Quantos mais precisarão morrer para a Petrobrás proteger seus trabalhadores?

Covid-19

Uma das bases mais combativas da categoria, a RPBC é novamente destaque no Sistema Petrobrás. Mas, infelizmente, pela irresponsabilidade da gestão da refinaria no combate ao novo coronavírus. Desde o início da pandemia, no dia 11 de março, os petroleiros e petroleiras da unidade sofrem com o descaso e negligência gerencial. 
Só na RPBC, até o fechamento desta edição registramos a morte de 3 petroleiros. Outros 130, entre próprios e terceirizados, já testaram positivo para a Covid-19. E diante da ausência de medidas efetivas de combate ao vírus, as vidas perdidas não são fruto de uma fatalidade em função da pandemia. Sem a omissão da direção da companhia, que se recusa a adotar medidas básicas, a Covid-19 não seria tão devastadora sobre a categoria petroleira.

Durante todo o mês de março, Sindicato e CIPA exigiram da companhia medidas preventivas e ações básicas como distribuição de máscaras e álcool gel. No entanto, ao longo do mês de março a única iniciativa tomada pela gestão da refinaria foi alterar a escala de trabalho, nos grupos de turno, de 8 para 12 horas.

O fornecimento de máscaras e álcool-gel para a força de trabalho passou a ser garantida somente em abril, após 40 dias do início da pandemia. E os testes rápidos para toda força de trabalho passaram a ser realizados apenas no final de maio, cerca de vinte dias após a reivindicação do sindicato. Se não são demonstrações concretas do descaso da companhia com a vida dos trabalhadores, o que mais são tais evidências?

Por fim, lembramos o irresponsável e trágico liberou geral para o retorno de trabalhadores que são diagnosticados com a Covid-19. Esse procedimento, aliás, segue orientando a conduta do setor médico da refinaria, razão pela qual o Sindipetro-LP já formalizou denúncia ao Conselho Regional de Medicina por descumprimento do Código de Ética Médica. 

E para todas essas situação absurdas relatadas, lembramos que a realidade dos petroleiros terceirizados é ainda pior: além de correr riscos ainda maiores de contaminação, já ocorreram cerca de 100 demissões e em alguns contratos, como no caso da C3, foi imposto redução de jornada com 30% de redução salarial.

E embora a RPBC seja o exemplo mais dramático no Litoral Paulista, a situação também é crítica nas plataformas. Além da demora em adotar procedimentos de prevenção à Covid-19 nos embarques do Aeroporto de Jacarepaguá (RJ), realizando tardiamente os testes rápidos, já recebemos diversas denúncias de situações que expõem os trabalhadores ao risco de contaminação. Trabalhadores forçados a embarcar, mesmo após contato com petroleiro comprovadamente contaminado; trabalhadores forçados a usar o mesmo transporte de colega com teste positivo; desembarques sem adoção de testes, sob risco de levar o novo coronavírus para dentro de casa, contaminando os familiares. 

A pergunta que fica é quantos de nós ainda pagarão com a vida pela negligência da Petrobrás em adotar medidas rigorosas no combate à Covid-19? A compreensão de que os trabalhadores só podem confiar em si mesmos, em sua capacidade de união e solidariedade, nunca fez tanto sentido quanto nesses tempos sombrios. Resistiremos!

Sem rigor científico, nota técnica da Petrobrás tenta legalizar descaso com a vida

Descumprindo o que preconiza a Organização Mundial da Saúde (OMS), que indica isolamento social de no mínimo 14 dias para casos suspeitos, a empresa se apoia em um protocolo interno, chamado de Nota Técnica 28, para seguir produzindo e lucrando. Através dela, a direção da companhia obriga o retorno ao trabalho daqueles que testaram positivo a presença dos anticorpos IgM, resultado que sozinho já assegura dois cenários preocupantes: a contaminação por Covid-19 em seu estágio inicial ou em sua fase ativa, quando se está no pico da infecção com possibilidade de transmissão.

No caso das plataformas, ao identificar IgM positivo, a empresa deixa o trabalhador em quarentena por apenas 7 dias e promove o embarque sem teste.
Expondo toda força de trabalho ao risco de contágio, a norma da empresa se contenta com os resultados obtidos a partir de testes rápidos, ignorando a cobrança do Sindicato por um diagnóstico mais preciso, por exame de alta confiabilidade do tipo RT-PCR. Com isso, além de se chocar com a OMS, a empresa também contraria todos os pesquisadores que produziram trabalhos sobre o tema.

No dia 8 de maio, em estudo minucioso, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vinculada ao Ministério da Saúde, alertou que o uso dos testes rápidos, pelo governo e empresas para legitimar o retorno ou permanência no trabalho, tem elevado as situações de risco. “Esses testes, com altas taxas de falsos positivos e falsos negativos, são incapazes de assegurar que os anticorpos são específicos para o novo coronavírus e garantir proteção contra a doença, a chamada imunidade contra o vírus. Ou seja, não é um “passaporte de imunidade” para que o trabalhador circule livremente nos locais de trabalho e nas ruas. Pelo contrário. A aplicação massiva de testes rápidos para fins de certificado de imunidade e justificar a suspensão ou o relaxamento das medidas de distanciamento social pode ser um passe livre para aumentar a transmissão do novo coronavírus”.