Greve petroleira afeta RPBC e produção de duas unidades é suspensa

Fura-greves operam refinaria

Poucas horas após a liberação da maioria dos grevistas confinados na unidade, a gestão da Refinaria Presidente Bernardes de Cubatão (RPBC) se viu forçada a suspender a produção de duas unidades. Informações apuradas pelo Sindipetro Litoral Paulista, neste sábado (15), confirmam a paralisação das áreas de Recuperação de Aromáticos (URA) e de destilação atmosférica (UV). Nos dois casos, o impacto para a companhia é significativo.

Com a unidade V parada, a empresa deixa de refinar 4 mil m³ de petróleo por dia, o equivalente a 25 mil barris diários. Na URA deixarão de ser produzidos mais de 900 m³ de produtos como benzeno, tolueno, xileno e hexano. Para citar apenas dois exemplos, o xileno é o produto mais caro em valor agregado da RPBC e o hexano possui alto valor por ser um insumo importante para a indústria de alimentos, sendo usado na extração de óleos vegetais.

Para o Sindipetro-LP, a parada da unidade é fruto da intransigência da gerência da RPBC. Desde que a greve foi deflagrada no dia 7 de fevereiro, a direção da empresa vem se recusando a negociar a redução das atividades da contingência com o Sindicato, culminando no confinamento de 73 trabalhadores da RPBC e 3 da UTE Euzébio Rocha por mais de 140 horas. Diante dessa postura, o departamento Jurídico do sindicato acionou a Justiça do Trabalho para liberar os trabalhadores. No dia 12 de fevereiro um habeas corpus coletivo com pedido liminar foi concedido e, desde então, apesar de todas as manobras da empresa para adiar a liberação, 70 da RPBC e 3 da UTE Euzébio Rocha foram liberados e já engrossam a greve do lado de fora.

Sem experiência, fura-greves levam insegurança às unidades
Sem efetivo qualificado e experiente para operar unidades complexas, a empresa vem destacando supervisores e coordenadores que não atuam mais na área operacional, sendo alguns há mais de dez anos, e até mesmo engenheiros. “Sem dúvida, a parada dessas unidades é fruto da realidade atual da refinaria. Esses trabalhadores, depois que decidiram se tornar “cargos de confiança” não conhecem a realidade do chão de fábrica, as peculiaridades de cada setor da refinaria que só o trabalho diário produz. Por isso, eles não têm condições de operar a planta. Em nossa opinião, para garantir a segurança das instalações e da população cubatense, que mora nas imediações, o correto era parar outras unidades também. Mas a empresa não irá dar o braço a torcer, pois a preocupação da atual gestão é só com o lucro”, denuncia Marcelo Juvenal, coordenador do Departamento de Saúde e Segurança do Sindipetro-LP.

Três grevistas seguem confinados
Exaustos e sob forte stress, todos os 76 grevistas submetidos ao confinamento na RPBC/UTE EZR pediram para serem substituídos. Exemplo lamentável dessa postura da alta administração, no último dia 10 os dirigentes do Sindipetro-LP tentaram efetuar a troca de efetivo, seguindo as exigências do ministro do TST, Ives Gandra, de permanência de 90% do quadro de trabalhadores na unidade, mas foram impedidos pela gerência.

Com a imposição do habeas corpus, a saída encontrada pela RPBC para dificultar a liberação de todos os confinados foi formular uma interpretação conveniente do despacho do juiz. Segundo a empresa, a decisão judicial determinou somente a liberação dos trabalhadores do grupo 5. Já refutamos essa alegação, pois nosso pedido se estende a todos os grupos, mas mesmo em sua lógica peculiar a gerência da refinaria cai em contradição: um dos técnicos de operação na unidade pertence ao grupo 5, justamente o único que a gestão reconhece o direito a sair da refinaria.

RPBC tentou empurrar sindicato à ilegalidade e impor multa milionária
A insistência em negar as seguidas solicitações do sindicato, amparadas no artigo 9º da Lei de Greve, não é gratuita. Em primeiro lugar, o objetivo era empurrar o Sindicato a descumprir a decisão do TST, apostando na desarticulação do movimento com a imposição da multa diária de R$ 500 mil. Em segundo lugar, pretendia forçar a substituição dos trabalhadores confinados, todos eles em greve e, portanto, alinhados à entidade sindical, por pelegos (fura-greves).

No plano da empresa essa seria a forma de garantir a produção da refinaria inalterada. Desde o início das negociações buscamos garantir a troca de efetivo, demonstrando disposição de cumprir o exigido por Ives Gandra, mas também pontuamos nosso direito a reduzir a produção respeitando o TST. Ou seja, sem afetar os serviços inadiáveis e essenciais à população. A empresa se recusou, resultando no cenário atual: duas unidades paradas e outras operadas por trabalhadores sem experiência adequada, dando margem para riscos de acidente.

Além de demonstrar insensibilidade perante a estafa física e emocional dos trabalhadores confinados, a gerência da refinaria reafirma mais uma vez estar alinhada às ordens dos bolsonaristas que ocupam a alta administração da empresa. Afinal, vem tratando o maior ativo da empresa, os seus trabalhadores, como números. E o Sindicato, sua representação, como inimigo a ser liquidado.

O departamento Jurídico segue atuando para garantir a saída dos três grevistas que seguem confinados na refinaria. Mais uma vez, parabenizamos a combativa categoria da RPBC/UTE Euzébio Rocha, que mesmo diante de todo o assédio, cansaço e desgaste emocional se manteve firme. Contra as demissões, pela manutenção dos direitos e por preço justo para o gás de cozinha e combustíveis, a greve petroleira continua!