50 dias sem PPI: o que mudou?

Como estão os preços sem o PPI?

Eric Gil Dantas, economista do Ibeps

Nesta quinta-feira, 6, completaram-se 50 dias desde que a Petrobras pôs em prática a sua nova política de preços em substituição ao Preço de Paridade de Importação (PPI). Com isto já é possível fazer algum tipo de balanço, ao menos preliminar, do que vem sendo esta nova política.

Como todos devem ter lido à época, segundo o comunicado da Petrobras, “A estratégia comercial usa referências de mercado como: (a) o custo alternativo do cliente, como valor a ser priorizado na precificação, e (b) o valor marginal para a Petrobras. O custo alternativo do cliente contempla as principais alternativas de suprimento, sejam fornecedores dos mesmos produtos ou de produtos substitutos, já o valor marginal para a Petrobras é baseado no custo de oportunidade dadas as diversas alternativas para a companhia dentre elas, produção, importação e exportação do referido produto e/ou dos petróleos utilizados no refino”. Outra coisa relevante é que a empresa nomeou apenas a gasolina e o diesel para esta nova política, deixando de fora o GLP e outros derivados.

Para esta avaliação, a fim de não poluir ainda mais o texto com muitos dados, vamos nos restringir a comparar o preço da Petrobras de gasolina, diesel e GLP com duas referências de PPI. A primeira é a da ANP, que é uma média semanal publicada toda terça-feira referente à semana anterior. A segunda é a da ABICOM, que publica a defasagem diária de segunda a sexta-feira para gasolina e diesel. Comparando com estes dois dados poderemos tirar alguma conclusão se o PPI ainda é a referência da Petrobras para precificar seus produtos.

A primeira comparação é da gasolina da Petrobras com o PPI da ANP. Para ser comparável, transformei os dados de preço médio da gasolina da Petrobras em semanal, basicamente fazendo uma média ponderada do preço anunciado pela Petrobras para cada período. Por exemplo, no dia 25 de janeiro a Petrobras aumentou o preço da gasolina de R$ 3,08 para R$ 3,31, sendo assim para esta semana (23/01 a 27/01) fizemos uma média ponderada pela quantidade de dias em que a gasolina custou R$ 3,08 e R$ 3,31. Outro ajuste feito foi utilizar estritamente os dados da ANP de cidades que a Petrobras possui refinarias que ofertam gasolina. Por exemplo, o preço PPI de São José dos Campos, por haver a REVAP, o PPI de Cubatão por lá haver a RPBC. O período utilizado foi a partir do início do ano de 2023. Como a ANP só publicou seu dado até 30 de junho, a comparação com o mais recente corte de 14 centavos pela Petrobras, que começou no dia 1º de julho, ficou de fora. Toda essa lógica também foi aplicada para o diesel.

Como podemos ver na Tabela 1, desde o fim do PPI tivemos o preço da gasolina da Petrobras sistematicamente abaixo desta referência. Enquanto a média do PPI da gasolina para este período foi de R$ 2,82, a Petrobras cobrou um preço médio de R$ 2,73, ou seja, 9 centavos mais barato.

Tabela 1 – Preço médio semanal do PPI (ANP) e preço médio semanal (Petrobras) para gasolina A (02/01/2023 a 30/06/2023)

Período

PPI gasolina

Petrobras gasolina

Diferença

02/01/2023 a 06/01/2023

R$ 3,25

R$ 3,08

-R$ 0,17

09/01/2023 a 13/01/2023

R$ 3,15

R$ 3,08

-R$ 0,07

16/01/2023 a 20/01/2023

R$ 3,37

R$ 3,08

-R$ 0,29

23/01/2023 a 27/01/2023

R$ 3,46

R$ 3,22

-R$ 0,24

30/01/2023 a 03/02/2023

R$ 3,23

R$ 3,31

R$ 0,08

06/02/2023 a 10/02/2023

R$ 3,15

R$ 3,31

R$ 0,16

13/02/2023 a 17/02/2023

R$ 3,25

R$ 3,31

R$ 0,06

20/02/2023 a 24/02/2023

R$ 3,08

R$ 3,31

R$ 0,23

27/02/2023 a 03/03/2023

R$ 3,19

R$ 3,23

R$ 0,04

06/03/2023 a 10/03/2023

R$ 3,27

R$ 3,18

-R$ 0,09

13/03/2023 a 17/03/2023

R$ 3,07

R$ 3,18

R$ 0,11

20/03/2023 a 24/03/2023

R$ 3,07

R$ 3,18

R$ 0,11

27/03/2023 a 31/03/2023

R$ 3,17

R$ 3,18

R$ 0,01

03/04/2023 a 07/04/2023

R$ 3,29

R$ 3,18

-R$ 0,11

10/04/2023 a 14/04/2023

R$ 3,25

R$ 3,18

-R$ 0,07

17/04/2023 a 21/04/2023

R$ 3,11

R$ 3,18

R$ 0,07

24/04/2023 a 28/04/2023

R$ 3,04

R$ 3,18

R$ 0,14

01/05/2023 a 05/05/2023

R$ 2,80

R$ 3,18

R$ 0,38

08/05/2023 a 12/05/2023

R$ 2,74

R$ 3,18

R$ 0,44

15/05/2023 a 19/05/2023

R$ 2,78

R$ 2,94

R$ 0,16

22/05/2023 a 26/05/2023

R$ 2,89

R$ 2,78

-R$ 0,11

29/05/2023 a 02/06/2023

R$ 2,85

R$ 2,78

-R$ 0,07

05/06/2023 a 09/06/2023

R$ 2,87

R$ 2,78

-R$ 0,09

12/06/2023 a 16/06/2023

R$ 2,84

R$ 2,76

-R$ 0,09

19/06/2023 a 23/06/2023

R$ 2,80

R$ 2,66

-R$ 0,14

26/06/2023 a 30/06/2023

R$ 2,66

R$ 2,63

-R$ 0,03

Média pós-PPI

R$ 2,82

R$ 2,73

-R$ 0,09

Fonte: ANP; Petrobras

A mesma tendência pode ser vista para o diesel S-10. Após a mudança na política de preços os valores cobrados pela Petrobras passaram a ficar sistematicamente abaixo do PPI, com uma média de 18 centavos abaixo desta referência no período pós-PPI.

Tabela 2 – Preço médio semanal do PPI (ANP) e preço médio semanal (Petrobras) para dieselS-10 (02/01/2023 a 30/06/2023)

Período

PPI diesel

Petrobras diesel

Diferença

02/01/2023 a 06/01/2023

R$ 4,58

R$ 4,49

-R$ 0,09

09/01/2023 a 13/01/2023

R$ 4,41

R$ 4,49

R$ 0,08

16/01/2023 a 20/01/2023

R$ 4,56

R$ 4,49

-R$ 0,07

23/01/2023 a 27/01/2023

R$ 4,63

R$ 4,49

-R$ 0,14

30/01/2023 a 03/02/2023

R$ 4,15

R$ 4,49

R$ 0,34

06/02/2023 a 10/02/2023

R$ 4,05

R$ 4,26

R$ 0,20

13/02/2023 a 17/02/2023

R$ 4,16

R$ 4,10

-R$ 0,06

20/02/2023 a 24/02/2023

R$ 3,89

R$ 4,10

R$ 0,21

27/02/2023 a 03/03/2023

R$ 4,13

R$ 4,05

-R$ 0,08

06/03/2023 a 10/03/2023

R$ 4,05

R$ 4,02

-R$ 0,03

13/03/2023 a 17/03/2023

R$ 3,96

R$ 4,02

R$ 0,06

20/03/2023 a 24/03/2023

R$ 3,88

R$ 3,95

R$ 0,06

27/03/2023 a 31/03/2023

R$ 3,78

R$ 3,84

R$ 0,06

03/04/2023 a 07/04/2023

R$ 3,78

R$ 3,84

R$ 0,06

10/04/2023 a 14/04/2023

R$ 3,68

R$ 3,84

R$ 0,16

17/04/2023 a 21/04/2023

R$ 3,50

R$ 3,84

R$ 0,34

24/04/2023 a 28/04/2023

R$ 3,30

R$ 3,84

R$ 0,54

01/05/2023 a 05/05/2023

R$ 3,14

R$ 3,46

R$ 0,32

08/05/2023 a 12/05/2023

R$ 3,17

R$ 3,46

R$ 0,29

15/05/2023 a 19/05/2023

R$ 3,18

R$ 3,20

R$ 0,01

22/05/2023 a 26/05/2023

R$ 3,25

R$ 3,02

-R$ 0,23

29/05/2023 a 02/06/2023

R$ 3,19

R$ 3,02

-R$ 0,17

05/06/2023 a 09/06/2023

R$ 3,19

R$ 3,02

-R$ 0,17

12/06/2023 a 16/06/2023

R$ 3,13

R$ 3,02

-R$ 0,11

19/06/2023 a 23/06/2023

R$ 3,26

R$ 3,02

-R$ 0,24

26/06/2023 a 30/06/2023

R$ 3,20

R$ 3,02

-R$ 0,18

Média pós-PPI

R$ 3,20

R$ 3,02

-R$ 0,18

Fonte: ANP; Petrobras

Já no GLP isso não é verdade. Como podemos ver na Tabela 3, a Petrobras vendeu GLP em média R$ 4,54 acima do PPI. E mesmo com o último reajuste do dia 1º de julho, o GLP ainda deve se manter ao menos R$ 4 acima do PPI. Há anos a Petrobras vem cobrando pelo GLP preços acima do PPI, o que não era necessariamente verdade mesmo sob o governo Bolsonaro para a gasolina e o diesel.

Tabela 3 – Preço médio semanal do PPI (ANP) e preço médio semanal (Petrobras) para GLP (02/01/2023 a 30/06/2023)

Período

PPI GLP

Petrobras GLP

Diferença

02/01/2023 a 06/01/2023

R$ 37,49

R$ 42,04

R$ 4,55

09/01/2023 a 13/01/2023

R$ 37,64

R$ 42,04

R$ 4,40

16/01/2023 a 20/01/2023

R$ 40,47

R$ 42,04

R$ 1,57

23/01/2023 a 27/01/2023

R$ 41,99

R$ 42,04

R$ 0,05

30/01/2023 a 03/02/2023

R$ 41,57

R$ 42,04

R$ 0,46

06/02/2023 a 10/02/2023

R$ 41,77

R$ 42,04

R$ 0,27

13/02/2023 a 17/02/2023

R$ 41,68

R$ 42,04

R$ 0,36

20/02/2023 a 24/02/2023

R$ 42,11

R$ 42,04

-R$ 0,07

27/02/2023 a 03/03/2023

R$ 42,86

R$ 42,04

-R$ 0,82

06/03/2023 a 10/03/2023

R$ 40,94

R$ 42,04

R$ 1,10

13/03/2023 a 17/03/2023

R$ 37,30

R$ 42,04

R$ 4,74

20/03/2023 a 24/03/2023

R$ 36,01

R$ 42,04

R$ 6,03

27/03/2023 a 31/03/2023

R$ 36,02

R$ 42,04

R$ 6,02

03/04/2023 a 07/04/2023

R$ 35,53

R$ 42,04

R$ 6,51

10/04/2023 a 14/04/2023

R$ 35,91

R$ 42,04

R$ 6,13

17/04/2023 a 21/04/2023

R$ 36,21

R$ 42,04

R$ 5,83

24/04/2023 a 28/04/2023

R$ 35,13

R$ 42,04

R$ 6,91

01/05/2023 a 05/05/2023

R$ 31,03

R$ 42,04

R$ 11,01

08/05/2023 a 12/05/2023

R$ 30,78

R$ 42,04

R$ 11,25

15/05/2023 a 19/05/2023

R$ 29,72

R$ 36,59

R$ 6,87

22/05/2023 a 26/05/2023

R$ 30,59

R$ 32,96

R$ 2,37

29/05/2023 a 02/06/2023

R$ 29,56

R$ 32,96

R$ 3,40

05/06/2023 a 09/06/2023

R$ 29,07

R$ 32,96

R$ 3,89

12/06/2023 a 16/06/2023

R$ 26,82

R$ 32,96

R$ 6,14

19/06/2023 a 23/06/2023

R$ 27,08

R$ 32,96

R$ 5,88

26/06/2023 a 30/06/2023

R$ 27,42

R$ 32,96

R$ 5,55

Média pós-PPI

R$ 28,42

R$ 32,96

R$ 4,54

Fonte: ANP; Petrobras

Agora vejamos o comportamento destes preços utilizando os dados da ABICOM. Neste caso apenas coletamos e reproduzimos os dados da forma já divulgada pela associação.

Segundo os cálculos da ABICOM, a Petrobras vem cobrando preços abaixo do PPI desde o dia 18 de maio para a gasolina e 17 de maio para o diesel. Em média, a estatal cobrou 23 centavos abaixo do PPI (-7,9%) para a gasolina.

Gráfico 1 – Defasagem do preço da Petrobras para gasolina A em relação ao PPI (em %) (02/01/2023 a 06/07/2023)

 

Fonte: ABICOM

Já para o diesel S-10 a defasagem média a partir do dia 17 de maio até esta quinta-feira foi de 21 centavos (-7%).

Gráfico 2 – Defasagem do preço da Petrobras para dieselS-10 em relação ao PPI (em %)(02/01/2023 a 06/07/2023)

 

Fonte: ABICOM

Com isto, é possível concluir que desde o fim do PPI, no dia 17 de maio, a Petrobras cobra preços sistematicamente abaixo da paridade de importação para a gasolina e o diesel. Mas para o GLP isto não ocorre.

Outras questões devem ser debatidas em textos futuros. Os preços estão suficientemente abaixo do PPI? Afinal de contas, mesmo Bolsonaro manteve preços médios abaixo do PPI. Isto ocorreu obviamente por pressão dos preços recordes à época, e não por convicção. Mesmo assim ainda é importante fazer uma comparação entre governos. Outra questão seria saber se se mantém alguma correlação com os preços internacionais. Como o período de 50 dias é curto, é difícil estabelecer o quão correlacionado está esta nova política ainda está com o PPI. Além disto, também podemos comparar os preços da Petrobras com outras refinarias privatizadas, para mostrar o quão mais barato a estatal vende estes combustíveis desde o fim do PPI. Por fim, é importante questionar o porquê que a Petrobras vende GLP acima do PPI. Há consequências sociais evidentes em manter o preço mais elevado do que o produto importado, haja visto que nos últimos anos houve diminuição no consumo de gás de cozinha e aumento no consumo da lenha.