70 anos de Petrobrás!

Por Fábio Mello

Por Fábio Mello, coordenador geral do Sindipetro-LP

A Petrobrás chega aos seus 70 anos ainda como uma empresa gigante, apesar das últimas tentativas de apequená-la e privatizá-la. A estatal produz hoje 2,637 milhões de barris de óleo equivalente por dia de petróleo e gás natural. Isso é o dobro de produção do início do século XXI. Este crescimento possibilitou ao Brasil chegar à categoria de país autossuficiente em petróleo, isto é, produzimos todo o petróleo que o país precisa.

Esta marca foi alcançada graças ao Pré-sal, que completou no mês passado 15 anos, e é hoje a grande fonte de petróleo do país. 75% do óleo e do gás natural do país vem de lá.

Descoberto e desenvolvido graças aos esforços e os investimentos da Petrobrás, o Pré-sal foi sim um passaporte para o futuro. Se não fossem seus poços, o Brasil teria apenas um quarto da produção atual. Além disto, nos últimos 15 anos as participações governamentais do Pré-sal já somaram US$ 126 bilhões aos cofres públicos (R$ 630 bilhões no câmbio atual).

E se a Petrobrás pôde explorar e produzir na Amazônia Azul, na Bacia de Santos, ela terá que assumir o grande desafio de ser a responsável pela exploração na Margem Equatorial, região que vai do Amapá até o Rio Grande do Norte. Como única empresa estatal do setor, só podemos confiar nela para que se extraia petróleo e gás natural em uma região tão sensível do ponto de vista ambiental. Com a experiência de produção no Pré-sal e no coração do Amazonas, em Urucu (desde a década de 1980), juntamente com o fato de ser uma empresa do Estado brasileiro, tenho certeza que deve ser a operadora única desta região.
Infelizmente a Petrobrás chegou aos seus 70 anos de existência com alguns atrasos, graças ao Lava-jatismo. O primeiro deles foi a não transformação da autossuficiência em petróleo em autossuficiência em derivados.

O Brasil importa um quarto do diesel e do gás de cozinha que consome, além de pouco mais de 5% da gasolina. Mas a dependência externa só persiste por um motivo, o impedimento da construção de novas refinarias nos últimos anos. Por conta do Lava-jatismo estamos até hoje apenas com a metade da Refinaria Abreu e Lima (PE) e sem as Premium I e II, refinarias que seriam construídas no Maranhão e no Ceará. Se estas construções não tivessem sido boicotadas, não precisaríamos importar nenhum litro de diesel. Com isto, teríamos um PIB maior, mais emprego e uma balança comercial mais favorável.

E, para piorar, o governo Bolsonaro vendeu quatro refinarias da Petrobras: a RLAM (BA), REMAN (AM), SIX (PR) e RPCC (RN). Graças a essas privatizações, os preços de todos os combustíveis nessas regiões aumentaram. Hoje, a refinaria no Amazonas cobra pelo gás de cozinha um preço 44% superior ao da Petrobras.

O quanto isso não se reverteu em miséria e no consumo de lenha? Hoje, na refinaria da Bahia, o diesel está 16% mais caro do que na Petrobras. Na refinaria do Amazonas, está 26% mais caro. Privatizaram para aumentar ainda mais os preços dos combustíveis?

É preciso reverter essas privatizações e retomar o plano de expansão do parque de refino. Só assim garantiremos a tão necessária autossuficiência dos combustíveis a preços justos.

Outro atraso foi na transição energética. A Petrobrás está 6 anos atrasada na transição, enquanto Shell, Total e BP nadaram de braçadas, a nossa empresa foi amarrada ao poste pelas gestões anteriores. Venderam usinas de biodiesel e parques de energia eólica e os volumosos investimentos que a companhia fazia em renováveis foram para o espaço (ou melhor, foi parar no bolso dos acionistas privados em forma de dividendos). Agora estamos correndo atrás do prejuízo.

É preciso retomar os investimentos em biocombustíveis (parte fundamental da transição energética brasileira), retomando a atuação da Petrobrás Biocombustíveis (PBio), e acelerar os investimentos em energia eólica e solar.

Os últimos anos foram difíceis para a maior empresa do país, mas ela sobreviveu. E agora tem um caminho aberto para mais 70 anos de soberania, não mais unicamente como uma empresa de petróleo, mas como uma empresa de energia, que será fundamental para a relocalização do Brasil na economia global e na geopolítica.

Parabéns, Petrobrás! Parabéns a todos os petroleiros e petroleiras que construíram nestas sete últimas décadas o maior dos patrimônios do Brasil!