Petrobrás vende restante da TAG pelo valor de um lucro anual

Por Eric Gil Dantas

Em junho de 2019 a Petrobrás vendeu 90% da Transportadora Associada de Gás (TAG) ao consórcio formado pela empresa francesa Engie e pelo fundo canadense Caisse de Dépôt et Placement du Québec (CDPQ), pelo valor de R$33,5 bilhões. Treze meses depois a Petrobrás resolve entregar o restante da empresa, o qual ainda detinha 10%, por um trocado, R$ 1,1 bilhão – venda esta efetivada ontem (20).

Os valores referentes as privatizações da TAG e da NTS são ridículos desde o início, e já tratei disto em outra oportunidade. Naquele artigo mostrei que a Petrobrás aumentou em R$248 milhões os custos em apenas seis meses de privatização, isto é, em um ano gastaria algo próximo a meio bilhão de reais por agora ter que pagar à outra empresa pela estrutura de gasodutos da TAG. Mas o que chama ainda mais a atenção aqui é que a Petrobrás vendeu seus 10% restante por um valor quase que equivalente ao lucro líquido da empresa em 2019, que foi de R$931,7 milhões. E isto sem contar que, no primeiro trimestre de 2020, já em meio à crise do petróleo, a TAG lucrou R$ 351,8 milhões, o que mostra que para 2020 a proporção deve ser ainda mais favorável aos novos donos da empresa. E sequer mantiveram a proporção, o que fazendo uma regra de três simples deveria ser de R$ 3,72 bilhões. Não faz sentido o argumento da Petrobrás de que eles assumiram o aumento da dívida da TAG, dívida esta contraída desde a privatização, o que justificaria um valor menor para esta venda, segundo a direção da estatal. Se houve endividamento, isto é revertido em investimento e lucro futuro, ou seja, benefícios ao comprador. São realmente privatizações com uma enorme bondade por parte da direção da estatal.

Além disto, em dólares, o valor foi ainda mais “cômico”. Se em moeda americana a privatização do ano passado foi de US$ 8,6 bilhões pelos 90%, neste ano a venda foi de algo próximo a US$ 209,6 milhões pelos outros 10%, equivalente a apenas 2,4% daquela primeira transição. O aumento do fosso se dá pela valorização do dólar desde então, que passou de R$ 3,85 por dólar, para R$ 5,25 o dólar, 37% de valorização da moeda estadunidense. Ou seja, canadenses e franceses precisaram desembolsar ainda menos para adquirir patrimônio brasileiro, uma total desvalorização.

A Petrobrás não colocará o pé no freio das privatizações, o que seria razoável mesmo em termos de “visão de mercado”, já que a o preço do barril ainda se mantém em um patamar baixo, desvalorizando os ativos da empresa momentaneamente. Isto deixa claro que a intenção sequer é “abater dívidas”, pois se isto fosse verdade a empresa deixaria para vender a PBio, as refinarias, a TAG e outros ativos em um momento de maior valorização. É pura e simples entrega de patrimônio público, sem pedir muita coisa em troca.

Por Eric Gil Dantas, economista do Ibeps e doutor em Ciência Política

Fonte: Sindipetro-SJC