Triste estatística
Com três dias de diferença, mais dois trabalhadores entraram para as estatísticas de óbitos no Sistema Petrobrás. Os dois eram petroleiros terceirizados. A primeira morte ocorreu no último sábado (25). Erick Gois, da empresa Astromarítima, que morreu durante o treinamento de lançamento de bote de serviço. Segundo informações do site do Sindipetro-NF, o acidente aconteceu na embarcação Astro Tamoio, que atende a Bacia de Campos, mas que estava na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.
Nesta segunda-feira (27), Audo Alves da Hora, técnico instrumentista na empresa Quality que atuava na Refinaria Abreu e Lima (RNEST), no Complexo de Suape, em Ipojuca, no Grande Recife, perdeu a vida em um acidente de trabalho ocorrido durante a manutenção de um equipamento na unidade de ar comprimido.
Os dois são vítimas daqueles que hoje dirigem a empresa. A alta cúpula da empresa assume a responsabilidade por novas tragédias a partir do momento que resolveu implantar uma redução generalizada do quadro mínimo operacional de diversas unidades, com corte profundo de verbas para manutenção preventiva, e também ao impor o sistema de consequências, que joga sobre as costas do trabalhador a culpa por todo e qualquer acidente. E se hoje a situação do trabalhador próprio é crítica, devemos lembrar que aos terceirizados, como é o caso dos trabalhadores mortos, a realidade se apresenta sempre muito mais dura e cruel. São eles as principais vítimas de assédio e acidentes de trabalho. Para se ter ideia, entre 1995 e 2017 houve 372 mortes de petroleiros. Destes, 303 eram terceirizados. Para a direção da Petrobrás e para os governos, são apenas números.
Atrelado a isso, a política de privatização do governo Bolsonaro, seguida à risca pela atual gestão da companhia tem aplicado a fórmula do sucateamento e desmonte do Sistema Petrobrás, promovendo a saída de profissionais altamente capacitados e treinados, sem substituí-los via concurso público, e ainda pior, transformando técnicos especializados em meras peças de reposição para “tapar buracos” em vagas nem sempre de especialidade desses profissionais.
Para piorar o quadro, que por si só já é lamentável, a gestão da Petrobrás costuma se esquivar de suas responsabilidades sobre mortes e outros acidentes em suas unidades, pondo a culpa dos sinistros em algum ‘mal súbito’ ou, como é de costume também, culpando o próprio trabalhador por sua ‘falta de percepção de risco’.
Está na hora de alguns gestores serem responsabilizados, pois talvez, somente assim, o lucro não será mais importante do que preservar as vidas dos pais e mães de família que estão, literalmente, dando a vida pela empresa. A saúde e segurança do trabalhador são peça chave na prevenção de acidentes do trabalho.
O Sindicato tem denunciado sistematicamente a situação, promovido paralisações e buscado soluções via judicial para tentar reverter o quadro, mas os problemas se agravam a cada dia. A força de trabalho tem convivido diariamente com a insegurança nas plantas e o risco iminente de uma tragédia ou um surto de Covid-19.
Infelizmente esses não serão mais dois casos de óbito dentro de uma empresa já que a famigerada Reforma da Previdência e Trabalhista atrelada à redução das normas regulamentadoras de trabalho vem reduzindo direitos e expondo ainda mais os trabalhadores ao capitalismo onde o lucro está acima de tudo e de todos.
O que aconteceu com esses petroleiros é a prova mais do que concreta que estamos no caminho certo ao lutar não só pela garantia de emprego, mas também contra a privatização e garantia que a força de trabalho possa continuar nas bases onde está seu núcleo familiar.
Alemoa
A greve no Terminal da Alemoa, que chegou ao 14º dia, luta contra a redução do efetivo e por condições de maior segurança na unidade. Com efetivo reduzido a menos do mínimo, com sucessivas dobras que tiram dos trabalhadores a agilidade e clareza nas ações, e sem uma brigada de incêndio própria e incentivada para atuar em uma situação de emergência como a que aconteceu na Ultracargo ou venha acontecer, os moradores da circunvizinhança e petroleiros da unidade estão literalmente contando com a sorte de que um acidente de tamanha proporção não ocorra novamente.
O Terminal da Alemoa recentemente foi reclassificado pela NR-20 como sendo terminal de Grau 3 em função do alto volume de inflamáveis armazenados. Vale destacar que unidade carece de automação e que vem operando com equipamentos antigos. Além disso, teve seu quadro de manutenção reduzido de maneira significativa.
O Sindipetro reivindica no mínimo 10 operadores e um supervisor para o terminal por turno. A Agência Nacional de Transporte Aquaviários (ANTAQ) elaborou um edital que preconiza os limites dos leilões e as condições estabelece que na área maior o terminal deva operar com segurança com 55 operadores. O número significa 11 operadores por turno. No documento também fica estabelecido que na área menor o local tenha que contar com cerca de 29 operadores essa é uma média de seis operadores por turno. Na conta são estabelecidos 17 operadores mais os supervisores. Atualmente o local opera com apenas nove operadores por turno. Isso demonstra que existe um total descaso com a segurança por parte da gestão do terminal. O movimento só será encerrado quando os gestores da unidade recuarem dessa decisão que só visa o lucro em detrimento da vida.
Basta de mortes no Sistema Petrobrás! Não a venda de ativos!
Erick e Audo, presentes!