Petrobras abandona negociação do Plano de Cargos após censurar gravações de vídeos da FNP

Grave

Federação Nacional dos Petroleiros denuncia prática antissindical, exige retomada imediata das tratativas e apresentação de proposta para o novo Plano de Cargos, Carreiras e Salários
 
Na manhã desta quarta-feira (25), às 11h15, a direção da Petrobrás se retirou da mesa de negociação com a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), interrompendo abruptamente as tratativas sobre o novo Plano de Cargos, Carreiras e Salários (PCCS) da categoria. 

A empresa alegou que os sindicatos não teriam o direito de registrar em vídeo as suas próprias intervenções durante a reunião, mesmo que essas gravações não envolvessem imagens ou falas dos representantes da companhia.

O episódio foi desencadeado logo após a equipe de comunicação da FNP gravar o preâmbulo da intervenção do secretário-geral Adaedson Costa, que lamentava a condução das tratativas anteriores sobre a questão do teletrabalho  — culminando em uma proposta rebaixada, sem diálogo real com os trabalhadores, e um processo recheado de atos autoritários da gestão da Petrobras. 

A gravação foi interrompida a mando da empresa, que alegou desconforto com os registros audiovisuais, informando ter avisado a direção da FNP. No entanto, até o fechamento desta matéria, não há nenhum ofício nesse sentido recebido pela secretaria da entidade.

A situação escalou quando um gestor da Petrobrás reagiu de forma agressiva à presença da câmera, dizendo: “Vocês têm que decidir se acham mais importante negociar o Plano de Cargos com a empresa ou ficar gravando ‘vídeozinho’. Não é a Petrobras que vai acabar com a reunião. Quero ver o que vocês vão falar para a categoria.”

A fala foi acompanhada de um convite aos demais representantes da empresa para abandonarem a mesa, o que se concretizou minutos depois.

Mesmo após a interrupção da gravação por parte da equipe da FNP, um dos negociadores da Petrobras tentou minimizar o episódio e distorcer os fatos, afirmando: “Vocês agora estão dizendo que a Petrobras está cerceando a comunicação dos sindicatos, e isso não é verdade. A gente entende que não agrega à companhia gastar energia para ficar rebatendo os vídeos de vocês.”

Em tom pejorativo, os representantes da Petrobrás chegaram a afirmar que os vídeos dos sindicatos eram produzidos apenas para “caçar like”, desconsiderando o papel legítimo da comunicação sindical e subestimando o real interesse da categoria petroleira em acompanhar as tratativas que impactam diretamente suas condições de trabalho.

O diretor da FNP, Fábio Mello, rebateu com firmeza a tentativa de desqualificar o trabalho da entidade: “Estamos vendo que vocês estão tentando colocar o famoso ‘bode na sala’ antes mesmo da reunião começar. Não se trata de ‘vídeozinho’ nem de ‘caçar like’. Nós fazemos um trabalho sério, com responsabilidade, para manter a categoria informada.”

Fábio lembrou que, em diversas ocasiões, os vídeos produzidos pelos sindicatos foram instrumentos para alertar os trabalhadores sobre graves problemas causados pela própria gestão da empresa. 

“Se não houvesse problemas no Sistema Petrobras, não haveria necessidade de gravar nada. Ou vamos esquecer o calote na PLR, que denunciamos aqui mesmo, por meio de vídeo? Na prática, somos nós que gerenciamos as crises que a empresa cria, como a inadimplência e os salários atrasados de milhares de trabalhadores terceirizados. Isso também é caçar like?”

O dirigente também criticou a falta de transparência da estatal e cobrou explicações. “Essa é uma empresa pública e precisa prestar contas. Nós defendemos essa companhia e queremos saber de onde partiu essa ordem de censura. Estamos num processo de reconstrução da Petrobras, de defesa da democracia no país, e vocês trazem esse retrocesso agora? Essa reunião era aguardada com grande expectativa pela categoria, que está ansiosa para saber sobre o novo plano de cargos. Viemos aqui para ouvir propostas e debater com seriedade.”

Para a direção da FNP, a postura da Petrobrás representa uma grave violação do direito à liberdade sindical e à transparência, princípios fundamentais nas tratativas de um Acordo Coletivo de Trabalho. 

“Estamos tratando de um tema essencial para a valorização da categoria, enquanto a empresa se preocupa em nos impedir de informar nossa base com clareza e responsabilidade”, em uníssono, pontuaram os dirigentes da federação.

Desde pelo menos 2017, os sindicatos vêm registrando suas falas em mesas de negociação, com o compromisso de não divulgar imagens da empresa, de seus representantes ou qualquer conteúdo sensível. 

A prática, além de consolidada, é reconhecida como uma forma legítima de prestar contas à base, especialmente diante da ausência sistemática do registro de ATAS por parte da empresa.

A atitude da Petrobrás ocorre em um contexto preocupante. Somente no ano passado, seis trabalhadores perderam a vida no sistema Petrobras, e recentemente, trabalhadores da empresa terceirizada LCD ficaram semanas sem receber salários, mesmo após concluírem suas atividades. Ainda assim, a empresa parece mais interessada em controlar a comunicação sindical do que em buscar soluções para os problemas reais enfrentados pela categoria.

Para o secretário-geral da FNP, Eduardo Henrique, a empresa não apenas se retirou da negociação, como sequer apresentou uma proposta concreta sobre o tema central da reunião. 

“É lamentável que, após dois anos de cobranças, a Petrobras chegue a uma reunião como essa sem nenhuma novidade para apresentar sobre o Plano de Cargos, Carreiras e Salários”, declarou antes de os membros do RH se levantarem da mesa.

Eduardo também questionou a eles se aquela cena que se forjava, a retirada da empresa da mesa, teria sido uma estratégia deliberada. 

“Começamos a pensar que essa situação foi de caso pensado. Agora, além de não apresentarem proposta, querem impor reuniões secretas, impedindo que registremos nossas próprias falas. Queremos saber quem deu essa ordem, se foi a diretoria, a Alta Administração, os acionistas ou até mesmo a presidente Magda. Exigimos uma reunião com que emitiu essa ordem para esclarecer esse caso”, cobrou. 

O dirigente completou: “A Petrobrás tem à disposição uma poderosa máquina de comunicação, mas se sente desconfortável com os vídeos dos sindicatos porque precisa dar respostas. É para ficar desconfortável mesmo. A partir de agora, exigimos reuniões com atas, gravações, transmissões ao vivo e toda forma de publicidade possível para que a categoria saiba exatamente o que acontece aqui dentro.”

Também secretário-geral da FNP, Adaedson Costa reforçou a defesa da gravação como ferramenta de comunicação legítima com os trabalhadores. 

“Nós sempre defendemos a gravação e publicação dos vídeos como uma forma didática de nos comunicarmos com as nossas bases. É um modelo mais fácil de consumir conteúdo e muito mais dinâmico”, afirmou. 

“Nos surpreende que, depois de seis, sete, oito anos praticando isso com transparência, a empresa venha agora impor essa restrição. Se houvesse qualquer prejuízo real à Petrobras, isso já teria sido apontado, o que nunca aconteceu.”

Adaedson ainda destacou que os sindicatos sempre respeitaram os limites impostos pela empresa quanto à exposição de seus representantes. 

“Já nos comprometemos, há muito tempo, a não expor imagens ou nomes de ninguém da empresa. Sempre fomos flexíveis quando aparecia algum gestor por engano em nossas publicações. Nosso objetivo é gravar apenas nossas próprias falas, para prestar contas às bases que representamos.”

Por fim, ele também criticou a postura contraditória da empresa, relembrando episódios anteriores: “Sobre erros, ninguém está imune. Mas vale lembrar que foi o próprio RH da Petrobras que divulgou proposta à força de trabalho enquanto estávamos em negociação na mesa. Isso sim foi uma quebra de protocolo. Não aceitaremos essa ou qualquer tentativa de controle direto sobre a organização dos sindicatos.”

Um ponto de tensão reforçado em todas as falas dos dirigentes da FNP diz respeito à ausência de atas durante as reuniões com a Petrobras, pois se trata de um pedido histórico dos sindicatos, que mais uma vez não foi atendido. 

É dever da Petrobrás, como empresa pública, garantir que as tratativas sejam acompanhadas de forma clara, segura e documentada.

A FNP vai intensificar a mobilização junto à categoria petroleira e reitera à direção da Petrobras que retome imediatamente as tratativas e apresente uma proposta concreta para o novo Plano de Cargos, Carreiras e Salários.

Fonte: FNP