Gerência do Tebar passa função de cotur para engenheiros e trabalhadores protestam com atrasos

Desde o fim da greve, a direção da Petrobrás iniciou veladamente retaliações aos técnicos de manutenção e, principalmente, aos operadores e supervisores de turno do Tebar, em São Sebastião. O castigo se deve à adesão desses trabalhadores ao movimento

Em retaliação à greve

Desde o fim da greve, a direção da Petrobrás iniciou veladamente retaliações aos técnicos de manutenção e, principalmente, aos operadores e supervisores de turno do Tebar, em São Sebastião. O castigo se deve à adesão desses trabalhadores ao movimento grevista. Primeiro, a gerência interrompeu o sobreaviso de alguns técnicos da manutenção, sem pagamento da indenização prevista em lei. Depois, iniciou treinamento com engenheiros para que ocupassem a função que até então não existia no Tebar, a de coordenador de turno (COTUR).

Os engenheiros, após passarem por treinamento, começaram a trabalhar na unidade durante o horário comercial, das 8h às 16h, acompanhando os trabalhos dos operadores. Esse fato reforça ainda mais a certeza de que os engenheiros ali estão para ocupar a função dos supervisores de turno, que se incorporaram à greve – fortalecendo ainda mais a campanha reivindicatória da categoria contra a retirada de direitos e a venda de ativos.

As funções que os engenheiros podem assumir na empresa são como coordenador de setor, gerente de setor, gerente de divisão, gerente geral, gerente corporativo, gerente executivo, diretor executivo e presidente da companhia. Já para o pessoal de nível médio, as oportunidades na carreira são para coordenador técnico operacional, supervisor, coordenador de turnos (COTUR) e só. São raros os casos de técnicos de operação ocupando gerência setorial ou de divisão.

Diante dessa arbitrariedade, os operadores de turno iniciaram na semana passada atrasos de uma hora em protesto às retaliações da empresa à categoria. Os atrasos começaram no dia 21 de março, com os grupos 3 (8h às 16h) e 1 (16h às 0h). Os atrasos seguiram no dia 23 com o grupo 4, no dia 25 com o grupo 2 e no dia 28 com o grupo 5.

Durante os atrasos, a diretoria do sindicato conversou com a categoria e discutiu quais as ações a serem tomadas. Os trabalhadores demonstraram – com razão – nenhuma disposição de aceitar a imposição da empresa em colocar como COTUR profissionais que não estão ali por suas capacidades técnicas, mas como instrumento de disputa de força entre empresa e trabalhadores.

Ao destinar a função de COTUR no Tebar a engenheiros, grupo formado por seis profissionais, alguns nem lotados no Litoral Paulista, a empresa cria mais problemas ainda, senão vejamos:

1-Tira dos trabalhadores de nível operacional a oportunidade de crescimento profissional dentro da companhia;

2- Quebra o discurso de promover boa ambiência, ao forçar os trabalhadores a aceitarem como seus superiores pessoas ali colocadas como forma de retaliação à mobilização legítima;

3- Promove ação antissindical, desestimulando o trabalhador a lutar por seus direitos;

 4- Vai na contramão do corte de gastos prometido pela companhia para cargos de confiança, pois os salários dos engenheiros são maiores que dos operadores e dos supervisores, e a função de Cotur gera adicionais que irão inchar a folha de pagamento desnecessariamente, uma vez que existem outras formas de promoção na empresa para os profissionais de nível superior.

No Sistema Petrobrás é assim: para aqueles que fizeram greve, punição. Mas para aqueles que pelegaram, promoção! Mesmo que para isso seja necessário expor a contradição entre o discurso e prática.

A diretoria do Sindipetro-LP levou a questão na última reunião de acompanhamento de ACT com o RH, no Edise-RJ, cobrando inclusive a palavra da diretoria da empresa, que se comprometeu a não aplicar punições ou retaliações sem antes discutir com os representantes sindicais e com a categoria, o que não está sendo aplicado.

Ainda nesta semana a diretoria do Sindicato irá se reunir com o jurídico da entidade para verificar medidas para barrar a efetivação dos engenheiros como COTURS.

Diferente do que pretendia os gestores da empresa, a promoção de engenheiros a COTUR tem provocado uma onda de indignação da categoria, que se posicionou favorável a uma mobilização maior do que os atrasos/setoriais. Juntos somos mais fortes!