Categoria petroleira em luto
Estamos em luto. Na manhã deste sábado (30), poucos minutos antes do ato silencioso no Edifício Valongo, em Santos, o Sindipetro Litoral Paulista e toda categoria petroleira amanheceram com a triste notícia do falecimento de Antonio Carcavalli, técnico de operação da RPBC desde 2008. Carcavalli, que tinha 58 anos, era um operário da Petrobrás, um colega de trabalho afetuoso, grevista, do lado certo da história, que já planejava num futuro breve a sua aposentadoria. Ele era muitas coisas, mas principalmente “um cara do bem”.
Carcavalli foi um dos idealizadores do União Petroleira, grupo de whats app que mantém a categoria do Litoral Paulista conectada. Ali, são discutidas táticas de greve, travadas polêmicas e discussões duras, desabafos, diálogos que reforçam a solidariedade de classe, o espírito de grupo. E, claro, volta e meia alguém se excede, alguém “perde o foco”, digita um palavrão ou até mesmo compartilha, por engano, conteúdos inadequados. Antes de contrair o vírus e travar uma luta de 21 dias no hospital pela vida, era Carcavalli o cara que botava ordem na casa. Quer dizer, no grupo. Como brincávamos, era o nosso xerife. Era ele que nos lembrava das regras e objetivos do grupo: numa frase, defender a categoria petroleira e a Petrobrás. Talento raro, conseguia ser firme e ao mesmo tempo carinhoso. Emprestando uma frase atribuída ao Che, “hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás”. Assim era Carcavalli.
Aliás, foi no grupo União Petroleira que muitos de nós soubemos de sua morte. E segue sendo neste grupo que manifestamos nossa dor, nossa saudade e recordações. Mais uma vítima da Covid-19, Carcavalli era um dos 15 petroleiros do grupo 5 que apresentaram sintomas característicos da Covid-19 após os gestores da unidade suspenderam o afastamento de um trabalhador que aguardava o resultado do teste para Covid-19. Antes de ser internado, como militante e cipeiro dedicou suas últimas semanas na RPBC à luta por condições dignas de trabalho diante da negligência da direção da companhia.
Os gestores da empresa, sob a lógica do lucro a qualquer custo, têm perpetuado a política negacionista e genocida do atual governo Bolsonaro. Os seguidos alertas da categoria e sindicato para que a empresa adote medidas efetivas no combate à doença seguem ignorados. Os gestores sujam as mãos de sangue.
Além de cruzar os braços para o combate à pandemia, a direção da empresa nos esconde a real situação da força de trabalho. Outro caso suspeito, de um petroleiro terceirizado que faleceu recentemente, está sendo apurado pelo Sindicato. Se confirmado, já teríamos na RPBC três vítimas fatais do novo coronavírus. Jorge Roberto Cláudio de Jesus, operador de máquinas que atuava na área do Coque, pela empresa Provac, foi o primeiro a falecer em decorrência da Covid-19. A pergunta que fica é: quantos de nós ainda pagarão com a vida para que a alta cúpula se sensibilize?
Homenagem
Na manhã deste domingo (31), a partir das 6h30, respeitando as orientações de distanciamento social, realizaremos um ato-homenagem, na RPBC, em Cubatão. O horário coincide com a entrada do Grupo 5, no qual Carcavalli trabalhava. Não temos dúvidas de que, se pudesse, ele nos faria essa exigência: transformar o luto em luta.
Carcavalli, presente! Hoje e sempre!