Há três anos morria o petroleiro Luiz Cabral, vítima de negligência da gestão Petrobrás

Cabral, presente!

Há três anos, no dia 31 de janeiro de 2016, morria o petroleiro Luiz Cabral. Vítima de um acidente de trabalho na Refinaria Duque de Caxias (REDUC-RJ), ele faleceu ao cair dentro de um tanque com óleo, a uma temperatura de 75 graus, enquanto fazia uma medição de rotina. Foram necessários dois dias para que o seu corpo fosse encontrado, prolongando por muitas horas a angústia e sofrimento de colegas de trabalho e familiares.  

Somente em maio de 2018, após uma longa e torturante batalha judicial, a Justiça – em 1ª instância - responsabilizou a companhia pela morte de Cabral. Para a sentença, a juíza utilizou os estudos fornecidos pelo Sindipetro Caxias sobre a insegurança dentro da refinaria. Em seu fundamento aparecem grifados fatores de risco como a corrosão presente no teto do tanque e outras falhas de segurança:

“O acúmulo de recomendações de inspeção sem atendimento estava colocando em risco não apenas o TQ-7510, como os demais tanques da REDUC” - grifei); (iv) falha de monitoramento da corrosão - atraso na execução da inspeção (...) as provas colhidas nos autos demonstram, inequivocamente, a responsabilidade da ré pelo acidente que causou a morte do genitor do autor, revelando o descumprimento de normas de segurança essenciais na prevenção do evento danoso”.

Reafirmando a lógica do lucro a qualquer custo, que contaminou a direção da companhia há anos, a assessoria jurídica da Petrobrás tentou responsabilizar o trabalhador por sua própria morte. A empresa chegou a afirmar que desconhecia o que Cabral fazia no teto do tanque, tentando desqualificar um operador reconhecidamente experiente, que era referência em Transferência e Estocagem.

Recordar para não se repetir
Manter viva a memória de Cabral, e de todos aqueles que perderam suas vidas enquanto dedicavam sua vida à Petrobrás, não é só uma forma de homenagem, é também um protesto contra a insegurança no local de trabalho. De olho apenas em redução de custos para favorecer os acionistas estrangeiros, as últimas direções da Petrobrás vêm assumindo os riscos por novos e mais graves acidentes.

Aqueles que hoje dirigem a empresa assumem a responsabilidade por novas tragédias ao implantar uma redução generalizada do quadro mínimo operacional de diversas unidades, com corte profundo de verbas para manutenção preventiva, e também ao impor o sistema de consequências, que joga sobre as costas do trabalhador a culpa por todo e qualquer acidente. E se hoje a situação do trabalhador próprio é crítica, devemos lembrar que aos terceirizados a realidade se apresenta sempre muito mais dura e cruel. São eles as principais vítimas de assédio e acidentes de trabalho.

“Embora a Petrobrás seja uma empresa de economia mista, com controle do governo federal, hoje ela opera seguindo as lógicas perversas das empresas privadas. E não podemos esquecer que é justamente esse tipo de modus operandi o responsável por crimes ambientais como o de Brumadinho (MG). Empresas privadas como a Vale são assim: só pensam no lucro”, lembrou Marcelo Juvenal, diretor da Secretária de Saúde e Segurança do Sindipetro-LP e FNP.

Para ele, a luta desenvolvida pela categoria petroleira no campo institucional e nas portas de fábrica tem sido fundamental para que eventos dessa natureza não aconteçam na Petrobrás. “A batalha contra a privatização, contra o desmonte das refinarias, é uma batalha em defesa do meio ambiente e da vida. E não só dos trabalhadores, mas também das pessoas que vivem nas regiões que abrigam unidades da Petrobrás. Se não houver apoio da população à nossa luta contra a destruição da empresa, uma das consequências será a elevação dos riscos de acidentes ampliados”, alertou.

Por isso, uma das tarefas centrais dos petroleiros é seguir fortalecendo as CIPAS e Sindicatos, que são os instrumentos da categoria para resistir à ofensiva de gerências irresponsáveis sobre nossas vidas e sobre o meio ambiente. Será coletivamente, unidos e fortes, que teremos melhores condições de barrar toda e qualquer tentativa de assédio para forçar a execução de serviços em condições inseguras.

Além disso, temos que lançar mão de todos instrumentos que a própria companhia oferece, como o Direito de Recusa. Sabemos que no dia a dia o papel da chefia tem sido transformar esta prerrogativa do trabalhador em letra morta, mas cabe a nós fazer valer nosso direito a paralisar o serviço em caso de dúvidas e/ou riscos à saúde e para a unidade. Nossa melhor forma de homenagear Cabral é justamente seguir a luta em defesa de nossas vidas e de nossa empresa.

Cabral, presente!