Por Eric Gil Dantas, economista do Ibeps
Por Eric Gil Dantas, economista do Ibeps
A Petrobrás anunciou ontem o seu resultado para o 2º trimestre de 2023, o primeiro desde o fim do PPI em 17 de maio (ou seja, abarcando metade do resultado). O lucro líquido foi de R$ 28,78 bilhões, 24,6% a menos do que o primeiro trimestre deste ano e 47% a menos do que o mesmo trimestre de 2022. Em termos recorrentes, quando se exclui itens não operacionais e eventos extraordinários que podem distorcer temporariamente os resultados, neste caso o acordo de coparticipação em Sépia e Atapu no pré-sal, a queda em relação ao ano anterior foi de 35,9%.
Os principais fatores explicativos são os preços do barril de petróleo, dólar e dos derivados. O brent (em Reais) caiu 8%, já os preços dos derivados caíram 16,5%. São preços mais próximos ao que a Petrobras praticou no 2º semestre de 2021, e consideravelmente menores do que o pico em 2022.
O fator de utilização das refinarias para o 2º trimestre ficou em 93%, o maior patamar desde 2015, aumentando em 9,4% a produção de derivados se comparado ao trimestre anterior, e 2,1% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (mesmo com duas refinarias privatizadas neste meio tempo). O aumento mais significativo em termos de volume foi o de diesel.
Mesmo com as insinuações nos grandes jornais de que a Petrobras estaria perdendo dinheiro com importações de combustíveis para cobrir a “defasagem”, isto não se verificou no balanço. A estatal diminuiu em 17,6% o custo com importação de derivados.
Os investimentos subiram em relação aos períodos anteriores. Neste segundo trimestre a Petrobras investiu US$ 3,24 bilhões (R$ 16 bilhões), 30,5% a mais do que no trimestre anterior e 5,5% a mais do que no mesmo período do ano passado, puxado principalmente pelo aumento de investimentos no E&P (27,3% em relação ao trimestre anterior), mas também com aumento relevante nos investimentos de refino (+6,7%). Se compararmos o primeiro semestre de 2023, quando houve US$ 5,7 bilhões em investimentos, é um volume 27% superior aos investimentos vistos em média entre 2020 e 2022, que era de US$ 4,5 bilhões.
Já os dividendos diminuíram, devido tanto à nova política quanto por um menor montante do fluxo de caixa livre (FCOL). Pagando agora 45% deste fluxo, a Petrobras anunciou que distribuirá R$ 14,99 bilhões. É verdade que é muito melhor do que distribuir a partir da fórmula antiga, que era de 60% do fluxo de caixa livre e geraria quase R$ 5 bilhões a mais de dividendos, mas ainda assim significa distribuir mais da metade do lucro líquido, prejudicando a capacidade de investimento da companhia em momento de transição energética e de necessidade de substituição de importação de combustíveis por produção local.
Em síntese, o resultado deste trimestre já mostra a mudança de política da empresa. Queda de preços mais agressivas, desde o fim do PPI, maior utilização das refinarias, maior investimento e diminuição no pagamento de dividendos. É verdade que tudo isso em menor intensidade do que deveria e poderia, mas ainda assim mostra um início de guinada importante para a companhia.