O que mostra o primeiro resultado financeiro da Petrobrás sob o governo Lula?

Ppr Eric Gil Dantas, economista do Ibeps

Por Eric Gil Dantas, economista do Ibeps e do Observatório Social do Petróleo (OSP)

Tivemos nesta quinta-feira, 11, a publicação do primeiro resultado financeiro da Petrobras sob o governo Lula. A princípio poderíamos esperar grandes novidades, mas até agora nada mudou substancialmente na política da empresa, além disto, o cenário do mercado de petróleo e de derivados mantém-se próximo ao do ano passado, com os preços um pouco menores, é verdade, mas ainda altos em perspectiva histórica. Neste contexto, a Petrobras apresentou o seu lucro líquido de R$ 38,2 bilhões, próximo ao que a estatal vinha apresentando de 2021 para cá.

Vejamos em mais detalhes.

O resultado em números

Os números da Petrobrás não tiveram grandes mudanças. O lucro líquido e as receitas de vendas deste primeiro trimestre estiveram em conformidade com o que estamos vendo desde 2021, quando começou uma forte escalada de preços do barril de petróleo e dos combustíveis, como podemos ver no gráfico a seguir. 

Gráfico 1 – Receita de vendas e lucro líquido trimestrais da Petrobrás (em bilhões de R$)

A manutenção destes resultados pode ser vista tanto do ponto de vista da produção, quanto do preço. Em termos de produção de petróleo e gás, a companhia manteve-se constante, com uma leve queda de 0,3% se comparada à média de 2022. Por sua vez, no refino houve uma queda significativa, a empresa reduziu em 5,2% a produção de derivados por conta da privatização da REMAN. Já em termos de preços, apesar de o brent (em reais) ter caído 19% neste primeiro trimestre, se compararmos à média anual de 2022, o preço dos derivados caiu muito menos, apenas 4%, freando a redução nas receitas de vendas. Importante pontuar que a Petrobrás vem seguindo o PPI, o que garante a manutenção de preços altos dos derivados, traduzindo-se nas receitas citadas acima. 

Gráfico 2 – Preços anuais e trimestrais do brent (R$) e dos derivados básicos vendidos no mercado interno (R$/bll)
 

Já os investimentos seguem baixos como antes. No primeiro trimestre de 2023 o gasto com investimentos foi de R$ 2,48 bilhões, praticamente igual à média de investimento trimestral do último ano do governo Bolsonaro, que foi de R$ 2,46 bilhões.

Outro componente que persiste como fonte de renda para o lucro da empresa é o dinheiro vindo de privatizações. Neste trimestre entrou R$ 9,64 bilhões advindos de “recebimentos pela venda de ativos - Desinvestimentos”, o que equivale a 25% do lucro líquido do trimestre.
Infelizmente, isto ainda está sendo escoado em forma de dividendos. A Petrobrás aprovou ontem o pagamento de R$ 24,6 bilhões em dividendos. Ou seja, 64% do lucro foi embora novamente em forma de dividendos. Entre 2020 e 2022, 103% do lucro líquido da companhia virou dividendos. Um verdadeiro saque. 

Esta pilhagem continua baseada no cálculo da política de dividendos criado no governo Bolsonaro. Nesta política define-se que, enquanto a companhia tiver uma dívida bruta inferior aos US$ 65 bilhões (hoje está em US$ 53,3 bi), poderá ser distribuído até 60% do fluxo de caixa operacional subtraídos os investimentos (ou na fórmula original: Recursos líquidos gerados pelas atividades operacionais - Aquisições de ativos imobilizados e intangíveis). Nesta conta, distorcida por acrescentar o dinheiro das privatizações, os dividendos pagos neste trimestre equivaleriam a 55% do chamado Fluxo de Caixa Livre ao Acionista.

Em síntese, podemos dizer que os resultados financeiros da Petrobras seguem a mesma tendência de 2021 e 2022, pois: (i) os preços do barril de petróleo e dos derivados seguem altíssimos; (ii) a estatal continua a seguir o PPI como antes; (iii) a estatal continua a receber volumosos recursos advindos de privatizações; e (iv) não se iniciou uma política de investimentos maiores, economizando dinheiro para pagar dividendos.