Comparando a rentabilidade da Petros com outros planos: um cenário preocupante?

Por Eric Gil Dantas, economista do OSP e IBesp

A Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), preocupada com o plano previdência da categoria petroleira desde 2020, quando os petroleiros assinaram um termo sobre o equacionamento, referente a 2015 e a 2018, vem acompanhado a evolução do patrimônio dos seus participantes. Desta forma, a FNP encomendou um parecer do Ibeps sobre a rentabilidade da Petros.

Neste artigo, Eric Gil Dantas, economista do Ibeps e do Observatório Social do Petróleo (OSP), analisa comparativamente a rentabilidade dos planos da Petros e de outras entidades, com a finalidade de dimensionar o desempenho da Petros diante do cenário nacional.

A princípio, neste texto, ele mostra que o fundo dos trabalhadores da Petrobrás vem com um desempenho financeiro preocupante. Mas deixaremos para um segundo artigo uma análise sobre os motivos que levaram a Petros a ter uma rentabilidade inferior ao que se esperava.

A Petros no cenário nacional

Os planos da Petros (Petros 2, PPSP Repactuados e PPSP Não-repactuados) estão com uma rentabilidade baixa nos últimos anos. Isto pode ser visto tanto comparando com outros planos de previdência complementar fechados, quanto comparando com as próprias metas de rentabilidade anunciadas pela Petros.

No Gráfico 1, selecionamos (i) cinco outros planos de previdência complementar de estatais ou de servidores públicos, (ii) a média nacional calculada pela Abrapp (Entidades Fechadas de Previdência Complementar – EFPC) e (iii) a taxa de juro padrão (INPC + taxa de juros parâmetro de 4,46% a.a.). O dado é referente à rentabilidade acumulada de cada um destes entre os anos de 2018 e 2021, ou seja, em quatro anos. O cálculo foi feito a partir das rentabilidades de cada ano[1].

Como podemos enxergar, os planos da Petros tiveram os desempenhos mais fracos dentre os dados selecionados. Se considerarmos a média nacional (EFPCs) o desempenho foi consideravelmente mais baixo, o PPSP-Repactuados (o que teve apresentou maior rentabilidade), por exemplo, rendeu 12,37 pontos percentuais a menos do que a média nacional, e o Petros 2 rendeu 22,66 pontos percentuais a menos.

Gráfico 1 – Rentabilidade anual acumulada entre os anos de 2018 e 2021 de planos de previdência complementar selecionados (em verde são os planos da Petros)



Até aqui comparamos os dados anuais, agora vejamos o que está acontecendo neste ano de 2022. No Gráfico 2 temos os dados dos planos que disponibilizaram os números mensais até junho deste ano. Como podemos visualizar, neste ano a Petros segue com um desempenho inferior ao dos demais planos. Só a rentabilidade do Funpresp não foi superior ao dos planos da Petros.



A Petros diante do espelho: rentabilidade e objetivo de retorno

Agora vamos comparar a rentabilidade da Petros com o seu próprio objetivo de retorno.

Quando comparamos rentabilidade e objetivo podemos ver que os últimos quatro anos não foram muito positivos. No Petros 2 só em 2019 que o plano rendeu mais do que tinha por objetivo, 4,74 pontos percentuais a mais. Mas em 2018 e 2021 chegou a ter rentabilidade 12 pontos percentuais inferior ao que tinha por objetivo. Nos dois PPSP o problema parece ser um pouco menor. Só o ano de 2021 foi destaque negativo, com rentabilidade quase 20 pontos percentuais inferior ao que tinha por objetivo. Mesmo assim, ainda têm uma rentabilidade mais próximo do objetivo do que o Petros 2.



Neste ano de 2022 a rentabilidade dos planos está mais próxima do objetivo. Até agosto de 2022, a Petros 2 quase atingiu seu objetivo de render 7,7%, e os PPSP ficaram 2 pontos percentuais abaixo do objetivo, mas ainda assim rendendo 5,4% e 5,5% (o INPC acumulado até agosto foi de 4,65%).

 

Em síntese

A Petros vem em uma trajetória inferior ao dos outros planos do país, com uma rentabilidade consideravelmente mais baixa do que os demais planos. Além disto, vem apresentando desempenho inferior às suas próprias metas. No ano passado, o Petros 2 ficou 12,5 pontos percentuais abaixo da meta e os PPSP 19 pontos percentuais abaixo da meta. Tudo isto deve preocupar os trabalhadores da Petrobras, pois sucessivos desempenhos negativos podem prejudicar a longo prazo a sua aposentadoria, ainda mais em um contexto global de alta inflação.

No próximo texto, tentaremos entender o motivo destes resultados, analisando os relatos descritos nos relatórios da própria Petros, da Abrapp e de outros planos fechados de previdência complementar.

 

[1] Os números não necessariamente equivalem ao exato crescimento do montante de cada plano, haja visto que pode haver novos aportes dos beneficiários a fim de equilibrar as contas.