado entre setembro de 2020 e maio de 2021 e estimativa de inflação para os meses de junho a agosto de 2021

 

Fonte: IBGE; Boletim Focus (BCB)

Como podemos ver, até este mês de junho já houve uma perda de 7,71% de poder de compra se comparado a setembro de 2020, o qual continuará a subir até setembro quando for reposta a inflação pelo INPC (segundo esta estimativa, uma reposição de 8,98%).

Até agora falamos sobre o período que vai de setembro de 2020 a agosto de 2021 (do qual trata o atual ACT), mas as perdas já estão sendo acumuladas há um bom tempo. Se considerarmos os reajustes e não-reajustes nos anos de 2019 e 2020[1], podemos ver que o petroleiro continua com o salário real menor do que há três anos. Isto é, além de ser um reajuste real zero para 2021 (só a reposição), ainda deixa uma defasagem dos anos anteriores.

Gráfico 2 – Defasagem salarial acumulada em relação ao INPC (de setembro de 2018 a setembro de 2021)

Fonte: IBGE; Boletim Focus (BCB)

É bom lembrar que não é só o reajuste do salário em si que faz a renda disponível do petroleiro diminuir, mas uma gama de outras perdas. O principal deles é o reajuste da AMS, que teve um aumento médio de 134% em 2021 mais o aumento do VCMH de 12,5%, além do reajuste de 54% que ocorrerá em 2022 e a aplicação do VCMH (que deverá ficar em torno de 9,6%). Somado a isto também temos o reajuste muito abaixo do mercado para o benefício educacional, fim do programa Jovem Universitário, aumento da margem 

[1] Reajuste de 70% do INPC em 2019 e zero no ano de 2020.