Testes em massa deveriam ser prioridade no combate à Covid-19. Conheça os disponíveis

Pandemia

Assim como isolamento social não é opção, é necessidade contra avanço da Covid-19, a adoção de testes em massa é outra medida fundamental para combater com eficiência o novo coronavírus.

Existem três tipos de testes disponíveis no Brasil, porém, como se trata de uma doença nova, é comum que por mais de uma vez uma pessoa que apresenta sintomas do Covid-19 teste negativo. Há relatos de até seis exames negativos até que se chega a um resultado positivo.

Por isso, é importante que os testes sejam acompanhados por médicos, que avaliarão o quadro geral do paciente, levando em consideração os sintomas que apresentam e outros exames. Um estudo na publicação científica Radiology mostrou que 5 de 167 pacientes apresentaram resultado negativo no exame de laboratório, no entanto exames de imagem dos pulmões mostravam que elas estavam doentes. Seguindo um protocolo usado em casos de ebola, a OMS recomenda que um novo exame seja feito após 72 do primeiro teste negativo.

Tipos de exames disponíveis
O RT-PCR (do inglês reverse-transcriptase polymerase chain reaction) é considerado o mais eficiente no diagnóstico da COVID-19. O exame passa necessariamente por ter a solicitação de um médico. A coleta pode ser feita a partir do 3º dia após o início dos sintomas e até o 10º dia, pois ao final desse período, a quantidade de RNA tende a diminuir. Ou seja, o teste RT-PCR identifica o vírus no período em que está ativo no organismo, tornando possível aplicar a conduta médica apropriada: internação, isolamento social ou outro procedimento pertinente para o caso em questão.

Material de coleta: uso de cotonete para coleta de secreção do nariz e boca.
Tempo para coleta: a partir de 48 horas do início dos sintomas.
Tempo de demora dos exames: de 2 a 3 dias úteis.

A Sorologia, diferentemente da RT-PCR, verifica a resposta imunológica do corpo em relação ao vírus. Isso é feito a partir da detecção de anticorpos em pessoas que foram expostas ao SARS-CoV-2. Nesse caso, o exame é realizado a partir da amostra de sangue do paciente.

Para que o teste tenha maior sensibilidade, é recomendado que seja realizado, pelo menos, 10 dias após o início dos sintomas. Isso se deve ao fato de que produção de anticorpos no organismo só ocorre depois de um período mínimo após a exposição ao vírus. Realizar o teste de sorologia fora do período indicado pode resultar num resultado falso negativo. Por isso, para realizar o exame é necessário o pedido médico. Em caso de resultado negativo, uma nova coleta pode ser necessária, a critério médico. É importante ressaltar, ainda, que nem todas as pessoas infectadas desenvolvem anticorpos detectáveis pelas metodologias disponíveis, principalmente aquelas que apresentam quadros com sintomas leves ou não apresentam nenhum sintoma. Desse modo, pode existir resultados negativos na sorologia mesmo em pessoas que tiveram COVID-19 confirmada por PCR.

Material de coleta: retirada de 4 ml de sangue.
Tempo para coleta: a partir de 7 dias do início dos sintomas.
Tempo de demora dos exames: 2 dias úteis.

Testes rápidos
Estão disponíveis no mercado dois tipos de testes rápidos: de antígeno (que detecta proteínas do vírus na fase de atividade da infecção) e os de anticorpos (que identificam uma resposta imunológica do corpo em relação ao vírus). A vantagem desses testes seria a obtenção de resultados rápidos para a decisão da conduta.

O ideal é que a testagem seja feita a partir de sete dias após o aparecimento dos sintomas (como dores no corpo e tosse seca), mas há maior precisão se feito após o décimo dia. Se o exame for feito antes desse período, a chance de dar negativo é grande, mesmo a pessoa estando contaminada. Assim, ele é recomendado apenas quando a pessoa notar o aparecimento de sintomas.

Importante ressaltar que os Testes rápidos não são passaportes de imunidade com comprovação científica, como as vacinas, principalmente porque apresentam percentual elevado de erro. O Ministério da Saúde aponta que os testes rápidos apresentam uma taxa de erro de 75% para resultados negativos, o que pode gerar insegurança e incerteza se o paciente precisa ou não manter o isolamento social. Como o teste rápido não possui a mesma sensibilidade que os demais métodos, é importante ter a orientação e o acompanhamento de um médico.

Para quem optar por esse método, ou for submetido devido a necessidade do trabalho, como acontece com quem trabalha embarcado em navios e plataformas, importante não se apegar a falsa sensação de segurança se o resultado der negativo. Além de não haver garantias de imunidade ao vírus, corre-se o risco de afrouxar os cuidados, o que pode levar a adquirir a doença. É preciso exigir das autoridades de saúde e empresas o teste massivo para os trabalhadores que trabalham nessas condições, principalmente no desembarque de suas atividades, para que em caso de contágio possa ser caracterizado acidente do trabalho.

A caracterização de doença ocupacional por coronavírus foi decidida em pelo Supremo Tribunal Federal (STF), desde que comprovado o contágio por decorrência de seu trabalho, o que, por sua vez, equipara-se a acidente de trabalho.

Em 22 de março a norma 927/2020 flexibilizou as regras trabalhistas no período de enfrentamento da pandemia e definiu no seu artigo 29 que os casos de contaminação pelo coronavírus não seriam considerados ocupacionais. Com a liminar do STF, aprovada no dia 29 de abril, os trabalhadores expostos ao vírus poderão utilizar essa decisão para se salvaguardar de problemas futuros.

Testes em massa para combater o vírus
É certo que os países que começam a diminuir o isolamento submeteram suas populações a teste massivos para o novo coronavírus. O Brasil está longe disso. Com os índices de isolamento abaixo de 70%, chegando a 48% em algumas regiões de São Paulo, o avanço da doença só cresce. Nestes 70 dias de pandemia no Brasil, até o momento foram realizadas somente 340 mil testes em todo o país.

O número reduzido de testes no Brasil diminui as chances de ação das equipes de saúde no combate à pandemia, que acabam agindo apenas de acordo com a procura dos doentes por cuidados. Segundo estudos do Imperial College de Londres, para cada infectado no país, até 2,8 pessoas podem ser contagiadas.  Esse é o maior número dentre 48 países pesquisados. Para comparação, na Itália, um dos países que mais sofreu com a Covid-19, a taxa de contágio é de 0,8.