Após greve, gerência do Tebar pune categoria passando função de Cotur para engenheiros

Litoral Norte

Como retaliação à greve realizada pelos petroleiros em 2015, a Transpetro está treinando seis engenheiros para que ocupem a função de Coordenadores de Turno (Cotur) no Terminal Aquaviário Almirante Barroso (Tebar), em São Sebatião. A medida causa de imediato duas situações graves: eleva os custos da companhia, com o pagamento de adicionais e gratificações altas; e tira dos empregados de nível médio uma das poucas oportunidades de ascensão profissional. Embora seja um cargo comum nas unidades do Sistema Petrobrás, não existia no Tebar nenhum empregado ocupando essa função.

Um grande indicador que a medida é uma forma de enfraquecer futuras mobilizações, uma vez que a greve no terminal envolveu inclusive supervisores, é o fato de que os engenheiros que assumirão a função de Coturs não são do terminal, mas do Rio de Janeiro. Dos seis empregados “importados” do Rio, cinco ficarão encarregados pelos grupos de turno e um será destacado para cobrir férias.

As funções que os engenheiros podem assumir na empresa são como coordenador de setor, gerente de setor, gerente de divisão, gerente geral, gerente corporativo, gerente executivo, diretor executivo e presidente da companhia. Já para o pessoal de nível médio, as oportunidades na carreira são para coordenador técnico operacional, supervisor, coordenador de turnos (cotur) e só. São raros os casos de técnicos de operação ocupando gerência setorial ou de divisão.

Diante das medidas que a empresa vem tomando para reestruturar as gerências e reduzir número de cargos comissionados, falta lógica nesta decisão que afeta a carreira dos técnicos de nível médio, uma vez que a função de Cotur sempre foi destinada aos operadores, além de gerar altos custos à folha da empresa. No entanto, nos parece que as lições tiradas pela Companhia da forte greve realizada pelos petroleiros são de que é preciso criar ainda mais cargos de confiança para garantir a formação de grupos de contingência maiores.

Além do adicional de turno, que é de 30% sob o salário base dos engenheiros em treinamento (que hoje é de cerca R$ 8.500 para os empregados há mais de cinco anos na empresa), estes profissionais receberão ainda gratificação por cargo comissionado de coordenador e provavelmente receberão também adicional de transferência, já que são do Rio de Janeiro.

Não podemos aceitar que a empresa ao mesmo tempo em que corta horas extras, o café em algumas unidades, proíbe a Cipa de trabalhar para não gerar HE e restringe viagens e cursos apenas para os indicados das chefias, promove uma ação que tira oportunidade dos operadores de galgarem outros patamares profissionais, beneficiando engenheiros, que têm muitas outras formas de crescerem na companhia.

A diretoria do Sindipetro-LP está se comunicando com as lideranças das bases da FNP e demais Sindipetros para averiguar se a empresa tomou esta iniciativa em outros unidades do Sistema Petrobrás. O jurídico do Sindicato também estuda as implicações legais das promoções dos engenheiros, que restringem a ascensão dos petroleiros de nível médio. Confirmados os fatos, denunciaremos a situação à Controladoria Geral da União (CGU), uma vez que a medida irá onerar ainda mais a Petrobrás – patrimônio do povo brasileiro, numa clara demonstração de punição aos trabalhadores, como retaliação à justa e legal greve da categoria.