Gasolina de avião adulterada importada pela Petrobrás reacende defesa da produção na UGAV

Hibernando há 2 anos

A investigação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e da Agência Nacional de Petróleo (ANP) sobre suspeita de adulteração de gasolina de aviação distribuída no Brasil voltou o foco do problema da importação de combustíveis para a refinaria Presidente Bernardes de Cubatão (RPBC).

Até que o problema com os combustíveis fosse denunciado, a UGAV, única unidade de produção de gasolina de aviação da América Latina permanecia hibernando desde agosto de 2018. A parada de manutenção vem sendo adiada desde então. Antes da denúncia de adulteração de combustíveis, a Petrobrás estava programando a parada de manutenção para janeiro de 2021.

A hibernação da unidade cumpre o compromisso do governo brasileiro com as grandes empresas do petróleo estrangeira, beneficiadas pela política de estímulo a importação de derivados de 2016, quando o governo de Michel Temer determinou, por meio de Pedro Parente, então presidente da Petrobrás, que a empresa diminuísse a produção de combustíveis nas refinarias, aumentando com isso os custos de produção para abrir o mercado de derivados do petróleo para importação e a adotasse a paridade do preço dos combustíveis ao mercado internacional. Manter a UGAV tornou-se desinteressante para os planos de entrega da riqueza da empresa à iniciativa privada.

Agora, diante do problema e da interrupção pela BR distribuidora do fornecimento de um lote de gasolina de aviação importada e com a confirmação da Petrobrás para possível adulteração do combustível, a refinaria prepara a parada de manutenção para a próxima semana, com possibilidade de retorno da produção da UGAV a partir de outubro.

Segundo as agências reguladoras, o combustível adulterado pode ter causado danos e corrosões em tanques de combustível e em peças de pequenas aeronaves, além de vazamentos. Cerca de 12 mil aviões usam esse combustível para voos de táxi-aéreo, particulares ou de instrução.

 

A retomada da produção da UGAV acontece a contragosto para a gestão bolsonarista no comando da empresa. Até que entrasse em hibernação, há dois anos, a gerência da unidade vinha reduzindo o efetivo. Com a hibernação, além da redução do turno, alguns trabalhadores estão prestes a deixar a empresa, por terem aderido ao PDV. Outros estão afastados por serem do grupo de risco do coronavírus. Nesse sentido, o sindicato vem discutindo com a empresa pela reposição do quadro para manter o efetivo mínimo. É urgente a abertura de novos concursos públicos para gerar empregos e repor os quadros reduzidos em unidades da Petrobrás por todo o país.

Sem produção na UGAV o efetivo atual da unidade é de apenas duas pessoas, ao iniciar a parada, haverá apenas um operador na área. Sem ninguém no painel, com ácido estocado, os riscos para a unidade, para os trabalhadores e para a comunidade ao redor são imensos.

Da parada de manutenção ao fechamento
A UGAV foi fechada inicialmente com o propósito de passar por pintura geral, mas até hoje segue sem operação, legitimando a necessidade de importação da gasolina de aviação distribuída no país, vindas do Golfo do México e dos Estados Unidos.

Na ocasião, a empresa apresentou um estudo que apontava necessidade de adequações de segurança em todas as suas unidades. Dentro do estudo, a empresa apresentou uma simulação que apontava um risco para a região sem precedentes. No entanto, de acordo com os trabalhadores, o estudo foi feito com medidas de tubulação e vazão diferentes das trabalhadas na unidade desde 1984, apenas como forma de justificar o fechamento da unidade.

Até que o Hazop determinasse a paralisação total das atividades da UGAV, a empresa ignorou as recomendações dos operadores para resolver problemas que só agora estão sendo colocados como urgentes, mas que poderiam ter sido resolvidos sem necessidade de desligar toda a unidade.

A produção da UGAV atendia com sobra o mercado interno e os demais países da América Latina, porém armazenar o excedente e distribuir a gasolina exigia um custo visto pelos atuais gestores da empresa como altos demais. Tanto que durante algum tempo a Petrobrás passou a vender toda produção da UGAV para uma empresa argentina, que depois revendia para as empresas de aviação.

A denúncia de adulteração de combustíveis importados foi apenas uma dentre tantas irregularidades causadas pelo desmonte do sistema Petrobrás que ainda vão aparecer para prejudicar o país e desvalorizar ainda mais a empresa. O setor do agronegócio já sente os efeitos do fechamento da fábrica de fertilizantes de Araucária, no Paraná, a Petrobrás tem pago bilhões pelo aluguel dos dutos que vendeu para escoamento de produção, mesmo não utilizando devido a redução da produção, dentre outros crimes de lesa pátria que ainda teremos que pagar a conta.

É mais um exemplo do que a gestão privatista pode fazer com a Petrobras, entregando a empresas estrangeiras nossa capacidade de produzir os derivados necessários ao país, e se tornando um mero exportador de petróleo cru, para depois comprar os produtos mais caros.

Uma mobilização nacional urgente precisa ser construída em defesa da Petrobrás, ou choraremos não apenas prejuízos e desemprego, mas a morte de vidas inocentes, vítimas da ganância de um governo entreguista e covarde.

Basta de perda!
Merecemos mais!