Quadro da UT-2 é insuficiente e coloca em risco a vida dos trabalhadores

Refinaria de Cubatão

A poucos dias de completar um mês, os atrasos na Refinaria Presidente Bernardes de Cubatão (RPBC) entram em uma nova e decisiva fase. A luta que envolve a briga contra a retirada do abono da viradinha e o quadro mínimo insuficiente da UT-2 (conhecida até hoje como HDT 2) passa a pautar com mais força um problema que atinge todo o Sistema Petrobrás: a insistência da empresa em responder à crise financeira com a redução de investimentos que colocam em risco a segurança e a saúde dos petroleiros.

Na última sexta-feira (29), o Sindicato entregou à gerência da refinaria um estudo de caso que comprova, baseado nos critérios de segurança da própria Petrobrás, a necessidade de um quadro mínimo coerente com as normas da companhia. Caso a empresa não realize as medidas apontadas no estudo, elaborado de maneira minuciosa pelo Sindicato e trabalhadores da UT-2, o risco de acidentes é grande.

O custo da redução de investimentos a qualquer custo
Em condicionamento de partida desde abril, a UT-2 é parte do processo de modernização da RPBC iniciado cerca dez anos atrás para garantir uma produção de gasolina e diesel com baixo teor de enxofre.

Diante da crise econômica e política da Petrobrás, sobretudo a partir da operação Lava Jato, o projeto inicial foi completamente desfigurado. Concebida inicialmente para ter um alto índice de automação e instrumentação, a empresa impôs à UT-2 o máximo de cortes possíveis. Aquilo que era possível enxugar, mesmo representando perda de segurança e qualidade operacional, a empresa enxugou. O corte de investimentos em tecnologia teve como resultado prático a necessidade de mais mão de obra. É essa necessidade, diante das alterações realizadas, que a empresa vem ignorando.

Projeto versus Realidade
No projeto original, por exemplo, existiam diversos instrumentos de redundância que foram excluídos. Ao contrário do que possa parecer, esses instrumentos não são mero capricho. É a instalação de dois aparelhos iguais, daí a “redundância”, que garante maior segurança na unidade na hipótese de falha em um dos equipamentos. Sem essa estrutura, é preciso redobrar a atenção no campo e também na CCI (painel), aumentando os chamados de verificação na área.

Verticalizada e com carga projetada de 10 mil m³/dia, a UT-2 foi erguida com a implantação de diversas torres e reatores. Diferentemente da HDT 1 (horizontalizada e com carga de 6 mil m³/dia), a HDT 2 possui dois ‘Trem de reação’. Ou seja, estamos falando de uma unidade que na prática se equivale a duas HDT 1 e, portanto, é mais robusta e complexa. Entretanto, não houve investimento na construção de acessos entre os equipamentos. Com esta “economia”, os trabalhadores precisam gastar muito mais tempo nas subidas e descidas na área. Isso, evidentemente, impacta diretamente no quadro mínimo da unidade e acentua a falta de ergonomia.

Pela própria complexidade citada acima, o projeto estabelecia a instalação de canhões de água contra incêndio automatizados e de vários detectores de gases em diferentes pontos da unidade. A realidade agora é completamente diferente: canhões manuais e uma redução significativa no número de detectores. Isso tudo exige da mão de obra mais atenção. E, portanto, uma mão de obra maior do que aquela prevista pela companhia.

Não foi por falta de diálogo
Os petroleiros que acompanham a atuação do Sindicato neste caso sabem que desde o início da gestão apostamos no diálogo. No início de janeiro, cobramos da empresa um estudo sobre a real situação da UT-2. Em fevereiro, percebendo a resistência da empresa em admitir os problemas existentes quanto ao quadro estabelecido, já alertávamos de que o Sindicato era “contrário a este quadro insuficiente, ainda mais com a intenção da gestão querer integrar todas as unidades deste setor”. Além disso, enviamos ofício reivindicando a negociação do quadro da unidade, baseados justamente em nosso estudo. Para nós, o que a empresa tenta impor é incompatível com os critérios mínimos de segurança pessoal - seja para os trabalhos de rotina, para o cumprimento dos procedimentos operacionais e amostragem dos produtos.

Ao contrário do estudo elaborado pelo Sindicato e trabalhadores, baseado na realidade da planta já finalizada, o levantamento da empresa (Estudo Solomon) apresenta uma visão superficial da dinâmica operacional da unidade. Por essa razão, é incapaz de justificar tecnicamente o atual quadro mínimo – formado por 2 operadores no campo e 2 operadores na na CCI (painel). 

E não poderia ser diferente. Ao mudar o projeto por critérios econômicos, assumindo o risco de gerar insegurança e sobrecarga de trabalho aos empregados, a empresa desprezou conscientemente os efeitos dessas medidas para a força de trabalho. Se alguém precisa se sacrificar, se alguém precisa pagar o preço, que seja a força de trabalho. Este é o resumo da escolha feita pela gerência da RPBC.

Além disso, a gestão da refinaria também tenta implantar o quadro integrado de operadores para todas as unidades de tratamento (UTN/HDT 1/UT2). O Sindicato também se coloca contra essa integração, pois se choca frontalmente com a necessidade de formar operadores especializados, o que de fato garante a segurança das plantas.

Evidentemente, entendemos o momento político e financeiro da empresa. Sabemos, mais do que ninguém, as dificuldades pelas quais a Petrobrás passa. Porém, isso não pode significar a exploração dos trabalhadores a qualquer custo. Afinal, o que será de uma empresa que é incapaz de ter um quadro operacional que atenda minimamente a operacionalidade da planta com segurança e condições ergonômicas de saúde aos trabalhadores? O que será de uma empresa que coloca em risco a segurança da sua força de trabalho, do meio ambiente e da comunidade que cerca a refinaria?

Um erro que se repete, uma luta que se repete
Por todo o exposto acima, os trabalhadores estão há quase um mês mobilizados. Não consideramos esgotadas as negociações, até por isso ainda não tomamos as medidas judiciais cabíveis, mas ao mesmo tempo não podemos esperar a boa vontade da gerência. Não há outra saída senão a luta para arrancar da companhia um direito mínimo de todo trabalhador: ir para o trabalho com a certeza de que voltará com segurança para casa. O estudo realizado pelo Sindicato e categoria aponta para a UT-2 a necessidade de um quadro com ao menos 10 trabalhadores, sendo seis no campo e quatro na CCI (painel). Mais que o dobro do estipulado pela empresa.

Essa luta não é nova. Em 2013, a RPBC viveu outra mobilização dos trabalhadores em defesa de um ambiente seguro de trabalho. Na época, lutamos contra a redução arbitrária do quadro mínimo da URA/URC. Com a união da categoria, vencemos aquela batalha. Podemos repetir aquela história, conquistando novamente condições dignas de trabalho. O futuro está em nossas mãos.
Juntos, somos mais fortes!