Petroleiros do Tebar iniciam atrasos por tempo indeterminado

Contra punições e desmonte da Petrobrás

Na manhã desta terça-feira (19), os petroleiros e petroleiras do Tebar, em São Sebastião, atrasaram o início do expediente em uma hora. Com adesão superior a 90%, trabalhadores do regime administrativo e turno dedicaram uma parte do dia ao debate sobre a crise da Petrobrás e do país, que vem afetando até agora apenas a classe trabalhadora.

Mas o atraso não foi reservado apenas ao diálogo. Ao final do protesto, os trabalhadores de turno do terminal decidiram iniciar a partir desta terça-feira (19) atrasos de uma hora por tempo indeterminado. A decisão é uma resposta às punições aos grevistas de 2015, sobretudo aos supervisores e CTOs que foram destituídos de seus cargos e substituídos por engenheiros de outras regiões que agora ocuparão a função de Coturs. A decisão é claramente uma retaliação aos lutadores.

Com isso, os trabalhadores de turno do Tebar se somam aos petroleiros dos turnos da RPBC, que desde o início da semana passada realizam atrasos em todos os grupos contra também uma retaliação aos grevistas. Neste caso, a suspensão unilateral do “abono da viradinha”.

Mas as mobilizações no Tebar e na RPBC não são ações isoladas na base do Litoral Paulista. Desde o início da semana passada, dirigentes do Sindicato estão percorrendo as unidades da Petrobrás para dialogar com a categoria e defender a necessidade da união e mobilização dos petroleiros. A UTGCA, por exemplo, será a próxima base que os dirigentes farão este trabalho de conscientização.

Problemas “locais” são parte do desmonte da Petrobrás
Longe de ser um problema pontual, as punições que hoje cercam a realidade do Tebar estão sintonizadas com os ataques mais gerais aos petroleiros, sobretudo a venda de ativos. Aquilo que na aparência se apresenta hoje como um ataque pontual é, na verdade, parte do desmonte que afeta a companhia. No Tebar, supervisores e CTO’s que fizeram greve retirados de suas funções e substituídos por engenheiros; na RPBC, punição com a retirada do “abono da viradinha”; no Terminal Alemoa, terceirização das caldeiras da unidade; no terminal Pilões, insegurança crônica; na UTGCA, criação de novos cargos de confiança para boicotar futuras greves; no Edisa Valongo, práticas antissindicais; nas plataformas, problemas sistemáticos com a segurança dos petroleiros embarcados e retaliações aos grevistas.

Ou seja, não vivemos um período de tristes coincidências. Vivemos um período de ataques articulados aos direitos e condições de trabalho da categoria. O mesmo se repete Brasil afora, com diversas categorias indo à luta para preservar direitos, pois os patrões e os governos querem “superar a crise” explorando ainda mais os trabalhadores. “Temos mais de 50 projetos de lei engatilhados no Congresso Nacional que visam flexibilizar direitos trabalhistas sob o pretexto de modernizar as relações de trabalho”, denunciou Adaedson Costa, coordenador-geral do Sindipetro-LP e secretário-geral da FNP.

Em relação à situação da empresa, Adaedson foi taxativo: vivemos um momento histórico, um momento de grandes ataques, mas essas medidas só serão aplicadas se os trabalhadores permitirem. “Querem vender qualquer ativo, não apenas a Transpetro ou BR Distribuidora. O que for lucrativo na visão da direção será colocado à venda. Todos esses planos, desde o não pagamento da PLR, o PIDV 2016, a batalha para nos impor uma derrota na briga pela RMNR, tudo isso faz parte de um mesmo projeto: enxugar a companhia para torna-la mais atrativa ao mercado e assim facilitar a sua venda, sua privatização. Por isso, devemos reagir”, afirmou.

Fábio Mello, diretor do Sindipetro-LP que esteve no início do mês no Rio de Janeiro para discutir com a companhia questões relacionadas ao ACT, lembrou que a Petrobrás vive uma guinada privatista em sua gestão. “A vocação de nossa empresa, uma empresa integrada de energia, está sendo abalada. Hoje, o que está em curso é uma política de mercado, totalmente contrária ao papel histórico da Petrobrás, que é fomentar o desenvolvimento do país”.

Pré-sal sob ataque
Parte importante dos ataques aos petroleiros e ao país, a tentativa de aprofundar a entrega do pré-sal ao estrangeiro também foi alvo dos debates. A categoria está cada vez mais consciente que a luta também é pela preservação desta riqueza, pois uma possível aprovação do projeto de autoria do senador José Serra, aprovado no Senado após acordo com o governo Dilma, irá enfraquecer ainda mais a luta por uma Petrobrás 100% Estatal e Pública, a serviço da população.

O projeto agora está no Congresso Nacional sob o número 4567/16. Por isso, há algumas semanas FNP e FUP iniciaram uma série de incursões nos gabinetes dos deputados para apresentar um contraponto ao lobby que o capital estrangeiro está exercendo com a ajuda de políticos que não tem o menor compromisso com o país. “Após as visitas que fizemos, conseguindo dialogar com alguns deputados e demonstrar as mentiras que envolvem a Petobrás, saímos de lá com alguns resultados positivos. Podemos dizer seguramente que mais de 80% dos deputados que visitamos desconhecem a real situação da nossa companhia e o que está em jogo com a venda do pré-sal”, explicou Adaedson.