Mudança de voos de Itanhaém (SP) para Jacarepaguá (RJ) é prática antissindical

Plataformas

Sem qualquer negociação com o Sindicato e trabalhadores, a gerência da UO-BS decidiu transferir os voos das plataformas de Merluza e Mexilhão do Aeroporto de Itanhaém (SP) para Jacarepaguá (RJ). A decisão passa a valer a partir desta segunda-feira (16).

Embora a empresa alegue diversas razões técnicas para a mudança de base aérea, como autonomia de voo mais segura e gestão mais eficiente pela concentração dos demais voos no estado fluminense, essas explicações servem apenas de cortina de fumaça para esconder os reais motivos desta decisão.

Para nós, a medida é conveniente para a empresa: em primeiro lugar, por que a isenta de resolver efetivamente os problemas crônicos de insegurança nos voos de Merluza e Mexilhão. Problemas que o Sindipetro-LP vem denunciando há meses. O risco de uma tragédia era iminente e, mesmo assim, os gestores nada fizeram para alterar positivamente o quadro.

Em segundo lugar, por que de forma muito conveniente afasta os trabalhadores da entidade sindical – responsável por fiscalizar as condições de trabalho e transporte, assim como por mobilizar a categoria quando necessário. Para nós, isso não tem outro nome senão prática antissindical. Há quase um ano, o Sindipetro-LP vem atuando regularmente no Aeroporto de Itanhaém, dialogando toda semana com a categoria nos embarques e desembarques das plataformas de Merluza e Mexilhão. E não foram poucas as denúncias e reclamações que recebemos da categoria.

Outra justificativa da empresa seria uma suposta economia com essa mudança de local. No entanto, os representantes da UO-BS não apresentaram nenhuma planilha de custos sustentando essa posição. Reiteramos nossa exigência para que a companhia prove, através de números, que há economia.  Ainda assim, alertamos que em hipótese nenhuma aceitaremos que a obsessão por lucro esteja acima da vida dos trabalhadores. O debate não é sobre cifras, é sobre a vida dos seus empregados.

Porque se por um lado esta decisão livra a companhia de suas obrigações com a segurança dos voos em Itanhaém, por outro gera grandes transtornos aos empregados. A maioria é contrária ao embarque por Jacarepaguá. Além de quebrar uma rotina de trabalho consolidada há mais de dez anos, grande parte dos empregados tem residência fixa na Baixada Santista ou São Paulo. Ou seja, toda a vida social e familiar está adequada a essa dinâmica.

Diversas pesquisas já comprovaram que morar perto do trabalho é sinônimo de qualidade de vida. E no caso do petroleiro que trabalha embarcado, confinado por 14 dias numa plataforma, faz muita diferença a logística adotada para que ele chegue à unidade de trabalho. Isso sem citar o fato de que reduz sensivelmente as chances de acidente. Quanto menor o deslocamento, maior a segurança. É estatístico.

Uma longa jornada
Para piorar, o fato é que a poucos dias da medida ser implantada não existe nenhuma informação concreta sobre como se dará a logística. E aquilo que a empresa já adiantou só reforça o absurdo desta decisão. A empresa está impondo uma verdadeira jornada à categoria. Pelo breve e precário relato dos gerentes, os trabalhadores terão que sair de suas casas, se dirigir ao Valongo e se deslocar de carro até o Aeroporto de Congonhas. Na sequência, após desembarcar no Aeroporto de Santos Dumont terão que fazer novo deslocamento de carro até Jacarepaguá. Num cálculo conservador, estamos falando de quase oito horas de deslocamento.

Privatização e corrupção tucana como pano de fundo
A mudança de voos de Itanhaém (SP) para Jacarepaguá (RJ) é resultado também de movimentações políticas prejudiciais não só aos petroleiros, mas a toda população da Baixada Santista. E, mais uma vez, tem o dedo privatista e corrupto dos governos tucanos.  

Em 2013, a Petrobrás concluiu uma série de investimentos na ordem de R$ 14 milhões no Aeroporto de Itanhaém. Afinal, a expectativa era de que Santos se transformasse num verdadeiro QG administrativo e operacional do pré-sal. Em contrapartida, o Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo (DAESP) – responsável pelo Aeroporto – passou a conceder descontos mensais no contrato que garantia o uso do espaço.

Apenas quatro anos depois, em 18 de julho de 2017, o governo Alckmin privatizou o Aeroporto através de uma concessão suspeitíssima para o consórcio privado Voa São Paulo. Consórcio representado, “coincidentemente”, pelo sobrinho do governador, Othon César Ribeiro. Conforme revelou reportagem da revista Época, Othon é alvo de investigação do Ministério Público por suspeita de beneficiamento nas concessões.

Na reportagem, o jornalista Thiago Herdy relata que “no primeiro contato (...), Othon disse ter sido contratado pelo consórcio apenas depois da licitação. Investigação da revista mostrou, no entanto, que ele participou de todas as sessões do certame e ainda usou terceiros para questionar uma primeira tentativa de concessão, abortada em 2016”. Para se ter uma noção da gravidade deste caso, a empresa que havia vencido a licitação, a Gran Petro, foi desclassificada simplesmente por ter gravado suas propostas em um único pen drive e não em três. Acontece que essa exigência nunca existiu de maneira clara no edital!

Cabe lembrar também que Othon é filho de Adhemar César Ribeiro, cunhado de Alckmin. Adhemar foi citado na delação da Odebrecht como arrecadador de R$ 2 milhões irregulares para a campanha do tucano, em 2010. Por conta deste pagamento, Alckmin é investigado em ação que tramita em sigilo no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Voa São Paulo em Itanhaém
Em Itanhaém, a primeira medida da Voa São Paulo foi acabar com o contrato que garantia medidas efetivas para a segurança do terminal em caso de emergência. Dentre elas, bombeiro civil e equipamentos de combate a incêndio. Além disso, informações não oficiais apontam que o Consórcio passou a cobrar da Petrobrás preços acima do valor de mercado – superiores, por exemplo, ao que era pago para o DAESP.

O fato é que, neste meio tempo a Petrobrás decidiu provisoriamente deslocar os voos para a base aérea de Santos, localizada no município do Guarujá. A informação oficial era de que, celebrado um novo contrato com a Voa São Paulo, os embarques e desembarques seriam retomados em Itanhaém. Entretanto, a empresa não só abortou o retorno, como agora informa que os voos serão realizados em Jacarepaguá.

Fruto desta escolha, cerca de 30 petroleiros terceirizados que atuavam no Aeroporto de Itanhaém foram demitidos. Diariamente, eles eram responsáveis pelos serviços de recepção, limpeza, manutenção predial e segurança patrimonial. A cidade de Itanhaém também perde, pois todos os setores da cidade indiretamente beneficiados, como rede hoteleira, restaurantes e serviços, ficam a ver navios.

Até agora, o que fica muito claro é que os maiores prejudicados são os trabalhadores. Rechaçamos essas demissões e o desprezo da gerência da UO-BS pelas demandas e reivindicações da categoria. Não iremos nos calar diante deste absurdo. Para nós, a Petrobrás tem força política suficiente para não se submeter às irregularidades do consórcio Voa São Paulo, garantindo a permanência dos voos em Itanhaém. A luta continua!