Em processo de privatização, Tebar passa por sucateamento, que ameaça vidas e coloca a comunidade em risco

Com a "granada no bolso”

Não é exagero dizer que o Porto de São Sebastião é uma granada, prestes a explodir. Como é de praxe quando um ativo entra em processo de desestatização, como é o caso do Porto de São Sebastião, empurrar os problemas com a barriga vira palavra de ordem para impedir que qualquer melhoria seja feita, dando lugar ao sucateamento para baixar seu valor.

A redução dos quadros de efetivos do Tebar é uma dessas “artimanhas” do sucateamento, e vem refletindo na saúde dos trabalhadores e na falta de manutenção mínima para manter a estrutura funcionando, o que já dá sinais de total desgaste e anuncia o colapso de todo o equipamento. Não fosse a atuação dos técnicos de manutenção, que trabalham com recursos limitados, mas com responsabilidade, a unidade já teria sofrido um acidente mais grave.

Um exemplo foi a desativação de mais uma linha, que está sendo colocada fora de operação por apresentar furos, vazamentos, braços que vazam óleo hidráulico e respingam por válvulas para o mar, navios e terminal. 

São braços com mais de 15 anos de uso, que devido ao descaso dos gestores do terminal, não podem mais voltar a operar na forma original. Para não parar a produção totalmente, foram improvisadas soluções que de temporárias viraram permanentes. Um caso específico foi a "solução" encontrada pelos gestores do terminal, que utilizaram um mangote, que não tem dispositivos de segurança, em substituição aos braços danificados.

Esse único mangote continua funcionando até hoje e é usado para abastecer de diesel os quatro píeres, passando de um para o outro, em um trabalho manual feito por trabalhador que hoje tem a função de amarrador, caldeireiro e mecânico.

No píer que faz a operação ship to ship (STS), são três “gatos”, sem garras para cabos de amarração, que “realizam” o serviço, e o estado dos que estão em operação é de pura ferrugem. Os amarradores fazem verdadeiras mágicas ao improvisarem manobras por outros equipamentos que também não estão funcionando.

Com a redução de pessoal, as manutenções preventivas sumiram, as corretivas demoram, e muitas vezes, quando acontecem nada é trocado, gerando desgaste em série, como nos braços mencionados.

Problema na comunicação
Enquanto os equipamentos se desfazem por falta da manutenção correta, os trabalhadores não são ouvidos e embora promovam vários embates com os gestores do Tebar, nada acontece. Há tempos os operadores do terminal reclamaram ao cotur sobre as falhas do rádio no píer, que desde sua implementação mantém a comunicação inaudível. Mais uma vez, um “jeitinho” foi dado e já estão há meses usando o canal marítimo 14 para o píer norte, sem backup, com apenas uma pessoa atendendo três rádios ao mesmo tempo.

No atual molde de trabalho do terminal, nem mesmo é possível reclamar no relatório, o que faz com que não haja registro do que ocorre nos píeres e no controle de navios, que ficam sem relatórios.

As Listas de Verificação (LV), que são feitas em papel, não dão respostas para as falhas apontadas e quando se precisa do documento, simplesmente “não acham”. Nesses documentos são relatados, dentre outros problemas, os defeitos dos rádios e defeito no sistema de aproximação, que alertava quando um navio se aproximava muito rápido do píer, quando estava em ângulo errado ou se desgarrando do berço e para isso emitia alarme sonoro na sala e num placar externo.

Impossibilitados de olhar os alarmes que agora vão para um aplicativo de celular, os operadores ficam na área no momento da manobra, se expondo aos riscos que poderiam ser evitados se o sistema funcionasse.

O sistema de monitoramento por câmera (CFTV) é outro problema no terminal. Câmeras da operação foram tiradas, sendo passadas para a segurança do terminal, ficando disponível acesso a apenas duas em cada píer.

Eram quatro por píer, antes da instalação de mais de 100 equipamentos novos, focados em segurança patrimonial, nenhum a mais para monitorar as operações do píer, sendo que as que estão em funcionamento não podem chegar, por exemplo, naquele mangote citado.

O descaso no Porto de São Sebastião arrisca com a segurança dos trabalhadores, que podem pagar com a própria vida o descuido das autoridades. Além dos problemas relatados, há ainda problemas com o sistema de incêndio do porto, da Estação de Tratamento de Efluentes (ETE), o que recai sobre o próximo item das denúncias do sindicato: pressão sobre os trabalhadores.

A pressão enfrentada pelos trabalhadores acontece de forma silenciosa, por omissão das chefias ao não responderem um e-mail, ao resolverem apenas um item de uma lista com mais de 10 reclamações, sendo claro, realizado sempre o que for mais fácil de resolver, dentre outros.

A gerência da unidade tem aplicado punições aos trabalhadores que se recusam realizar serviços inseguros, muitas vezes alegando que a recusa se deve não pelo risco à vida do empregado, mas por se tratar de “algo pessoal” contra quem deu a ordem.

Nem mesmo as reuniões pré-serviço, que antes faziam parte da cultura do Tebar, estão sendo realizadas, até mesmo os alertas de SMS não são feitos mais.

São somados aos problemas de redução de quadro, a falta de tempo para ler padrões e dar atenção aos detalhes, fazer treinamentos no local de trabalho e mais: problemas no holerite, sempre com valores para menos, como nunca antes aconteceu; atraso na entrega de materiais para melhorar a ergonomia, na fila desde 2011, e como “em compra ou em solicitação”, mas sem a melhoria; a aplicação do Plano de Ação de Benzeno, que está para ser implantado desde 2006, mas que não há movimentação para isso, pelo contrário, os trabalhadores estão cada vez mais expostos; e o excesso de horas extras, em plena pandemia, com trabalhadores registrando mais de 100 horas extras, completamente expostos ao vírus e outras emanações prejudiciais à saúde.

Para tudo isso, é urgente que os gestores do Tebar sejam responsabilizados, sob risco de que algo somente seja feito quando um acidente fizer uma vítima fatal no porto, ou o que pode ser o mais certo a acontecer, que o terminal seja fechado parcialmente, reforçando a narrativa de que privatizá-lo é a única solução plausível.