P-66 tem dois trabalhadores infectados pela Covid-19

Cresce contágio na Petrobrás

A política tardia de exames pré-embarque para os trabalhadores das plataformas, fruto da negligência da direção bolsonarista da Petrobrás com a pandemia da Covid-19, tem mostrado seus efeitos. Na última semana, três petroleiros terceirizados da Manserv, que presta serviço de manutenção na P-66, foram desembarcados por conta da pandemia. Dois deles por apresentar sintomas da Covid-19, o terceiro por dormir no mesmo camarote. No exame preliminar, feito com teste rápido, não apresentaram a doença, mas posteriormente dois deles tiveram resultado positivo após teste molecular.

Para piorar a situação, a Manserv adotou a política do lucro acima da vida, deslocando os trabalhadores para casa antes de sair o resultado dos exames. Para evitar a contaminação dos familiares, por exemplo, a melhor saída seria hospedá-los em um hotel.

Lembramos ainda que, no período em que estavam embarcados, também pode ter ocorrido a disseminação do vírus para outros trabalhadores. Afinal, o tempo de incubação varia de 1 a 14 dias, mais frequentemente cerca de cinco dias. Essa é uma estimativa divulgada pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Um potencial agravante é o percurso percorrido por eles de Macaé até o Rio de Janeiro para embarcar no Aeroporto de Jacarepaguá. Os três viajaram por quatro horas em uma van fornecida pela contratada, com outros 7 empregados, o que pode ter agravado também a situação de contágio.

Infelizmente, não se trata de um caso isolado. A doença vem se espalhando de forma vertiginosa nas unidades de terra e também nas plataformas da Petrobrás. A conduta dos gestores da Petrobrás, que não adotaram medidas preventivas para minimizar ao máximo os impactos da doença, é uma das principais responsáveis por este cenário.

Alta gestão ignorou alertas do Sindicato

E o pior, não foi por falta de aviso. Desde o princípio, o Sindipetro-LP exigiu medidas efetivas como redução de quadro de próprios e terceirizados, alterações na logística de embarque e desembarque, até fornecimento de máscaras. Mas a direção da empresa virou as costas e impôs uma escala de trabalho de 21 dias, apostando nessa medida para preservar a produtividade e, quem sabe, ajudar também no combate ao novo coronavírus.

Somente no final do mês de abril, e após muita pressão por parte do Sindipetro, os gestores da Petrobrás adotaram testes rápidos para a triagem no momento do embarque para as plataformas. Medida importante, mas insuficiente, por ser incapaz de detectar a Covid-19 em quem foi contaminada a menos de três dias. Para piorar a situação, e seguindo o negacionismo do presidente Jair Bolsonaro, o setor médico prefere tratar os sintomas como se fossem de uma “simples gripe” ao invés de conduzir a situação de acordo com a gravidade que o momento exige. Além disso, ao desembarcar nenhum teste é feito. Os embarcados só são testados se apresentam algum problema de saúde.

Abandonados à própria sorte

A Petrobrás ainda não fornece nenhum apoio aos trabalhadores que moram em regiões mais distantes, como o Nordeste ou Sul, o que faz com que a saga antes e depois da longa jornada de 21 dias seja ainda mais exaustiva e perigosa. Como se não fosse pouco, a empresa determinou a utilização de máscaras nas unidades sem o fornecimento de material apropriado, distribuindo máscaras improvisadas com TNT.

Covid-19 nas plataformas do Sistema Petrobrás

As plataformas são locais propícios para a propagação do coronavirus. Os petroleiros dividem camarotes e locais comuns que não permite um distanciamento razoável. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) o vírus pode ser transmitido pelo ar após a tosse estando cerca de 1 ou 2 metros de uma pessoa com a doença.

No Litoral Paulista a Plataforma de Mexilhão conta com um caso confirmado. Segundo dados da Federação Única dos Petroleiros (FUP), sete plataformas da Petrobrás, na Bacia de Campos, têm casos positivos para o Covid-19. São elas P-26, P-50, P-18, P-35, P-20, P-33 e P-62.

A Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) divulgou, no último dia 28 de abril, 625 casos confirmados de coronavírus nas empresas de Exploração e Produção de Petróleo e Gás Natural (E&P), sendo que 243 trabalhadores acessaram instalações marítimas de perfuração e produção.

Por conta dos números elevados de contaminação a Petrobrás teve que interromper a produção das plataformas Capixaba e Cidade de Santos. Os índices não param por aí. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) parou os trabalhos de cinco embarcações de apoio a plataformas de petróleo localizadas na Baia de Guanabara, no Rio de janeiro.

Outro dado relevante é o divulgado, no inicio desse mês, pelo Ministério de Minas e Energia (MME) que atesta que a Petrobrás conta com 510 trabalhadores e trabalhadoras (tanto próprios quanto terceirizados) contaminados pela Covid-19. Outros 1.301 estão com suspeita da doença.

A situação é desumana e demonstra que o lucro, mesmo em meio a uma crise sanitária e humanitária sem precedentes, segue acima da vida para a elite econômica e seus representantes. O Sindipetro Litoral Paulista, juntamente com os demais sindicatos da FNP, segue atuando para exigir da direção da Petrobrás medidas que suspendam imediatamente a negligência que impera em diversas unidades da empresa espalhadas pelo país.