Transpetro tenta driblar norma de certificação do SPIE, mas não cessa ferrugem que corrói equipamento

Vazamento de hidrocarbonetos sobre píer do Tebar

A Transpetro, ao que tudo indica, transformou Relatório de Inspeção (RI) vencida em nota de manutenção, para driblar a possibilidade de levar "não conformidade" e perder a certificação do SPIE. Porém, como uma “canetada” não desacelera a corrosão, sem a realização dos reparos exigidos pelas RI, pipocaram furos na Linha 13 sobre os Píeres Norte e Sul do Tebar, inevitavelmente.

Entenda o caso
No dia 23 de abril, numa sexta-feira, próximo ao meio-dia, houve um pequeno merejamento em decorrência de um furo na Linha 13 sobre  o dolfim 1 no Píer Sul do Tebar. A linha foi flangeada no “Y”, onde bifurca para os píeres, e seu trecho sobre o Píer Sul foi tirado de operação, mas o trecho da Linha 13 do outro lado, sobre o Píer Norte, permaneceu operando. Após três dias, outro vazamento se deu em decorrência de um furo, agora no trecho sobre o Píer Norte, quando então a Linha 13 foi totalmente tirada de operação. Os produtos que circulam por essa linha são petróleo e derivados, resultante da drenagem dos braços de carregamento que se misturam no Sump Tank com água de chuva que cai sobre a plataforma.

Os trabalhadores mais uma vez atuaram prontamente para paralisar o vazamento e limpar a sujeira. Após identificação e enquanto os Operadores fechavam as válvulas para paralisar os fluxos do produto, a equipe do Centro de Resposta a Emergências (CRE) limpava as áreas dos vazamentos. Enquanto isso, os Técnicos de Inspeção identificavam os pontos por onde houve os vazamentos, juntamente com a equipe de manutenção, que nesses casos tampa provisoriamente os furos e aguarda comando da gestão do Terminal para realizar a manutenção adequada, conforme prescrevem as RIs. Todos os trabalhadores, dos operadores,  técnicos de manutenção ao CRE e Inspeção, cumpriram seus papeis impecavelmente após as ocorrências, mas o principal para evitar tais furos, a realização das manutenções, decorrentes das RIs que foram transformadas em Notas de Manutenção pela Companhia, não se concretizaram, uma vez que isso está sob controle daqueles que administram o Terminal.

Infelizmente, pelas informações obtidas pelo sindicato, após as ocorrências na Linha 13, somente foram realizados remendos paliativos, dessa forma a linha permanece em situação frágil do ponto de vista operacional, podendo vazar mais vezes, enquanto a corrosão avança sobre essa tubulação que fica sobre o Canal Marítimo de São Sebastião. Vale ressaltar que, a partir de agora, sem a devida intervenção de manutenção decorrente das RI, que viraram Notas de Manutenção, toda vez que essa linha for colocada em funcionamento poderá ocasionar um vazamento, pois apenas o reparo emergencial não resolve o problema.

Não é de hoje que o sindicato vem denunciando a forma perigosa que a Transpetro administra seus terminais. Sempre com o foco na busca pela redução de custos e despesas, a empresa negligência a forma ideal de operar e realizar as manutenções estratégicas, colocando as instalações em regime de Risco Grave Iminente. Nos últimos anos, por exemplo, a Companhia foi reduzindo perigosamente seus quadros de empregados, até chegar ao pequeno efetivo atual. Essa redução, que modifica significativamente o meio ambiente de trabalho, jamais foi precedida de estudo que comprovasse tecnicamente que não causaria insegurança nas plantas, nem tampouco foram adotados novos procedimentos de trabalho ou alterados os já existentes, para adequação à mudança. Nesse sentido, a carga de trabalho para operar as plantas aumentou significativamente e os serviços de manutenção, que eram realizados com tranquilidade outrora, agora são postergados ao extremo, até chegar na situação que se encontra a Linha 13 sobre o Píer de São Sebastião. Se o número de empregados não retornar ao patamar que havia antes da Reforma Trabalhista de 2017, a tendência é de aumentar a probabilidade de novas ocorrências do gênero, fato que coloca em risco os ativos da empresa, as poucas pessoas que ainda trabalham no local, o meio ambiente e a comunidade local.

Quando cai petróleo e seus derivados sobre o mar temos a configuração do chamado crime ambiental, que pode ser imputado para pessoas jurídicas e pessoas físicas, as quais responderão civil e criminalmente. Sob a atual forma de administração da Companhia, transformando RI vencida em “Notas de Manutenção”, que não são efetivamente realizadas, caso potenciais acidentes ambientais venham a ocorrer, não resta dúvida, a atual política de redução de custos e despesas, incluindo aí os quadros de empregados, é de total responsabilidade da gestão da empresa.

O Terminal Aquaviário de São Sebastião (TASSE) está situado no Centro da cidade e ocupa uma área de aproximadamente um milhão e oitocentos mil metros quadrados, armazenando algo em torno de um milhão e seiscentos mil metros cúbicos de petróleo e derivados, o que equivale a seiscentos milhões de litros de produto.

Nos píeres Norte e Sul, operam-se anualmente cerca de 600 navios. Esses píeres estão sobre o Canal marítimo de São Sebastião/SP, possuindo uma extensão de aproximadamente mil e duzentos metros de ponte, sobre a qual estão apoiados mais de vinte mil metros cúbicos de tubulações de petróleo e derivados, tudo sobre o mar, uma responsabilidade imensa negligenciada pela Petrobrás/Transpetro na busca de suposta eficiência financeira.

A denúncia aqui feita pelo sindicato é necessária, pois quando cair petróleo no mar e configurar crime ambiental, a gestão da empresa fará de tudo para desviar sua responsabilidade, e para isso culpará o trabalhador solitário da ponta, aliviando seus superiores e a administração da Companhia de qualquer responsabilidade. O Sindipetro-LP está constantemente de olho e acompanhando de perto cada passo da atual gestão da empresa, e não vai permitir que essa política frenética de redução de custos e despesas estoure no peito daquele que realmente garante as operações da maior empresa brasileira, responsável por abastecer o povo brasileiro.