Patriota fake, Bolsonaro privatiza BR Distribuidora por algumas moedas a bancos estrangeiros

Brasil acima de tudo?

Nacionalista por fora, entreguista por dentro. Este é o presidente Jair Bolsonaro, responsável na última terça-feira (23) pela privatização da BR Distribuidora. Com a venda de 30% do capital da subsidiária por R$ 9,6 bilhões, a Petrobrás perde o posto de principal controladora da maior distribuidora do país. Foi o segundo e fatal ataque sobre a empresa, sendo o primeiro capítulo desse crime contra a soberania nacional a venda, em 2017, de 29% de suas ações.

Um verdadeiro filé mignon, cobiçado pelas empresas privadas há anos, foi vendido por algumas moedas e agora passa para as mãos de bancos como JP Morgan, Itaú, Santander, Bank of America, Merril Lynch, Credit Suisse, Citibank e XP Investimentos.

Para quem tem dúvidas de que a BR foi vendida a preço de banana, basta lembrar que só em 2018 ela fechou o ano com lucro de R$ 3,2 bilhões. Além de recuperar esse valor rapidamente, os novos controladores terão à sua disposição cerca de 30% do mercado de combustíveis e lubrificantes, quase oito mil postos e atuação em 99 aeroportos.

O vice-diretor de comunicação da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET), Fernando Siqueira, classificou a venda como “péssimo negócio para Petrobrás e país”. Em entrevista ao programa Faixa Livre, ele apresentou o tamanho do prejuízo aos brasileiros.

“A BR é a única distribuidora que leva combustível para os confins do Brasil, como o interior do Amapá e Rondônia. Ela leva inclusive de barco, o que outras empresas não se dispõem a fazer porque não dá lucro. O novo acionista majoritário certamente não vai querer assumir este custo e com isso não atenderá mais a população do interior do Brasil”.

No que se refere à Petrobrás, Siqueira explica que também haverá uma perda estratégica. “Quando há aumento do preço da gasolina nacional as distribuidoras privadas compram lá no exterior para vender aqui. E a BR não, sempre compra da Petrobrás - independente de qual seja o preço”. 

Isso sempre ocorreu, lembra Siqueira, mesmo diante de políticas equivocadas. Um exemplo recente é quando Pedro Parente, que comandou a Petrobras de 2016 a 2018, resolveu implantar a política de paridade com os preços internacionais, o que fez a companhia perder 32% de mercado.

Isso sem falar na sabotagem sobre o parque de refino da Petrobrás, pois desde então as refinarias funcionam com 70% da sua capacidade mesmo com condições de produzir mais e suprir a demanda interna de combustíveis. “Essa venda é um processo de privatização que o novo governo está impondo à nação, campos de petróleo de altíssima produtividade, como é o caso do pré-sal, também estão sendo entregues”, denuncia Siqueira.

Eric Gil, economista do Ibeps (Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais), lembra em seu artigo O que perdemos com a privatização da BR Distribuidora? que a privatização da BR vai na contramão do que todas as grandes petrolíferas no mundo querem, que é ter poder em todo o mercado.

"Quem ganha com estas privatizações são os bancos, fundos bilionários de investimentos e grandes especuladores. Paulo Guedes entrega todas as empresas lucrativas do país para as mãos dos seus “ex(?)-”colegas do sistema financeiro (lembrando que ele é um dos fundadores do BTG Pactual, banco que está ganhando bastante com as privatizações do governo Bolsonaro). Todos os lucros que iriam para o governo, para financiar Educação, Saúde, Ciência, Infraestrutura vai para o bolso de grandes empresários e banqueiros, principalmente no exterior."

Se inspirando no privatista e destrutivo governo neoliberal de FHC, dos anos 1990, Bolsonaro e os militares demonstram mais uma vez a demagogia de seus discursos patrióticos. A serviço dos interesses internacionais, sujam as mãos com a imposição de uma profunda recolonização do país à custa da entrega de nossas riquezas e da destruição de empregos e direitos. Fruto de uma histórica e vitoriosa luta popular, a Petrobrás foi criada para atender à população e não o lucro de grupos privados. O mesmo vale para a BR Distribuidora, que agora privatizada seguirá a mesma lógica de qualquer outra corporação: acima de tudo, o lucro.

Péssimo para o Brasil, ótimo para o estrangeiro
Se para a Petrobrás e o Brasil a venda é uma tragédia, para os abutres do mercado financeiro é celebrada como título de campeonato. “Torna-se uma corporação foi uma sábia decisão da BR Distribuidora”, disse Mauro Cunha, presidente da Associação de Investidores no Mercado de Capitais (Amec). Ex-conselheiro da Petrobras, a serviço dos interesses corporativos, uma das grandes “vantagens” salientadas por ele é que “ao deixar de ser estatal, a BR terá mais flexibilidade para contratações de funcionários”.

Ou seja, o que ele apresenta como saldo positivo é justamente o que o movimento sindical petroleiro vem denunciando desde o aprofundamento da venda de ativos. A privatização envolve, necessariamente, a destruição de direitos e demissões em massa.

Salta aos olhos o fato de que mesmo diante dessa privatização o mercado não se dá por satisfeito. Os abutres querem mais. Reportagem da Folha de S. Paulo, por exemplo, afirma que para “promover mais competição no mercado” (leia-se: mais lucros aos estrangeiros) “especialistas” também exigem da Petrobrás a efetivação da privatização de suas refinarias.

E para quem ainda acredita que privatização é o melhor caminho, mesmo diante da trágica política privatista de Collor e FHC como exemplos, basta lembrar que a própria imprensa tem sido obrigada nos últimos tempos a repercutir as diversas reestatizações que vêm ocorrendo mundo afora.

Segundo o Transnational Institute (centro de estudos em democracia e sustentabilidade sediado na Holanda), desde 2000 ao menos 884 serviços foram reestatizados no mundo. As reestatizações aconteceram com destaque em países centrais do capitalismo, como EUA e Alemanha, tidos por muitos liberais como exemplo da privatização da vida.

Na reportagem, é constatado pela entidade o que falamos há tempos. “Isso ocorreu porque as empresas privadas priorizavam o lucro e os serviços estavam caros e ruins”, sendo registrados casos de serviços públicos essenciais que vão desde fornecimento de água e energia e coleta de lixo até programas habitacionais.

Aos petroleiros, movimentos sociais, estudantis, populares e todos os nacionalistas, cabe organizar uma ampla campanha de conscientização sobre os ataques em curso para disputar a opinião pública. Somado a isso, sabemos que não há outra saída: será preciso muito luta para resistir a este projeto de desmonte nacional.