Técnico de manutenção embarcado em Merluza pega covid e morre, após cinco dias internado

Por negligência da empresa

Há mais de um ano, o Sindipetro-LP tem reportado a morte de vários petroleiros, aposentados e da ativa, vítimas da covid-19. São mais de 500 mil mortes em todo o país, e infelizmente, a cada dia, continuamos recebendo mais notícias de mortes pela doença causada pelo coronavírus, que para nós não são apenas números, mas parentes, amigos e colegas, muitos contaminados dentro do próprio trabalho.

Hoje, infelizmente, lamentamos a perda do petroleiro Renato Soares, de 58 anos, mecânico na plataforma de Merluza, que após cinco dias internado, faleceu no dia 4 de junho, vítima da covid-19. O fato foi informado ao sindicato no dia da morte do petroleiro, no entanto, devido ao trabalho minucioso da diretoria do Sindipetro-LP em levantar todas os fatos que levaram ao óbito do trabalhador, cabe aqui ratificar a responsabilidade da empresa em mais essa morte no Sistema Petrobrás.

Ao que tudo indica, Renato foi infectado pelo coronavírus durante seu embarque, que naquele período, por mais uma ingerência da empresa na escala de trabalho dos petroleiros, tinha sido estendida para 21 dias. Antes de embarcar, como é de praxe, o trabalhador passou pelo período de confinamento pré-embarque, no hotel, tendo sido testado negativo para a Covid-19.

Três dias após sua chegada em Merluza, no dia 28 de abril, o primeiro sinal de que um surto de Covid-19 tinha tomado a unidade fez com que a Petrobrás retirasse por voo sanitário, três petroleiros com sintomas da doença. Após esse desembarque, outros dois voos sanitários foram feitos no dia 3, com três sintomáticos, e em 11 de maio, com dois casos suspeitos de covid-19. Segundo apuração feita pelo sindicato alguns resultados dos testes deram positivo para a covid-19 para esses trabalhadores. 

Apesar do surto, a gerência de Merluza manteve as atividades na plataforma. Após os 21 dias na plataforma, no dia 16 de maio, Renato desembarcou normalmente no aeroporto de Jacarepaguá, sem que, assim como os demais que desceram com ele, fosse testado após o desembarque, uma vez que o coronavírus estava circulando pelos ambientes de trabalho.

Somente no dia seguinte, 17, o trabalhador chegou em sua casa. Dois dias após estar em casa, ou seja, três dias após desembarcar de Merluza, Renato apresentou sintomas como coriza, calafrios, dor no corpo, dor de garganta e febre.

No dia 21 o petroleiro fez teste para o vírus, que deu positivo para a covid-19. Na semana seguinte, Renato foi internado com dificuldade de respirar. Cinco dias depois, no dia 4 de junho, Renato veio a falecer.

Mesmo com tantas mortes, gestores seguem colocando trabalhadores em risco
A Petrobrás regista oficialmente 45 mortes de petroleiros próprios vítimas da covid-19 em suas unidades, sendo 30 casos em teletrabalho, 14 trabalhadores em regime presencial e um de férias. A empresa ignora o número de petroleiros terceirizados mortos pela covid-19.

Somente no Litoral Paulista, foram registradas nove mortes, entre próprios e terceirizados:
1- 21/05/2020 Jorge Roberto Cláudio de Jesus, operador de maquinas da Provac/RPBC;
2- 29/05/2020 José Carlos, mecânico da Comau/RPBC;
3- 30/05/2020 Antonio Carcavalli, operador de utilidades da RPBC;
4- 15/04/2021 Ricardo Moratto, Vigilante da Evik/RPBC;
5- 02/05/2021 Uilson, caldeireiro da Normatel/RPBC;
6- 21/05/2021 Everaldo, engenheiro de manutenção da P-66;
7- 25/05/2021 Ricardo, engenheiro de poços da UO-BS;
8- 02/06/2021 Wilma, analista da Bureau Veritas/UOBS;
9- 04/06/2021 Renato Soares, mecânico na Plataforma de Merluza.

Todos esses trabalhadores foram vítimas da ineficiência dos gestores da Petrobrás, negacionistas que são, assim como o governo federal que comanda a empresa, que apenas tomam medidas que refletem no aumento de lucro dos acionistas, deixando os trabalhadores à própria sorte.

Na quinta-feira (17), em reunião da FNP com a Estrutura Organizacional de Resposta (EOR), o sindicato questionou a empresa sobre o protocolo de desembarque e acompanhamento das pessoas das plataformas, como ocorreu em Merluza.

O Sindipetro-LP sempre cobrou a empresa sobre as medidas que adota para impedir a disseminação do coronavírus nas plataformas. Para o sindicato, há risco no compartilhamento dos ambientes de uma plataforma, como camarotes, oficina de manutenção, restaurante, banheiros, salas de permissão de trabalho e no sistema de ar condicionado central, este último pode transportar o vírus de um ambiente para o outro.

A FNP vem cobrando junto à EOR, desde o início da pandemia, que a empresa implante a testagem em todos que desembarcam das plataformas, pois até mesmo assintomáticos podem carregar o vírus.

Nessa altura da pandemia, já na terceira onda da covid-19 e com novas cepas, o sindicato tem ainda que enfrentar e questionar à EOR a conduta dos médicos da RPBC, que querem suspender os atestados médicos de trabalhadores que estão com sequelas da covid, querendo colocá-los de volta ao trabalho, não observando os atestados médicos e laudos de especialistas que estão tratando os funcionários.

Para se ter ideia da omissão da empresa, apesar das inúmeras solicitações por máscaras PFF2 para os terminais da Transpetro do litoral paulista, prometido pela EOR, até agora a empresa não disponibilizou as máscaras, o que foi cobrado novamente na reunião com a empresa.

Petroleiro, participe das pesquisas. Valorize a Ciência!
O sindicato tem feito parcerias com entidades que combatem o coronavírus, dentre essas iniciativas, os petroleiros que tiveram Covid-19 desde o início da pandemia podem contribuir respondendo os questionários da Fiocruz, USP E UNESP, que buscam com as respostas, medidas mais eficientes para controlar o vírus nos locais de trabalho. Para participar, clique aqui.

A morte do petroleiro Renato é um flagrante caso de omissão da empresa, que cria os próprios protocolos, independendo do que preconiza a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o próprio Ministério da Saúde.

Para atender a necessidade da família, o sindicato apurou profundamente o caso e deu início a abertura da Comunicação do Acidente do Trabalho (CAT) junto ao INSS. A assistente social do sindicato também está prestando ajuda à família do petroleiro.

Basta de mortes por negligência da empresa! Quantos mais precisam morrer até que se leve a sério a situação da pandemia no Brasil?

A diretoria do Sindipetro-LP e funcionários se solidarizam com a dor da família. O sindicato continuará lutando para garantir o direito dos trabalhadores.

Renato era casado, deixa esposa e um casal de filhos.

Renato Soares, presente!